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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Um novo Resgate é melhor do que o Regresso ao Mercado Financeiro


O Economista Português
Um blog de Economia política e de Política Económica

Publicado em Outubro 23, 2013
Se conseguires nadar, nada; se não conseguires, vai ao fundo (Schiller, citado por Grosz)

O nosso Governo apresenta-nos o regresso ao mercado financeiro com o paraíso na terra e aponta o próximo resgate como o pior dos mundos futuros. Queira o leitor ter o máximo cuidado neste campo semanticamente minado: resgate foi bail out (resgate exterior) e agora é empréstimo condicionado; mas a propaganda prefere de momento chamar-lhe programa cautelar, que evita a dolorosa palavra empréstimo e sugere que basta um pouco de cautela para voltarmos a enriquecer. A propaganda erra: o resgate é melhor para nós do que o regresso ao mercado. Veja porquê.

Num empréstimo, há a distinguir o quantitativo, o juro e o prazo de reembolso. Para o ano Portugal precisará de 30 mil milhões de euros. Essa quantia não varia em função do tipo de soluções creditícias, varia em função das nossas necesssidades a médio prazo foi de quase 6%, um valor insustentável. O que pagamos de juro à troika é cerca de metade do que pagámos ao mercado. Com o défice elevado, a dívida elevada (mais do quíntuplo do PIB) e sem crescimento económico. Portugal é um risco elevado e o mercado financeiro far-nos-á pagar caro o seguro desse risco. Para os nossos credores, é preferível emprestarem-nos dinheiro no mercado financeiro do que através de empréstimos estatais: estes vencem menos juros.
O prazo de reembolso é mais negociável com os nossos credores oficiais do que com o mercado. Aliás, a política do governo Passos Coelho, depois da saída do Doutor Vítor Gaspar, esqueceu por completo o mercado e pensa apenas no nos nossos credores oficiais.


O governo diz: teremos um empréstimo oficial para regressarmos aos mercados e regressaremos. É pura fantasia – e é fazer o jogo do Sr. Draghi e do seu Banco Central Europeu (BCE) que acena ao governo com as famosas OMT, as compras imediatas de dívida, o programa anunciado o ano passado e que nunca foi aplicado; nem foi nem será: é um programa que só compra dívida a Estados em bancarrota e ao mesmo tempo financeiramente prósperos. É uma contradição nos termos e por isso o truque do «programa cautelar» nunca se tornará realidade. O Doutor Gaspar tentou antecipadamente esse programa cautelar, falhou porque o Sr. Draghi e Berlim não o aceitaram e foi à vida. Com o seu actual orçamento do Estado e as dívidas da Pátria (Dívidas públicas e privadas), Portugal só pode sonhar com o regresso aos mercados se o BCE funcionar com o nosso banco central (deixámos de ter banco central quando entrámos para o euro). Pelo andar da carruagem, isso ocorrerá no dia de São Nunca à tarde. É também inverosímil a ameaça do bail in, aplicada em Chipre, em que os credores internos pagaram a crise: entre nós, abriria por certo o caminho a soluções políticas violentas.

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