Presidente da Câmara de Viana deposita coroa de flores
pela morte da construção naval no país
NUNO RIBEIRO 10/01/2014 – 12:51
A
subconcessão dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) é uma "opção
ideológica", afirmou nesta sexta-feira o ministro da Defesa Nacional, José
Pedro Aguiar-Branco, na sessão de assinatura do contrato entre o Estado e a
empresa do universo Martifer, West Sea. Antes do início do evento, o presidente
da Câmara de Viana do Castelo depositou uma coroa de flores pela morte da
construção naval no país.
"O
Estado não tem de saber construir navios, nem produzir cervejas, nem gerir
empresas do sector das telecomunicações ou reparar aviões." Com estes
exemplos, que dizem respeito às privatizações dos ENVC,
PT ou OGMA, o governante apoiou aquilo que definiu como o
"renascimento" da construção naval em Viana do Castelo.
Aguiar-Branco
recordou que nos últimos 12 anos, a ENVC teve 12 conselhos de administração, 25
navios construídos, prejuízos acumulados de cem milhões de euros. "O
Estado não é solução para os ENVC, nem para a construção naval em
Portugal", reiterou o ministro.
Já Carlos
Martins, administrador da Martifer, afirmou que está convencido do sucesso da
subconcessão, mas foi prudente. "Não vamos desistir, temos o direito de
entrar nos estaleiros", disse face às hipotéticas resistências à tomada de
posse das instalações em Viana do Castelo. "Se isto caísse tudo, com algum
investimento íamos para Aveiro [onde a empresa tem um estaleiro]."
"O
Estado é uma pessoa de bem", prosseguiu o responsável, escusando-se a
comentar o possível não cumprimento do acordo esta sexta-feira. Sobre as
condições que vai oferecer aos trabalhadores, Carlos Martins assegura que os
salários serão idênticos aos até agora praticados, admitindo que estes estavam
"um pouco abaixo do mercado". No entanto, revelou que as actuais
regalias dos trabalhadores dos ENVC não se manterão porque serão ajustadas às
do universo Martifer. Por fim, assegurou que já dois dos 400 trabalhadores já
assinaram contrato.
O que
para Carlos Martins e para os ministros da Defesa e das Finanças é o "renascimento" dos estaleiros, para o presidente
da Câmara de Viana do Castelo, José Maria Costa, é a morte. O autarca chegou ao
forte de São Julião da Barra, em Oeiras, na manhã desta sexta-feira e depositou
uma coroa de flores na Sala da Cisterna, onde fez um minuto de silêncio.
O gesto que
antecedeu a cerimónia de assinatura do contrato de subconcessão dos Estaleiros
Navais de Viana do Castelo (ENVC), presidida pelo ministro da Defesa Nacional,
Aguiar-Branco, foi explicado logo de seguida: "Vim a um velório pelo
encerramento da construção naval", disse José Maria Costa. De seguida, o
autarca socialista saiu da sala e, imediatamente, as flores foram retiradas.
José Maria
Costa já havia anunciado que estaria presente no evento para ter a oportunidade
de falar com o ministro, a quem pediu uma audiência no passado dia 2 de Abril
de 2013.
Aguiar-Branco
considerou o gesto um "facto menor" e "mediático", ao que o
edil retorquiu, em declarações no final e já no exterior da Sala da Cisterna
como "um acto mediático que demonstrou que ele [o ministro] fez uma
opção".
O presidente
da câmara admitiu que alguns dos trabalhadores poderão rumar aos estaleiros de Vigo, em Espanha, e concluiu: "Fui convidado
para a sessão a que assistimos à morte dos ENVC. O senhor ministro vai ser
responsável pelo encerramento de uma tradição pois o contrato para a utilização
do espaço é apenas para a reparação naval."
Recorde-se
que o advogado Garcia Pereira está a preparar uma providência cautelar
para suspender a concessão dos estaleiros.
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