LUSA
06/01/2014 - 18:32
Ministro das Finanças diz que “a zona
euro não diagnosticou a tempo as causas da crise na Grécia e no sul da Europa
Grécia acusou a troika
de ter feito cálculos
incorrectos sobre a aplicação das medidas de austeridade no país e os seus efeitos na economia
grega.
As críticas são feitas pelo ministro das
Finanças, Stournaras, numa resposta escrita à delegação
do Parlamento Europeu que está a avaliar a gestão da
crise por parte da troíka,
composta pela Comissão Europeia, Banco
Central Europeu e
Fundo Monetário Internacional
(FMI).
Segundo o ministro, “a zona euro não diagnosticou a tempo as causas da crise na
Grécia e no sul da Europa" e o programa de austeridade foi aprovado num
momento em que o país se encontrava em recessão, "o que provocou
dificuldades adicionais, já que (...) os ajustamentos estruturais são
mais fáceis de aplicar em períodos de crescimento económico".
O primeiro programa colocou "grande
ênfase" no aumento de impostos e não na redução da despesa, referiu o
ministro, sublinhando que a luta contra a evasão fiscal "deveria ter
começado muito antes".
Para o ministro grego, os cálculos que
constavam do primeiro resgate, em Maio de 2010, eram "muito optimistas"
quanto à redução do défice, à redução da dívida (as previsões indicavam que
seria equivalente a 150% do PIB em 2013 e foi de 175%)
e quanto ao regresso ao crescimento, dado que se acreditava que a Grécia
deixaria de estar em recessão em 2012, quando o PIB continuou a cair
mesmo no ano passado.
Este erro de avaliação deveu-se em
parte, segundo Stournaras, "ao baixo multiplicador fiscal utilizado (pela troika),
como já reconheceu o próprio FMI".
Outra das queixas refere-se ao
"período muito apertado" que o governo teve para levar a cabo as
exigências do primeiro programa de ajustamento: sete meses para reformar o
sistema de pensões, a administração local, o sistema de negociação colectiva e
a saúde pública.
O ministro das Finanças grego também acusa "vários
agentes" de terem "um papel muito negativo" ao mencionarem
constantemente a possível saída da Grécia do euro, "declarações que
agravaram a crise grega" já que levaram à retirada "de grandes
quantidades de depósitos bancários causando problemas de liquidez" e
"desencorajaram o investimento".
Os erros de cálculo, as medidas de
austeridade e a profunda crise levaram a um recuo de 25% do PIB desde
2009, algo que "nunca se verificou num país desenvolvido, com excepção dos
Estados Unidos durante a Grande Depressão".
Os rendimentos dos gregos caíram um terço em
seis anos, 35% da população está em risco de pobreza ou exclusão social e o
desemprego chegou a 27%, com dois em cada três desempregados sem trabalho há
mais de um ano.
O ministro reconhece que o impacto das
medidas "não foi igual" para os diversos grupos sociais e admite que
os programas de austeridade não foram suficientemente debatidos a nível social
devido à necessidade urgente dos fundos de resgate.
Por esse motivo, "o poder de negociação
era débil", considera Stournaras, que se manifesta apesar de tudo
satisfeito com "o impressionante ajustamento" feito pela Grécia e
assegura que a cooperação com a troika tem sido efectivo, mesmo com
"disputas e divergências".
Questionado sobre se as exigências da troika
violam as leis gregas, o ministro das Finanças referiu que há várias
contestações ainda pendentes nos tribunais.
As conclusões da avaliação ao trabalho da troika,
que também abrange Portugal, serão apresentadas em Abril.
A Grécia ainda está a cumprir o segundo
programa de assistência, aprovado em 2012, e está previsto que a troika
regresse a Atenas no próximo dia 15.
Sem comentários:
Enviar um comentário