Olli Rehn
diz que o momento mais difícil do programa português foi a demora na
apresentação do pedido de ajuda GEORGES GOBET/AFP
ISABEL
ARRIAGA E CUNHA (http://www.publico.pt/autor/isabel-arriaga-e-cunha)
BRUXELAS
Comissário
europeu nega que cortes nas pensões e privatizações da EDP e da REN tenham sido
imposições dos credores internacionais a Portugal
Os cortes
operados nas pensões de reforma em Portugal, a par da venda da EDP e da REN aos
chineses, resultaram de decisões do Governo português, afirmou nesta segunda-feira Olli Rehn,
comissário europeu responsável pelos assuntos económicos
e financeiros, negando implicitamente que estas medidas tenham sido impostas pela troika
de credores internacionais.
No caso da
privatização da empresa de distribuição de energia
(EDP) e da rede eléctrica (REN), tratou-se de uma “decisão do
Governo português no quadro do programa” de ajuda externa, afirmou Rehn durante
uma audição no Parlamento Europeu (PE) e em resposta
a uma pergunta da eurodeputada socialista portuguesa Elisa Ferreira. A redução
das pensões “também é uma decisão do Governo português em diálogo com as
instituições” da troika de credores (Comissão Europeia, Banco Central
Europeu e Fundo Monetário Internacional), garantiu.
O comissário estava a ser ouvido no quadro
da investigação em curso no PE sobre a legitimidade democrática da acção da troika
na negociação e no acompanhamento dos programas de ajustamento económico e
financeiro assumidos por Portugal, Grécia, Irlanda e Chipre em troca de
assistência financeira da zona euro e do FMI.
Segundo Rehn, o momento mais difícil do
programa português foi a demora na apresentação do pedido de ajuda por parte do
Governo de José Sócrates, que só surgiu muito depois de a zona euro
ter constatado que se tornara inevitável.
“Tivemos muitos períodos de desafio com
Portugal, mas penso, de facto, (...) que o pior, ou o mais crítico, foi no
período que antecedeu o programa porque tivemos muitas discussões com o
ministro das Finanças de Portugal muito muito antes” de Lisboa ter apresentado
o pedido, afirmou em resposta a uma pergunta de Diogo Feio, do CDS.
Isto porque, precisou, “já era muito claro
algures em 2010 que a menos que Portugal assumisse uma acção muito forte em
termos de reformas económicas e de consolidação” orçamental iria enfrentar
taxas de juro “proibitivas” que o afastariam do mercado da dívida.
Face à bateria de perguntas dos eurodeputados
sobre a legitimidade da troika e das políticas impostas pelas suas
instituições aos países ajudados, o comissário afirmou que a criação desta
instância informal foi decidida, há quatro anos, pelos governos da zona euro
sob uma pressão “extrema” no plano político e de calendário na altura em que a
Grécia, à beira da bancarrota, pôs a moeda única europeia em risco.
“A Europa teve de criar rapidamente
estruturas que não estavam previstas”, nomeadamente com a criação de um fundo
de socorro para estabilizar os países em dificuldades, a par da troika,
para conduzir os processos de ajustamento económico e financeiro associados à
ajuda. “No pico da crise foi preciso fazer compromissos”, acrescentou.
Apesar destas “limitações”, a troika
“funciona relativamente bem”, nomeadamente porque permitiu a combinação da
experiência das três instituições que a compõem, defendeu Rehn. O comissário
deixou aliás implícito que o FMI, cuja presença na troika foi imposta pela
Alemanha, deverá continuar presente mais algum tempo, citando em favor desta
tese o apoio “inequivocamente favorável” expresso pelo novo ministro - social-democrata
- alemão Frank-Walter Steinmeier.
Para Rehn, a troika “não é o
problema, mas o início da resolução do problema” provocado pela acumulação de
desequilíbrios macroeconômicos em vários países. “Os problemas dos países
sob programa começaram muito antes do programa, e o programa teve de resolver
estes problemas, não o contrário”, afirmou, considerando que esta situação “é
muitas vezes esquecida no debate actual”. Em 2010, quando a extensão dos
problemas orçamentais da Grécia começou a ser conhecida, a zona euro poderia
ter optado por uma “queda livre e incumprimento desordenado” da dívida grega, o
que “teria sido pior para a Grécia e para a Europa”, sustentou.
Segundo o comissário, ainda, os programas
que correram mal, como na Grécia, resultaram da “turbulência política” do país
entre 2010 e as eleições legislativas de Junho de 2012. Foram igualmente as
crises políticas que tornaram inevitáveis os erros sucessivos das previsões
económicas da troika, sustentou.
“O grau excepcionalmente elevado de
incerteza” vivido pela zona euro nomeadamente em 2011 e 2012 teve um impacto na
procura interna, afirmou, citando o caso específico da Grécia e de Itália em
que a turbulência foi tal que provocou o “descarrilamento” das previsões
económicas.
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