Apesar do voto contra da oposição, os partidos da maioria aprovaram um relatório final que iliba desta polémica a ministra das Finanças.
Oposição criticou partidos da maioria de branquear actuação de Maria Luís Albuquerque
DANIEL ROCHA
RAQUEL ALMEIDA
CORREIA (HTTP //WWW. PUBLICO. PT/A UTOR/RAQUEL-A LMEIDA - CORREIA) 06/01/2014-20:26
O último minuto da comissão parlamentar de
inquérito aos contratos swap poderia ter sido o primeiro. Apesar de os
deputados terem em mãos muito mais informação do que tinham quando os trabalhos arrancaram,
em Maio, o debate sobre o relatório final foi o culminar da batalha política
que se instalou na Assembleia da República nos últimos meses. A oposição uniu-se
para rejeitar um documento que iliba a actuação do Governo e da ministra das
Finanças, mas os votos favoráveis dos partidos que sustentam a maioria, PSD e
CDS, garantiram a aprovação.
Apesar do rol de propostas de alteração
feito pelo PS, BE e PCP, foram poucos os contributos da oposição que a deputada
que elaborou o relatório, a social-democrata Clara Marques Mendes, acolheu. No
documento final aprovado esta segunda-feira no Parlamento, foram apenas
incluídas as sugestões que se referiam à actuação dos bancos que
comercializaram estes derivados (usados para cobrir o risco de variação das
taxas de juro dos empréstimos).
Por proposta do PCP, o relatório passou a
referir que “alguns bancos aproveitaram o contexto de dependência de
financiamento de empresas públicas para imporem a contratação de instrumentos
de gestão do risco financeiro condicionados a esse financiamento”. Já na
sequência de um contributo do BE, o documento passou a conter uma frase em que
se lê que “todos os bancos afirmaram que os seus interlocutores nas empresas
eram profissionais qualificados, experientes e evidenciavam total capacidade de
compreender plenamente os riscos associados a cada uma das operações
contratadas”.
Nas conclusões, foi ainda modificada a
referência ao envio do documento para a Procuradoria-Geral da República,
tendo-se eliminado a frase que referia que o objectivo era o “apuramento de
eventuais responsabilidades criminais”.
Todas as propostas que se destinavam a
responsabilizar o actual Governo pelo disparar das perdas potenciais dos swaps,
na sequência da demora na resolução deste caso, e pelos impactos da liquidação
antecipada destes contratos, não passaram de propostas. Apesar de todos os
contactos informais que ocorreram entre a relatora e os partidos da oposição e
dos argumentos esgrimidos pelo PS, BE e PCP, Clara Marques Mendes voltou a
mostrar-se intransponível.
“Não vamos confundir a criação do problema
com a resolução do problema”, respondeu na Assembleia da República à socialista
Ana Catarina Mendes, que insistiu que o relatório final
“branqueia o comportamento da ministra das Finanças”, envolvida neste caso
desde o primeiro minuto.
Nos últimos meses, Maria Luís Albuquerque foi acusada de
faltar à verdade no Parlamento, por ter estado envolvida em episódios
polémicos: da passagem como directora financeira na Refer à nomeação de Joaquim
Pais Jorge para secretário de Estado do Tesouro (tendo este apresentado a
demissão um mês depois por ter sido revelado que, enquanto quadro do Citi,
tinha participado em reuniões com o objectivo de vender derivados sobre a
dívida pública).
A ministra das Finanças também esteve sob fogo político por
ter garantido que a liquidação antecipada de swaps não iria ter custos
para os contribuintes, apesar de ter custado mais de 1000 milhões de euros, e
por ter assegurado que nunca tinha aprovado estes contratos, quando deu aval a
empréstimos de empresas públicas que continham estes instrumentos durante o
período que passou na Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP).
No entanto, no relatório final, o grande visado é o
ex-secretário de Estado do Tesouro do PS. Carlos Costa Pina é acusado de ter
“ignorado ostensivamente as recomendações técnicas que lhe foram formuladas” e
de “não ter acautelado a salvaguarda do interesse público e a criteriosa gestão
dos dinheiros públicos”. O antigo governante reagiu acusando a relatora do
documento de fazer “política rasteira”. Com nove votos a favor do PSD e CDS, o
relatório foi aprovado, terminando oficialmente nesta terça-feira os trabalhos
da comissão.
A polémica dos swaps estalou em Abril, quando dois
secretários de Estado abandonaram o cargo por terem estado envolvidos na
negociação ou aprovação de swaps considerados especulativos numa
auditoria conduzida pelo IGCP. Outros três gestores públicos foram demitidos em
Junho.
Os contratos subscritos pelas empresas
públicas acumularam perdas potenciais superiores a 3000 milhões, que entretanto
foram reduzidas para 1500 milhões com as liquidações antecipadas feitas pelo
actual Governo, que chegou a acordo com nove bancos para cancelar 69 derivados.
O Estado continua em litígio com o Santander, que é acusado pelo executivo de
ter vendido os instrumentos mais ruinosos.
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