Plano
B CES será alargada e pode afetar pensões a partir dos 900/1000 euros brutos,
mensais
Só depois de várias reuniões dos ministros,
o Governo conseguiu o fumo branco para aprovar o plano B ao chumbo do corte nas
pensões foto Alberto Frias
Texto
ROSA PEDROSO LIMA
E ÂNGELA SILVA
Os pensionistas vão
ter, este mês, uma trégua nos cortes das suas reformas. As medidas decididas
em Conselho de Ministros - de alargar a Contribuição Fxtraordinária de Solidariedade
(GES) a pensões abaixo dos €1.350 e de aumentar os pagamentos para a ADSE -
ainda não estão tecnicamente prontas e por isso, só deverão passar a letra de
lei no final de Janeiro. Os novos cortes só entram em vigor a partir de Fevereiro
e “não terão efeitos retroativos”, garantiu fonte governamental ao Expresso.
Passos Coelho não quer acrescentar mais riscos constitucionais à sua agenda
política. Os pensionistas ‘ganham’ um mês de folga no plano de austeridade
extrema.
É o fim do tabu sobre
o plano B do Governo ao chumbo da convergência das pensões do sector público e
privado. A discussão em Conselho cie Ministros decorreu num clima menos crispado
do que noutros momentos delicados da legislatura. Em cima da mesa — depois da
discussão na última reunião do Governo de 2013 — já nem sequer esteve a
possibilidade de aumentar o IVA, nem que fosse em meio ponto percentual da
taxa normal de 23%, como as Finanças chegaram a propor.
‘' Evitar ainda novo
aumento de impostos era fundamental do ponto de vista intento e externo",
disse um dos ministros, para quem isso “seria um péssimo sinal” para os
mercados e para os credores internacionais. Além disso, o argumento de que um
novo aumento de impostos colocaria em causa os sinais existentes de
recuperação na economia pesou na decisão.
Afastado o cenário de
aumentar taxas, as atenções viraram-se para outras soluções. Com um cuidado
especial: blindar a solução de riscos constitucionais, para evitar novos
desaires políticos junto do Tribunal Constitucional.
Paulo Portas foi um
das vozes que mais defenderam a
necessidade de o Governo encontrar medidas de substituição “da máxima segurança
possível perante o TC”. O vice-primeiro ministro, secundado por Paulo Macedo,
Rui Macheie e Pires de Lima, concordava que a “porta de saída” podia ser feita
através do alargamento da base de incidência da CES, tanto mais que a medida
já tinha sido anteriormente validada pelos juízes constitucionais para reformas
acima dos €1.350, No entanto, pediam cautelas adicionais porque se o TC abria
uma porta, não a escancarava por completo e não admitiria um excessivo
alargamento dos pensionistas a atingir com a nova CES.
Passos admitiu,
apurou o Expresso de várias fontes, que se pudesse descer abaixo: dos mil
euros. Um número avançado numa proposta apresentada pelas Finanças. Mas vários
ministros consideraram arriscado, afirmando que quanto mais baixo vier a ser o
valor mínimo, maior o risco de um chumbo constitucional. Do lado do PP várias
foram as vozes no Conselho de Ministros que lembraram que no acórdão da
convergência das pensões do TC, duas juízas se referiram especificamente aos
casos da Irlanda e da Grécia, onde nunca se tocou em pensões abaixo dos mil
euros, A juíza Maria José Rangel, indicada pelo PSD, foi ainda mais longe na
sua declaração de voto e referiu uma bitola portuguesa: “O valor de
referência (utente/mês) para efeitos de comparticipação familiar em lar de
idosos” usado pela Segurança Social e que fixou, em 2013, nos €938.43, os rendimentos dos pensionistas
apoiados pelo Estado.
O primeiro dos ministros a opor-se a um alargamento
da CES a pensões abaixo dos mil euros foi precisamente o parceiro de
coligação Paulo Portas. A crítica foi aceite e o princípio de ‘moderação nas
alterações a fazer’ ficou assente, mas na verdade o Governo ainda não
conseguiu fechar o limiar exato a partir do qual os pensionistas serão afetados,
For falta “dos estudos técnicos necessários” e na ausência “das projeções de
calibragem da medida”. Marques Guedes teve de ser omisso quanto ao valor exato
da CES a aplicar, quando falou aos jornalistas no finai do Conselho de Ministros.
Até ao final do mês, «Governo conta ter o diploma pronto e aprovado em sede
parlamentar, onde tem de ser discutida e validada
PP rejeita comparações com TSU de pensionistas
Os novos cortes nas pensões aprovados pelo Governo “nada
têm a ver com a TSU dos pensionistas", disse ao Expresso um alto
responsável do CDS/PP. A aplicação da taxa social única aos reformados foi
considerada uma "linha vermelha" que Paulo Portas se recusou a
ultrapassar, criando em Maio passado uma nova crise política governamental. Mas
antecipando as críticas ao facto de os Populares terem feito uma viragem política
ao aprovarem agora novos cortes da CES, o CDS sublinha as diferenças: “A TSU
era um imposto aplicado a pensões a partir dos €419, era adicional á
Contribuição Extraordinária de Solidariedade e à convergência das pensões”
disse a mesma fonte, A TSU seria “uma loucura política”, acrescentou. Os novos
cortes são “transitórios, moderados e comparativamente mais baixos do que o
previsto só com a convergência das pensões", O facto de 95% dos
pensionistas do sector privado ficarem isentos da nova CES é um dos argumentos
adiantados para sustentar esta tese
ADSE
antecipada
Em relação à outra
medida anunciada, a do aumento das contribuições particulares para o sistema de
saúde dos funcionários públicos, a ADSE, o Governo acredita que aí pode ir
buscar entre €100 a €150 milhões para tapar o buraco de €390 milhões aberto
pelo chumbo da convergência de pensões. A medida é mais simples de executar -
basta um Decreto-Lei — e está prevista no programa de autossustentabilidade do
sistema que previa «um aumento de 1% dos descontos feitos por trabalhadores,
pensionistas e Estado até 2016. Atualmente o valor dos descontos é de 3,5%
0,25% do Estado e 2,S% para funcionários e reformados) e o aumento deverá ser
antecipado já para 2014.
Outro ponto essencial
da resposta do Governo ao buraco aberto pela inconstitucionalidade decretada
pelo TC diz respeito à tentativa de encontrar um novo sistema de pensões (o tal
a que o acórdão constitucional aludiu). Aqui, Poiares Maduro foi dos ministros
que mais se bateram junto de Passos para que essa via seja seguida. O Governo
anunciou-o publicamente e Marques Guedes disse que a medida é para estar
pronta ainda em 2014. Uma comissão de especialistas - coordenada pelas
Finanças e pela Segurança Social - deverá ser chamada a avançar com uma proposta. Ainda não
há nomes em cima da mesa. Há tarefas mais urgentes a cumprir.
rlima@expresso.impresa.pt
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