A
Comissão Europeia mantém-se atenta à situação dos estaleiros de Viana
ANDREA CRUZ
15/01/2014 - 18:26
A
garantia foi dada pelo comissário europeu para a Concorrência, Joaquín Almunia,
em resposta a uma pergunta do Bloco Esquerda.
O comissário
europeu para a Concorrência, Joaquín Almunia,
garantiu esta quarta-feira, em resposta a uma
pergunta da eurodeputada do Bloco de Esquerda Marisa Matias, que Comissão Europeia (CE) não
ordenou a Portugal a
recuperação de qualquer auxílio
estatal concedido aos Estaleiros Navais
de Viana do Castelo (ENVC)”.
A devolução pelos ENVC ao Estado
português dos 181
milhões de euros concedidos à empresa pública, como ajudas estatais, entre 2006 e
2011 foi a razão invocada pelo ministro da Defesa para cancelar a reprivatização dos ENVC,
em Abril de 2013, e para a subconcessão,
apontada como única
solução possível para o único construtor naval do país.
Na resposta,
datada de 15 de Janeiro e a qual o PÚBLICO teve acesso, Joaquín Almunia
esclarece que a Comissão ainda não adoptou um decisão final” relativamente ao
processo das ajudas concedidas pelo Estado aos ENVC.
“Por
conseguinte, a Comissão não ordenou a Portugal a recuperação de qualquer
auxílio estatal concedido aos ENVC”, refere Almunia na resposta à pergunta da
eurodeputada eleita pelo Bloco de Esquerda Marisa Matias.
Almunia
adianta que, desde a abertura da investigação aos apoios financeiros do Estado
aos Estaleiros, têm existido “diversas trocas de correspondência com as
autoridades portuguesas”.
“A Comissão
continuará a sua avaliação do processo e a supervisionar atentamente a evolução
da situação dos ENVC”, remata o comissário.
Perante a
resposta do comissário europeu, a eurodeputada bloquista pediu esta
quarta-feira a demissão do ministro da Defesa por “ficar comprovado que este
negócio, que foi construído através de uma gestão danosa, foi legitimado por
uma mentira”.
A pergunta
da eurodeputada foi enviada ao comissário europeu no final de 2013 na sequência
de afirmações de Aguiar-Branco, que justificou o despedimento dos 609
trabalhadores e a entrega da empresa pública a privados com a necessidade de
devolução dos 181 milhões de euros reclamados pela União Europeia.
A 19 de
Abril de 2013, no Porto, Aguiar-Branco afirmou que os ENVC teriam de devolver
as ajudas ou não poderiam “prosseguir na sua actividade”.
"A
mentira tem perna curta, e é lamentável que pelo seu caminho tenham sido postas
em causa as vidas de 609 trabalhadores”, sustentou Marisa Matias.
A 3 de
Dezembro último, em conferência de imprensa, o ministro da Defesa afirmou que,
"quando o governo se preparava para tomar uma decisão quanto à proposta
vencedora do processo de reprivatização,
em Outubro de 2012, a Direcção Geral da Concorrência da Comissão Europeia
suscitou dúvidas sobre auxílios de Estado concedidos aos Estaleiros Navais de
Viana do Castelo, entre os anos 2006 e 2011".
"Mais
de 181 Milhões de Euros teriam de ser devolvidos pela empresa e foram objecto,
em Janeiro de 2013, da abertura formal de um procedimento contra o Estado
Português", acrescentou Aguiar- Branco. E acrescentou que se tratava de
"um processo com o potencial de se arrastar durante vários anos nas
instâncias europeias, como habitualmente acontece em situações semelhantes. Nem
os Estaleiros nem os contribuintes dispunham, ou dispõem, de tempo e dinheiro
para mais este encargo”.
Já em
Dezembro passado, quando apresentou uma queixa-crime na Procuradoria-Geral da
República e um pedido à Comissão Europeia para suspensão do processo de
subconcessão dos ENVC, a eurodeputada do PS Ana Gomes tinha acusado o Governo
de “se desculpar com Bruxelas”.
A
eurodeputada deu conta de uma reunião com o responsável europeu, a 11 de
Dezembro, em Estrasburgo, onde este se mostrou “surpreendido” por o “Governo
nunca ter invocado junto da Comissão Europeia o facto de os ENVC construírem
navios para a Marinha Portuguesa” - facto relevante, acrescentou, uma vez que
tal “poderia justificar transferências financeiras do Estado para os ENVC”.
Para
Ana Gomes, este é um indício de que os interesses portugueses não estavam a ser
devidamente defendidos pelo Governo. Lembrou que fora esse o argumento que
“permitira a continuação da laboração dos Estaleiros Navantia, na Galiza,
Espanha, também alvo de investigação [europeia] por ajudas do Estado”.
A ex-diplomata
acrescentou que a Comissão “não queria abrir um processo a Portugal”.
Apresentou mesmo “avenidas de saída” para Portugal justificar as ajudas
estatais nos documentos que produziu sobre o assunto. Essas pistas eram
declarar a empresa em dificuldades ou então avançar com um processo de reestruturação.
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