Caminhos
de Maria Luís Albuquerque e Elsa Roncon Santos cruzaram-se, pela primeira vez, na Refer
há mais
de uma década ENRIC VIVES-RUBIO
RAQUEL
ALMEIDA CORREIA 13/01/2014
- 07:55
Elsa Roncon Santos e toda a sua equipa
fazem parte do grupo de candidatos aos lugares que pediram para abandonar há
seis meses, na sequência da polémica dos contratos swap e das mudanças no Governo.
Depois de ter pedido a demissão,
a directora-geral do Tesouro voltou a
concorrer ao cargo. Elsa Roncon Santos é uma das candidatas a um lugar que
decidiu abandonar em Julho de 2013, na sequência da polémica dos swaps e de mudanças no
Governo que levaram à nomeação de Joaquim Pais Jorge para secretário de Estado.
À semelhança desta responsável, que foi superior hierárquica da actual ministra
das Finanças na Refer, toda a sua equipa está a concurso num procedimento
lançado no início de Dezembro.
O PÚBLICO confirmou que Elsa Roncon Santos candidatou-se
a directora-geral da Direcção-Geral do Tesouro
e Finanças (DGTF), a entidade que apoia o
Ministério das Finanças na supervisão e gestão das empresas públicas e do
património do Estado. Embora esteja demissionária há mais de seis meses, nunca
chegou a abandonar as funções. Aliás, os três subdirectores-gerais do
organismo, que também apresentaram a demissão em Julho e estavam a
aguardar pelo concurso para concretizar
a saída, são igualmente candidatos aos cargos.
O concurso
para a DGTF, que é da responsabilidade das Finanças, foi publicado em Diário da
República a 2 de Dezembro e o limite para apresentação de candidaturas terminou
no dia 17 desse mês. Neste momento, está nas mãos da Comissão de Recrutamento e
Selecção para a Administração Pública (Cresap), que tem a cargo este tipo de
processos desde 2012. A avaliação que é feita por este organismo, e, após uma
fase de entrevistas que ainda não começou, dará posteriormente origem a uma
lista com os três melhores candidatos, dos quais a tutela escolhe um. Ao que o
PÚBLICO apurou, haverá menos de uma dezena de pessoas a concurso.
Já o procedimento
relativo aos três subdirectores-gerais foi publicado a 3 de Dezembro e a fase
para candidaturas terminou no dia 18. Maria João Araújo, Pedro Ventura e
Bernardo Alabaça, que faziam parte da equipa liderada por Elsa Roncon Santos, e
que se mantém em funções,
também ainda aguardam que o procedimento arranque dentro da Cresap. A
expectativa é que possa estar concluído entre Março e Abril.
Divergências e ligações
A
recandidatura da directora-geral demissionária e da sua equipa está a causar
estranheza, não só pelo facto de terem apresentado a demissão há seis meses,
mas pelo contexto em que esta surgiu. Elsa Roncon Santos entregou a carta de
demissão a 1 de Julho de 2013, precisamente o mesmo dia em que se demitiu Vítor
Gaspar, ex- ministro das Finanças
substituído por Maria Luís Albuquerque.
Quinze dias
depois, numa audição na comissão parlamentar de inquérito aos swaps, a
responsável afirmou apenas que a sua saída estava relacionada com “motivos
pessoais”.
Na altura, a
decisão foi associada a esta polémica dos derivados subscritos por empresas
públicas para cobrir o risco de variação das taxas de juro dos empréstimos, que
acumularam perdas potenciais superiores a 3300 milhões de euros, tendo cerca de
60 contratos sido considerados especulativos numa auditoria conduzida pela
Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP). Um mês antes da
demissão de Elsa Roncon Santos, a ministra das Finanças tinha solicitado, ainda
enquanto secretária de Estado do Tesouro, uma auditoria interna à DGTF, para
avaliar qual o grau de conhecimento sobre estes produtos e a forma como o
organismo actuou.
Essa
auditoria, e uma segunda pedida por Maria Luís Albuquerque à Inspecção-Geral de
Finanças (IGF), vieram a comprovar que o actual Governo teve conhecimento do risco
de prejuízo e de parte das características dos swaps logo em Agosto de
2011, com a publicação de um boletim financeiro sobre as empresas públicas. As
auditorias revelavam ainda uma ruptura entre os dois organismos, com a IGF a
acusar a DGTF de não respondido a pedidos de informação e ao agendmento de uma
reunião para discutir o tema.
Na altura em
que a demissão foi conhecida, o PÚBLICO apurou que esta também estaria
relacionada com a remodelação governamental precipitada pela saída de Vítor
Gaspar. É que, com a subida de Maria Luís Albuquerque a ministra das Finanças,
foi necessário nomear um novo secretário de Estado do Tesouro. Elsa Roncon
Santos estaria na expectativa de ser escolhida para o cargo e terá entrado em
conflito com Maria Luís Albuquerque por esta ter optado por Joaquim Pais Jorge,
ex-presidente da
Parpública, que acabou por pedir a demissão um mês depois, por causa da
polémica dos swaps.
Elsa Roncon
Santos foi nomeada directora-gerl da DGTF pela actual ministra das Finanças, em
Agosto de 2011. A carreira das duas cruzou-se no início do milénio, quando
Maria Luís Albuquerque chegou à direcção financeira da Refer. Nessa altura,
Roncon Santos era administradora da gestora da rede ferroviária nacional, com o
pelouro das finanças. O percurso desta última responsável foi quase todo feito,
aliás, em empresas públicas do sector dos transportes infra-estruturas, como a Metro de Lisboa e a CP. Actualmente, é
presidente da mesa da assembleia geral da Parpública.
Nomeações em série no fisco
Na passada
sexta-feira, o Ministério das Finanças nomeou dez novos responsáveis para
cargos na Autoridade Tributária e Aduaneira, mas todos em regime de
substituição. A publicação em série destes despachos resulta do facto de a
tutela não ter enviado os concursos públicos do fisco no prazo que tinha sido
definido pela Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Pública
(Cresap).
Este
organismo tinha fixado como limite para o envio da documentação dos concursos a
primeira semana de Dezembro. A tutela de Maria Luís Albuquerque foi a única que
não cumpriu, tendo enviado com atraso os 17 concursos relativos à administração
fiscal. O prazo foi imposto pela Cresap porque, a 31 de Dezembro, terminava o
período excepcional previsto na lei para manter nos cargos os dirigentes
públicos em regime de substituição. Caso os concursos não fossem publicados em
Diário da República até essa data, os dirigentes seriam obrigados a cessar
funções e os organismos ficariam em gestão corrente.
As nomeações
feitas agora pela tutela permitem ganhar algum tempo até à conclusão dos
procedimentos concursais. Se não tivessem sido feitas, as entidades públicas em
causa seriam afectadas já este mês. Foram nomeados desde chefes de finanças a
directores de alfândegas. O PÚBLICO questionou o Ministério das Finanças sobreo
tema, mas não obteve respostas até ao fecho desta edição.
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