Estaleiros de Viana do Castelo PAULO PIMENTA
ANDREACRUZ
03/01/2014-00:10
No
primeiro plenário de 2014 ficou decidido voltar a Lisboa, para entregar uma
petição em defesa da empresa e marear uma nova jornada de luta, em Viana,
envolvendo actuais e antigos trabalhadores,
familiares e população.
Os trabalhadores dos
Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) vão regressar, para a semana, a
Lisboa para entregar na Assembleia da
República uma petição em defesa da empresa e para acompanhar a discussão de uma
comissão parlamentar de inquérito à situação da empresa. A decisão de rumar à capital
foi anunciada, ontem, pelo coordenador da comissão de trabalhadores (CT) no
final de plenário geral, o primeiro de 2014 que se prolongou durante mais de
hora e meia.
O documento, que já circula pela cidade e na
Internet há mais de um mês, reúne mais de quatro mil assinaturas, sendo o
primeiro subscritor o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, que ontem passou o dia na empresa, entre reuniões sectoriais e o
plenário geral. A petição, que será
entregue no Parlamento pelas Organizações Representativas dos Trabalhadores
(ORT), classifica a subconcessão da empresa como “um crime minuciosamente
preparado, a executar pelo Governo contra os trabalhadores, a região, a
construção naval e a economia nacional”.
“Ao üquidar uma empresa viável e estratégica da indústria nacional
com capacidade de projecto e tecnologicamente preparada para responder às
exigências de qualidade imposta pelos padrões actuais da construção naval
mundial, o Governo não só prossegue a destruição do tecido produtivo, como
hipoteca o desenvolvimento económico do país e a independência nacional”,
adianta o documento.
Promovida pelos trabalhadores
dos ENVC, a petição, cuja recolha de assinaturas continua entretanto em curso,
defende também que “o Governo tem de responder perante os portugueses pelos
prejuízos que vai causar à economia do país, à região e aos trabalhadores”.
No final do plenário geral de
ontem o coordenador da CT escusou-se a responder às perguntas dos jornalistas.
António Costa limitou-se a ler o texto da moção
aprovada por unanimidade, no qual consta ainda a realização de uma nova
manifestação, em Viana, com actuais e antigos trabalhadores, familiares e
população. O protesto, o oitavo desde Junho de 2011 e o primeiro de 2014, será
decidido em plenário geral já convocado para o próximo dia 9 deste mês.
No documento os trabalhadores
reafirmam o “repúdio” pela decisão do Governo de encerrar a empresa e despedir
os 609 trabalhadores e reiteraram a intenção de não aderir ao plano social para
rescisão amigável dos contratos.
“Alertar os trabalhadores uma
vez mais no sentido de não fazerem ou aderirem a qualquer tipo de acordos, pois
os mesmos podem ser prejudiciais para o seu futuro”, lê-se no texto da moção.
Menos
de 570 no activo
Os ENVC iniciaram, ontem, a
actividade, após a paragem de Natal, com menos de 570 trabalhadores. De acordo
com a administração, estão formalizadas 42 saídas amigáveis, que totalizam mais
de três milhões de euros em indemnizações.
Além dos que já aderiram ao
plano social para rescisão amigável, a administração dos ENVC adiantou que
algumas dezenas também já aceitaram as indemnizações propostas e deverão
assinar os respectivos acordos de rescisão nos próximos dias. As indemnizações
individuais oscilam entre os 6000 e os 200 mil euros e acesso ao subsídio de
desemprego.
O encerramento dos ENVC prevê
o despedimento dos 609 funcionários e a subconcessão dos terrenos, infra-estruturas e equipamentos à Martifer. A assinatura do contrato com o
grupo português está prevista para o próximo dia 7. A partir dessa data, a nova
empresa constituída na sequência da subconcessão, a West Sea, irá começar a
convocar os funcionários dos ENVC para entrevistas de trabalho, prevendo
recrutar 400 trabalhadores em seis meses.
Na moção ontem aprovada em
plenário, as ORT dos estaleiros comprometeram-se
ainda a desenvolver “todos os esforços” para que o
Presidente da República receba os trabalhadores em audiência, pedido que
reclamam há precisamente dois anos. Insistem, porque querem transmitir a Cavaco
Silva “todas as preocupações sociais e laborais que este escandaloso processo
de subconcessão originará para o distrito de Viana de Castelo e para o país”.
O secretário-geral da CGTP
afirmou que ainda existem “todas as condições” para travar este negócio que
classificou de “crime económico e social” que o Governo pretende cometer e
defendeu que “é preciso descobrir quem é que está por trás do testa-de-ferro”
deste negócio.
O testa-de-ferro, já percebemos,
e a Martifer já percebemos que onde a Martifer, por norma, mete a mão, é para
estragar. Já também percebemos que quem está, em termos de grande peso
económico, atrás da Martifer é a Mota-Engil. Já sabemos que a Mota-Engil tem um
espaço privilegiado nas relações com os governos, quer com o anterior, quer com
este. Nós não temos nada contra a Mota-Engil, nem contra a Martifer, agora o
que não aceitamos é que seja a Mota-Engü ou a
Martifer a dar cabo de uma empresa que, para além de ser pública, tem futuro.
Se querem fazer negócio, que façam negócios limpos”, sustentou Arménio Carlos.
“Nuvens escuras”
O líder da Intersindical
adiantou que “são tantas as nuvens escuras que se adensam em torno deste
negócio que só alguém com pouco bom senso ou envolvido neste negócio é que não
[lhe] porá travão”. Arménio Carlos sublinhou que os trabalhadores dos ENVC
continuam “unidos e coesos” e “fortemente empenhados” em prosseguir a luta em
defesa da empresa. Reconheceu o sentimento de “angústia e preocupação” que
afecta os trabalhadores, mas alertou que “não é nada fácil” enfrentar a
“tortura psicológica” a que têm vindo a ser sujeitos por este Governo há quase
três anos. Nesse sentido o líder da CGTP defendeu que o Governo tem de ser
penalizado.
“É uma tortura o que fazem
todos os dias a estes trabalhadores. As pessoas que cometem estas torturas
deviam ser penalizadas, deviam ser julgadas. Eu estou a falar concretamente do
Governo. O Governo não está acima do poder. Tem de respeitar um conjunto de
direitos, liberdades e garantias”, frisou.
O líder da central sindical
considerou que "se justificava” que a criação de uma comissão parlamentar
à situação da empresa “fosse para a frente”, conforme proposta do PCP, e garantiu
que a resistência à concretização deste negócio cada vez “mais nebuloso” não
vai esmorecer.
Iremos até
onde for necessário e até onde as forças nos permitirem. Eles [o Governo] podem
ter a força do poder, mas há uma coisa que os trabalhadores têm - é a força da
razão e a força da razão irá sobrepor-se,
mais cedo do que tarde, à força do poder.”
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