Seguros da CGD vão ser vendidos a privados PAULA PIMENTA
CRISTINA
FERREIRA 16/12/2013 - 07:15
Quem
comprar a Caixa Seguros, o grupo segurador estatal, vai poder comercializar os
seus produtos durante 25 anos aos balcões do banco público.
Uma das
cláusulas do contrato de venda por ajuste directo da Caixa Seguros (Fidelidade,
Multicare, Seguros de Saúde, Cares, Companhia de Seguros) prevê que seja dada
exclusividade mútua, por 25 anos, de venda dos produtos da Fidelidade,
entretanto privatizada, aos balcões
da Caixa Geral de Depósitos (CGD).
O prazo para
os dois grupos seleccionados concretizarem uma oferta de aquisição da Caixa
Seguros termina nesta segunda-feira. As duas companhias finalistas no concurso
público de privatização do sector
segurador estatal, os fundos norte-americanos de private equity Apollo Global Management e a sociedade de
capital de risco chinesa Fosun International (Xangai, com ligação a Hong Kong),
fizeram-se representar, na semana passada, ao mais alto nível nas conversações
que decorreram no Ministério das Finanças.
O PÚBLICO apurou que as autoridades portuguesas têm a expectativa de
que sejam formalizadas propostas de aquisição do sector segurador do Estado
(que tem uma quota de mercado de 30%). Aliás, a semana passada, quer a
sociedade de capital risco Fosun International, que trouxe a Lisboa o seu
presidente, quer a Apollo Global Management, que se fez representar pelo
responsável do equity de Londres, mantiveram contactos com o Governo de
Passos Coelho. A aquisição, por ajuste directo de um bloco acima de 75% da
Caixa Seguros (5% estão reservados aos trabalhadores), deverá rondar os mil
milhões de euros.
O PÚBLICO
apurou que uma das cláusulas do contrato de alienação da Caixa Seguros prevê
que a CGD, que tem uma quota de mercado de 25%, venda exclusivamente seguros da
Fidelidade aos seus balcões (800 agências) e que a Fidelidade apenas
comercialize seguros através do grupo financeiro do Estado. Um casamento de 25
anos. O PÚBLICO inquiriu o vendedor sobre o tema mas fonte oficial da CGD
explicou “não poder fazer qualquer comentário sobre o processo de privatização em curso", isto, porque o Estado é o
vendedor, no sentido, em que o banco é totalmente público.
A decisão de
incluir no memorando de privatização da Caixa Seguros uma cláusula de exclusividade pode ser justificada
com o facto de todos os grupos bancários terem protocolos desta natureza: a
Allianz usa o canal bancário no BPI, a Ocidental Seguros o do BCP e a
Tranquilidade o do BES. Mas a intenção pode suscitar dúvidas por condicionar,
no futuro, uma privatização, parcial
ou total, da instituição financeira (um ponto que, aparentemente, não esteve em
cima da mesa), por se estar a definir desde já um parceiro estratégico de longo
prazo. Mas também por amarrar o banco público durante um quarto de século a uma
entidade em exclusivo. Ou seja: afastando à partida qualquer outra hipótese que
venha a surgir e que seja mais favorável aos interesses da CGD.
Ainda assim,
e no pressuposto de que a sociedade de capital risco Fosun International e o
fundo de private equity Apollo Global Management confirmam ofertas, se
as autoridades entenderem que as propostas não são credíveis, quer em termos de
valores, quer das contrapartidas que vão exigir à CGD (garantias, por exemplo,
de que não terão surpresas quando forem analisar os balanços/contingências das
seguradoras), o Governo pode optar pela via do mercado de capitais, ou seja,
realizar uma dispersão em bolsa da maioria das acções da Caixa Seguros. Neste
caso, todas as questões relacionadas com parcerias a prazo seriam diferentes.
Isto porque os investidores que adquirem acções em bolsa não exigem garantias
ao vendedor. Os defensores das privatizações em bolsa alegam ainda que esta via reflecte melhor o valor dos activos
em venda.
Esta solução
já foi admitida pelo Secretário de Estado das Finanças, Manuel Rodrigues, e tem
estado em cima da mesa de João Palma, o administrador da CGD, responsável pela
Caixa Seguros.
Os contactos
que os dois concorrentes mantiveram ao mais alto nível com a equipa das
Finanças e a CGD reflectiram um esforço para convencer as autoridades de que as
suas propostas vinculativas, através de concurso competitivo, garantem um maior
encaixe para o Estado do que se este optar pela vida do mercado de capitais.
Até agora,
nos processos de privatizações realizados em Portugal desde a chegada da troika, o Governo
optou na sua maioria por vendas através de concurso competitivo. Foi esse o
caso da EDP, REN e ANA. Mais recentemente, contudo, o Executivo optou pela
realização de uma oferta em bolsa na privatização
dos CTT, uma operação que tem sido classificada
pelos responsáveis governamentais como um sucesso.
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