Grupo técnico criado
pelo Governo tem por missão tornar definitivos cortes da CES. Pensões baixam
sempre
O
grupo de Trabalho interministerial criado, esta semana, pelo Governo tem como
missão única a tarefa de tornar definitivos os cortes das
pensões que vigoram desde 2013 com a introdução da Contribuição Extraordinária
de Solidariedade (CCS). Na prática os reformados com pensões acima de 1000
euros poderão nunca mais voltar a receber a reforma que inicialmente lhes foi atribuída
pelo Estado.
Está
nas entrelinhas do comunicado do último Conselho de Ministros, mas passou
despercebido no meio do anúncio do alargamento da CES às pensões acima dos 1000
euros e dos mais 80 mil pensionistas que serão, este ano, atingidos pelos
cortes. O texto refere um “grupo de Trabalho Interministerial coordenado pelo secretário
de Estado da Administração Pública e com técnicos da CGA e da Segurança Social
com a tarefa de fazer uma “reforma duradoura do sistema de pensões”. Explica
que serão chamados constitucionalistas e especialistas em Segurança Social, refere-se que estudarão “os
critérios definidos no acórdão do Tribunal Constitucional” sobre o diploma da
convergência das pensões. Não esclarece, porém, que o objetivo único do
grupo de
trabalho é estudar uma alternativa “duradoura” à CES, isto é, uma nova medida
que torne definitivos os cortes que, «os dois últimos Orçamentos do Estado, incidiram
sobre os pensionistas e foram apresentados como provisórios, mas necessários
face à crise que Portugal atravessa.
Isso
mesmo foi confirmado ao Expresso por fonte oficial, que adiantou ainda que a
tarefa do grupo de trabalho nada tem a ver com a comissão de reforma do sistema
de Segurança Social, dedicada a prever as alterações globais do sistema e, em concreto, a
possibilidade de no futuro, ser estabelecido um plafonamento do valor das
pensões a pagar pelo Estado. A reforma da Segurança Social é um dos compromissos
do programa do Governo e um produto acordado no memorando com a troika. A ideia é garantir a
sustentabilidade do sistema, mas também assegurar a averiguar a capacidade de
escolha das pensões a receber pelas gerações que futuramente entrem no mercado
de trabalho.
A
ideia de cortar pensões atualmente em pagamento também não é nova. O Governo,
aliás, tentou no diploma da convergência tornar definitivos os cortes da CES e,
na prática, propunha-se reduzir o valor das reformas atribuídas aos atuais
pensionistas, desde que elas ultrapassassem os €675. A medida era, na prática, permanente - só seriam
retomados os valores anteriores das pensões se o ritmo de crescimento económico do país disparasse.
Um cenário difícil de atingir.
Mas
nem o Presidente da República nem o Tribunal Constitucional gostaram da ideia.
Um “chumbo” do TC veio acabar com estes cortes que muitos consideravam retroativos, por alterarem o
valor inicialmente acordado entre o Estado e o pensionista no momento da sua
passagem á aposentação.
Mas
o alívio não foi duradouro. No último mês, o Governo estudou medidas para tapar
o buraco de € 388 milhões aberto pelo chumbo da convergência das
pensões. Esta semana, e depois de afastar um no aumento do IVA, o Conselho de Ministros
encontrou a forma de resolver o buraco; alargou o CES
a pensionistas com reformas acima dos 1000 euros e antecipou o aumento da
contribuição dos trabalhadores do Estado para a ADSE de 3,5% em 2016 - já para o
corrente ano. Ao todo «são mais 140 mil pensionistas que no ano passado a pagar
CES.
Os
mais afetados
são os
ex-funcionários públicos que, por terem em média pensões duas vezes mais
altas do que os reformados do sector privado, são, de facto, quem mais
engrossa as estatísticas da CES, Haverá este ano 362.577 reformados do Estado
a sofrerem cortes das suas pensões, contra 130.381 da Segurança Social. Alvo de cortes são ainda as
pensões mais elevadas. Em nome da "equidade” e da “repartição de sacrifícios”
também todos os 27 mil que recebem mais de €4600 de reforma serão atingidos
com duros
cortes
de 25% e 40%.
O
ex-ministro Bagão Félix é que continua a não acreditar nas contas. Depois de o
ter dito na semana passada ao Expresso, ontem reiterou ao Negócios que a nova
CES não chega para preencher o buraco orçamental.
ROSA PEDROSO LIMA
CES pode voltar ao
Constitucional
Belém já teve
dúvidas no passado sobre o corte das pensões em pagamento. A nova CES será
analisada a pente fino pela
Presidência.
Não
é de excluir que o diploma da o nova Contribuição Extraordinária de
Solidariedade (CES) com que o Governo se propõe substituir o chumbo da convergência
das pensões possa ir parar de novo ao Tribunal Constitucional (TC) e pela mão
do Presidente da República.
Ao
que o Expresso apurou, apesar de não ser ainda conhecida a versão do diploma
nem a fórmula definitiva da CES, a disposição em Belém é que “a questão precisa
de ser analisada de novo e não pode ser decidida sem reflexão”. Ou seja, a
“nova” CES terá de ser aferida com os fundamentos com que o TC avalizou a antiga no ano passado, nomeadamente
em relação aos princípios da proporcionalidade e da transitoriedade, argumentos
que o tribunal então considerou quando o Presidente pediu a fiscalização sucessiva
do Orçamento do Estado.
O
Governo acredita, porém, ter encontrado urna solução “blindada constitucionalmente”.
Uma das preocupações das Finanças e da Segurança na elaboração da nova
proposta de cortes das pensões foi levar em linha de conta o último acórdão do
TC que chumbou por unanimidade a convergência.
Aliás,
o ministro da Segurança Social fez questão de sublinhar na conferência de imprensa do anúncio
da medida que o Governo “não mexeu na arquitectura, nem nas taxas” da antiga CES,
aplicada em 2013 e validada pelos Juízes do Constitucional. Ao contrário do
que chegou a ser estudado no interior do Governo, o montante de cortes a
aplicar varia entre os 3,5% e os 10% exatamente como foi feito no ano passado. Afastado
ficou um cenário de criação de uma taxa mais baixa (2,5%) para as pensões mais reduzidas e de uma
taxa mais alta (12%) para as reformas mais elevadas.
Adicionalmente, e também com o objetivo de evitar riscos
constitucionais, foi abandonada a hipótese de fazer incidir o CES sobre
pensões abaixo dos mil euros. Como o Expresso noticiou na última edição, o
Governo tomou em linha de conta as referências feitas por duas juízas nas suas
declarações de voto, para quem nem a Irlanda nem a Grécia cortaram pensões abaixo
dos €1000, nem a própria Segurança Social usa um valor inferior para cálculo
da comparticipação do Estado no apoio a idosos carenciados.
L.M. e R.P.I..
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