O presidente da Empordef
(à esquerda) assinou o contrato com o gestor da Martifer, Carlos Martins (ao
centro) RUI GAUDÊNCIO
NUNO RIBEIRO – 10/01/20145
– 21:21
Gestor
da concessionária admitiu que foi contactado pelo Governo antes do concurso. “Nunca
imaginámos que ficássemos sozinhos”, disse
A West
Sea, empresa do grupo Martifer que ontem assinou com o Estado o contrato de
subconcessão dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENCV), admite
transferir trabalho destas instalações para Aveiro caso se lhe deparem
dificuldades.
Quem o
afirmou foi Carlos Martins, presidente da Martifer, no final da cerimónia que
decorreu ao fim da manhã no Forte de São Julião da Barra, em Oeiras.
“Vamos
entrar nos estaleiros de forma pacífica, vamos para lá de boa vontade”, disse o
responsável da West Sea. “Temos o direito de entrar no que é nosso, não vamos
desistir. Se isto caísse tudo, com algum investimento íamos para Aveiro”,
anunciou. Aliás, Carlos Martins revelou a existência de complementaridade das
instalações da Navalria de Aveiro, com a ENVC.
As dificuldades a que se referia
o novo homem forte dos estaleiros de Viana do Castelo são a não resolução dos
vínculos contratuais, ou seja, a aceitação pelos 609 trabalhadores do estaleiro
minhoto das indemnizações por despedimento a que o Estado se comprometeu e para
as quais reservou 31 milhões de euros. Recorde-se que 230 dos operários passam
directamente à reforma com direito a indemnização. “Se o Estado não cumprir o
contrato, é um problema do Estado”, disse, para de seguida se mostrar
confiante: “O Estado é uma pessoa bem.”
Nos
planos da empresa está o recrutamento ao longo deste ano de 400 trabalhadores,
a maioria oriundos dos ENVC. “A partir de hoje já estamos a recrutar”,
anunciou, revelando terem sido feitas duas contratações. Quanto às condições
contratuais, admitiu que os salários propostos são idênticos aos até agora
auferidos, que classificou como “um pouco abaixo do mercado”. Já diferentes
serão as regalias. Disse, sem especificar, “que serão iguais às praticadas no
universo da Martifer”.
Quanto à
carga de trabalho que procura para os ENVC, Carlos Martins centrou o foco nas
plataformas de off-shore para a exploração petrolífera e de gás. “A partir de
agora só depende de nós”, insistiu. Admitiu, também, o interesse por navios de
protecção de costa para aproveitar o know how e, “com o apoio da Armada
portuguesa vender navios de patrulha oceânica a outros países”. Recorda-se que
por decisão do actual ministro da Defesa Nacional, José Pedro Aguiar- Branco,
foram retiradas aos ENVC as encomendas de oito patrulhas oceânicos e de oito
lanchas de fiscalização costeira. Um cancelamento justificado por necessidades
orçamentais. Ou seja, medidas de austeridade.
“Nós
fomos a esta concessão porque quisemos”, afirmou o gestor. “É evidente que nós
fomos contactados por este Governo a perguntar se queríamos ir, mas nunca
imaginámos que ficássemos sozinhos”, admitiu. E reiterou: “Este activo
(Estaleiros Navais de Viana do Castelo) é importante para a nova estratégia da
Martifer.” Sobre a actividade da sua empresa nos últimos anos, o responsável
reconheceu dificuldades: “A Martifer teve quatro anos muito difíceis na
Península Ibérica, tivemos de ir à procura de novos mercados. Esperamos que nos
próximos anos as coisas voltem ao que foram”.
Ao
concluir a sua intervenção, antes do acto de assinatura do acordo de
subconcessão, Carlos Martins mostrou-se surpreendido
pelas reacções à entrada da sua empresa nos ENVC: “Nunca imaginei que tanta
coisa se escrevesse e se dissesse”. E fez uma profecia: “Que não sejam precisos
cinco anos para concluir que valeu a pena.”
O
ministro da Defesa Nacional também manifestou mal-estar pelas reacções
provocadas pelo negócio: “Nas últimas semanas foram ditas as coisas mais
absurdas sobre este processo.” Sobre as críticas da oposição ripostou que “há
quem esteja sempre à procura de problemas; nós, o governo, de soluções”.
E,
segundo Aguiar-Branco, o contrato ontem assinado foi a solução.
Fez um
vasto elenco: “O Estado não tem de saber construir navios. Tal como não tem de
produzir cervejas e, por isso, privatizou a UNICER na década de 8o. Não tem de
saber prestar serviços de telecomunicações e, por isso, privatizou a Portugal
Telecom nos anos 90. Não tem de saber reparar aviões e, por isso, privatizou as
OGMA (Oficinas Gerais de Material Aeronáutico) em 2004”. Sobre os estaleiros de
Viana do Castelo admitiu uma nuance - “a reprivatização não foi possível por
condições alheias à vontade do Governo” -, mas concluiu no mesmo tom: “O Estado
foi o problema.”
E, com
estas premissas, definiu a nova situação: “É por isso que esta subconcessão é,
também, uma opção ideológica.” Porque, afirmou, os ENVC “são um exemplo do
Estado como gestor, do falhanço de um modelo ideológico”.
No seu
discurso, o ministro referiu o custo dos estaleiros para os contribuintes e
destacou que lá “estavam 600 trabalhadores sem trabalho para realizar.” Mostrou-se
nada preocupado com a providência cautelar anunciada por uma acção
popular a que se admite associar a Camara de Viana do Castelo: “Estamos 100% confiantes
de que não há ilegalidade, irregularidade e, muito menos, de incidência
criminal, pois cumprimos todas as regras”. Fez votos de sucesso para a West
Sea: “Que saiba explorar o potencial daquela infra-estrutura física e dos
recursos humanos que vier a contratar.”
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