PAULO RICCA/ARQUIVO
NUNO SÁ LOURENCO (http://www.publico.pt/autor/nuno-sa-lourenço) 16/12/2013-22:07
Transferência
da construção de dois navios dos Estaleiros de Viana para a Martifer pode
levantar problemas em Bruxelas. Mas responsável da holding do ministério da Defesa acredita que
recebeu "luz verde informal" da Comissão.
O
presidente
da Empordef assumiu esta segunda-feira que a possibilidade de que a construção
dos dois navios asfalteiros para a Venezuela pela empresa que ganhou a subconcessão
das infra-estruturas
em Viana
do Castelo venha a ser encarada com menor severidade pela Direcção-Geral da
Concorrência (DGCom) da Comissão Europeia.
A DGCom considera relevante para o Estado português que se cumpra o acordo com a PDVSA
[Petroleos de Venezuela]”, disse
esta segunda-feira Vicente Ferreira, da
holding que tutela
financeiramente - entre outras empresas
- os Estaleiros Navais de Viana do Castelo.
A posição do presidente daquela holding foi assumida num encontro com órgão de comunicação social, convocada para explicar
o processo que resultou na liquidação da ENVC e a subconcessão dos terrenos, infra-estruturas e equipamentos à
Martifer por uma renda de 415 mil euros/ano.
A conclusão
da construção dos dois navios foi uma das questões que ficaram pendentes depois
do recuo na reprivatização dos ENVC e da decisão pela subconcessão à empresa
privada Martifer.
Tal como a
transferência dos trabalhadores da construtora naval do Estado para os quadros
da Martifer, a conclusão deste contrato - adjudicado aos ENVC - poderia
levantar problemas de “continuidade económica” por parte da Comissão Europeia e
fazer ruir a solução da liquidação da actual empresa estatal e consequente
subconcessão à Martifer.
Essa
exigência europeia de “descontinuidade económica” que obrigou a que o caderno
de encargos da subconcessão não tivesse qualquer salvaguarda em relação aos
postos de trabalho poderia também aplicar-se à transferência de contratos.
Mas Vicente
Ferreira considerou esta segunda-feira, na sede da Empordef, em Lisboa, que a
Comissão Europeia estava sensível ao princípio de “proteger o interesse
público” nesta questão por estar em causa um “contrato que foi de Estado a
Estado”. E também, acrescentou, por se tratar de “exportação europeia”. Uma
espécie de “luz verde informal”, resumiu o gestor: “Isto faz com que sejam
protegidos os interesses públicos e que não sejam criados mais danos, sem que
se entre em incumprimento.” Segundo o gestor o incumprimento do contrato
representaria "mais de 30 milhões de euros de encargos" para o Estado
português, tendo a DGCom considerado "relevante [Portugal] não ter esse
prejuízo".
Vicente
Ferreira acrescentou ainda que os navios estão em processo de produção em
Viana. Contratualizado em 2010, o contrato prevê a entrega dos navios em 2015,
num negócio de 128 milhões de euros. Sobre a forma de se resolver o problema, o
presidente da Empordef admitiu “várias possibilidades”, classificando a
cedência de posição contratual como “difícil” e a subempreitada como solução
“mais fácil”. Admitiu ter essa negociação encerrada até ao final de Janeiro de
2014.
Aquele
responsável reiterou igualmente que a decisão da subconcessão resultou da
convicção de que a Comissão Europeia iria avançar com um inquérito contra
Portugal que, a concretizar-se, resultaria numa condenação exigindo a devolução
de 181 milhões de euros de auxílios ilegais do Estado. “Era praticamente uma
decisão”, garantiu Vicente Ferreira ao referir-se à decisão da DGCom em “arrancar com um processo”.
Sobre a
questão das ajudas ilegais, Vicente Ferreira revelou ainda que a Empordef e os
ENVC tinham desde Agosto de 2011 um parecer jurídico da autoria da Paz Ferreira
e Associados que alertava para a questão das ajudas ilegais. E que a percepção
no interior do Governo em relação a esses apoios já vinha desde o início do
mandato: “A posição da tutela financeira foi muito clara. Disseram-nos logo na
metodologia inicial que teríamos acesso a auxílios.”
Mas o
responsável aproveitou ainda para defender ser agora o momento para começar a
apurar-se as “causas” de gestão para se ter chegado à presente situação.
“Porque é que os Estaleiros perderam em 2000, 20 milhões de euros, num só
navio? Porque andaram a pagar dezenas de milhões de euros? Porque é que se
comprava até 2011 bens de equipamento sem se respeitar a lei? Porque é que em
dez anos não houve qualquer concurso público para comprar matérias- primas?”, questionou antes de
convidar as “entidades reguladoras” a explicar a sua inacção.
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