RAQUEL MARTINS (http://www.publico.pt/autor/raquel-martins)
09/01/2014-09:03
Taxa de desemprego recuou de 17% para 15,5%
em Novembro. Economistas alertam que redução da taxa nos últimos nove meses não
tem tido reflexos na criação de emprego, pondo em causa a recuperação do
mercado de trabalho.
O
desemprego em Portugal continua a recuar, contrariando a tendência de ligeira subida da Zona Euro e da União Europeia, e em Novembro atingia 15,5% da
população activa. Mas este valor continua a ser
demasiado alto e a pressão só aliviará quando a redução
da taxa de desemprego for acompanhada pela
criação sustentada de novos postos de trabalho.
Portugal registou o quarto
maior recuo anula da taxa desemprego entre Novembro de 2012 e 2013, passando de
17% para 15,5%. Este indicador recuou pelo nono mês consecutivo e registou a
queda mensal mais pronunciada desde 1988, depois de, em 2012 e 2013, ter
registado a taxas mais elevadas de que há registo.
“Os dados são positivos, mas não devem ser olhados com euforia.
Não podemos esquecer que a economia tem agora menos 650 mil postos de trabalho
do que no período anterior à crise de 2008”, alerta Francisco Madelino, economista
e ex-presidente do Instituto de Emprego e Formação Profissional. Além disso,
lembra, o volume de novas inscrições registadas todos os meses pelos centros de
emprego (dados que, além das estimativas do Instituto Nacional de Estatística,
são tidos em conta pelo Eurostat) estão 10 mil pessoas acima do período
anterior à crise.
Também o economista da Universidade do Minho, João Cerejeira,
defende que a taxa de emprego “é o elemento
principal” a ter em conta na recuperação do mercado de trabalho. E nesse
campo, há factores de risco que podem pôr em causa a criação de emprego.
João
Cerejeira considera que o principal de risco é assistir-se a uma queda do
consumo privado, ao contrário do que são as perspectivas do Governo que aponta
para um crescimento de 0,1% e do Banco de Portugal que prevê um incremento de
0,3%. O pessimismo deste economista assenta nos cortes mais pronunciados nos
salários dos funcionários públicos e nas pensões. Mas já o investimento poderá comportar-se de forma mais positiva, em resposta à melhora
das condições de financiamento da economia.
“Antecipo a
manutenção da queda da taxa de desemprego, por via do aumento da inactividade e
da emigração, mas duvido da recuperação do emprego”, vaticina em declarações ao
PÚBLICO.
A saída de
portugueses para o estrangeiro e a passagem de muitos desempregados à situação
de inactividade são, para Cerejeira e Madelino, dois factores que determinam a
redução da taxa de desemprego nos últimos meses, respondendo de forma muito
rápida a taxas de crescimento da economia inferiores a 1%. É também isso que
explica por que razão a melhoria do desemprego não teve reflexos no mercado de
trabalho.
Mas não
escondem que a melhoria da situação económica (no terceiro trimestre a economia
avançou 0,2%) tem permitido criar algum emprego, embora de forma pouco
sustentada. Os dados do INE para o mesmo período davam conta da criação de 48
mil postos de trabalho.
O
Eurostat dava conta de 824 mil pessoas sem trabalho em Novembro, menos 91 mil
do que no ano anterior. No resto da Europa, as maiores descidas verificaram-se na Irlanda (de 14,3%
para 12,3%), na Letónia (de 14% para 12% em Setembro) e na Lituânia (de 13%
para 11,3). Tal como Portugal estes países contrariaram a ligeira subida anual
verificada zona euro (12,1%) e na União Europeia (10,9%).
O calcanhar
de Aquiles continua a ser o desemprego jovem. Embora a taxa tenha recuado face
a 2012, voltou a aumentar em Outubro e em Novembro para 36,8%, a quinta mais
elevada do espaço europeu.
Para o
Governo, a redução da taxa de desemprego em Novembro é um sinal de “confiança e
de esperança no futuro”. “São sinais que dão alento para continuarmos a trabalhar
na recuperação da economia e a criar possibilidades para descer o desemprego
ainda mais”, disse o ministro do Emprego e da Segurança Social, Pedro Mota
Soares.
Oposição fala em manipulação
Esta
quarta-feira, o PS lançou suspeitas sobre a forma como o Governo está a gerir
as inscrições nos centros de emprego, receando que os números estejam a ser
manipulados através das políticas activas de emprego. Um grupo de deputados,
liderado por Miguel Laranjeiro, deu conta de denúncias de vários desempregados
e fez uma pergunta ao Governo a pedir esclarecimentos.
João
Oliveira, do PCP, alertou que o Eurostat "não tem em conta o efeito da
emigração" nem as pessoas que saem das listas dos centros de emprego,
quanto a UGT considera que “os valores atingidos em Portugal são bastante preocupantes” e exigem políticas diferentes “que não se
reduzam a medidas de austeridade”. Com Pedro Crisóstomo e Ana Rute Silva
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