O Economista Português
Um blog de Economia política e de Política Económica
Publicado em Outubro 23, 2013
O nosso Governo apresenta-nos o
regresso ao mercado financeiro com o paraíso na terra e aponta o próximo
resgate como o pior dos mundos futuros.
Queira o leitor ter o
máximo cuidado neste campo
semanticamente minado: resgate foi bail out (resgate exterior) e agora é
empréstimo condicionado; mas a propaganda prefere de
momento chamar-lhe programa cautelar, que evita a dolorosa palavra
empréstimo e sugere que basta um pouco de cautela para
voltarmos a enriquecer. A propaganda erra: o resgate é melhor para nós do que o
regresso ao mercado. Veja porquê.
Num empréstimo, há a distinguir o quantitativo, o juro e o prazo de
reembolso. Para o ano Portugal precisará de 30 mil milhões de euros. Essa quantia não varia em função do tipo de
soluções creditícias, varia em função das nossas necesssidades a médio prazo foi de quase 6%, um valor insustentável. O que pagamos de juro à
troika é cerca de metade do que pagámos ao mercado. Com o défice elevado, a
dívida elevada (mais do quíntuplo do PIB) e sem crescimento económico. Portugal
é um risco elevado e o mercado financeiro far-nos-á pagar caro o seguro desse
risco. Para os nossos credores, é preferível emprestarem-nos dinheiro no
mercado financeiro do que através de empréstimos estatais: estes vencem
menos juros.
O prazo de
reembolso é mais negociável com os nossos credores oficiais do que com o
mercado. Aliás, a política
do governo Passos Coelho, depois da saída do Doutor Vítor Gaspar, esqueceu por
completo o mercado e pensa apenas no nos nossos credores oficiais.
O governo
diz: teremos um empréstimo oficial para regressarmos aos mercados e regressaremos. É pura fantasia – e é
fazer o jogo do Sr. Draghi e do seu Banco Central Europeu (BCE) que acena ao governo com
as famosas OMT, as compras imediatas de dívida, o programa anunciado o ano
passado e que nunca foi aplicado; nem foi nem será: é um programa que só compra
dívida a Estados em bancarrota e ao mesmo tempo financeiramente prósperos. É uma
contradição nos termos e por isso o truque do «programa cautelar» nunca se
tornará realidade. O Doutor Gaspar tentou antecipadamente esse programa
cautelar, falhou porque o Sr. Draghi e Berlim não o aceitaram
e foi à vida. Com o seu actual orçamento
do Estado e as dívidas da Pátria (Dívidas públicas e privadas), Portugal só
pode sonhar com o regresso aos mercados se o BCE funcionar com o nosso banco
central (deixámos de ter banco central quando entrámos para o euro). Pelo
andar da carruagem, isso ocorrerá no dia de São Nunca à tarde. É também inverosímil a ameaça do bail
in, aplicada em Chipre, em que os credores internos pagaram a crise:
entre nós, abriria por certo o caminho a soluções políticas violentas.
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