António
Filipe não revelou se o PCP de tentar uma comissão de inquérito potestativa
FOTO: ENRIC VIVES.
NUNO SÁ
LOURENÇO – 08/01/2014 – 19:22
A votação
é só na sexta-feira, mas PSD e CDS criticaram fortemente a possibilidade. Mas
comissão pode avançar se PCP, ou outro partido da oposição, reunir 46
assinaturas de deputados
A maioria parlamentar contestou
esta quarta-feira a necessidade da constituição de uma comissão de inquérito
aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, dando a entender o voto contra. Mas
perante a reacção do PCP ficou a pairar a possibilidade da imposição do
inquérito através da constituição postestativa.
O deputado do PSD, Carlos Abreu
Amorim, foi categórico na rejeição, durante o debate sobre proposta apresentada
pelo PCP. Manifestou disponibilidade para “apurar todos os factos” mas
“evitando as redundâncias e a banalização dos procedimentos”. Que se
confirmariam no caso de avançar a comissão de inquérito, uma vez que a comissão
de Defesa estava já a ouvir todas as entidades envolvidas no processo de subconcessão.~
“Esta maioria não vai voltar
atrás, não vai voltar a cometer os mesmos erros do passado”, assegurou Amorim.
O centrista Abel Baptista seguiu a mesma linha, lembrando a sucessão de
audições já realizadas e a realizar.
O PCP e o BE acusaram, em
resposta, o PSD e o CDS de “medo”. Mariana Aiveca
denunciou o processo como uma “falência fraudulenta”. O deputado comunista
António Filipe acrescentou que as audições já realizadas “só estão a confirmar
a indispensabilidade do mesmo”.
“A culpa pode morrer solteira”,
perguntou António Filipe, antes de recordar o negócio ruinoso do navio
Atlântida ou os prejuízos na construção dos patralhões. Para concluir que a
empresa tinha sido “destruída por decisão política”. Uma reacção
particularmente violenta que podia antecipar o recurso à constituição da
comissão de inquérito potestivamente.
O PCP não quis agora antecipar o
próximo passo. “Veremos depois da votação”, explicou o deputado comunista, que
se escusou ainda a acrescentar se aquele grupo parlamentar entendia que a
gravidade da situação justificaria o recurso a esse mecanismo procedimental.
Há um mês,
no encerramento das jornadas parlamentares do partido, o líder parlamentar,
João Oliveira, avançou que o PCP iria propor a criação potestativa da comissão
caso não houvesse acordo inicial.
Mas a
imposição da comissão de inquérito não é um dado adquirido. Para tal se
conseguir é necessário que um quinto, ou seja, 46 dos 230 deputados subscrevam
a proposta. O que significa que o PS tem a palavra final na decisão.
Os
socialistas foram mais cautelosos no debate. Jorge Fão anunciou o “voto
favorável” ao inquérito mas sem a assertividade do PCP e BE, lembrando que os
“debates, os projectos de resolução, as perguntas ao senhor ministro da Defesa
não têm sido suficientes para apurar as verdadeiras razões” por trás dos
prejuízos e da decisão de subconcessão.
Questionado
pelo PÚBLICO, o PS foi evasivo. “Essa questão [inquérito potestativo] só se
colocará depois da votação e se essa proposta for avançada”, afirmou Jorge Fão.
Horas antes,
a comissão parlamentar de Defesa ouvira o presidente do júri que presidiu à subconcessão
para a empresa Martifer.
Que permitiu
apurar que a decisão não teve em conta os procedimentos exigidos pelo código de
contratação pública.
A revelação
originou um debate entre a maioria e a oposição. Pelo meio, o presidente do
júri, o procurador-geral adjunto João Cabral Tavares, defendia a opção. As
regras do código não se aplicavam por não se estar “nem de perto, nem de longe,
perante serviços que coubesse ao Estado prestar”, lembrando o facto dos
Estaleiros terem como missão a construção naval.
O socialista
Marcos Perestrello criticou a aparente “informalidade” que tinham presidido ao
processo, reconhecendo não perceber sequer qual fora o “enquadramento jurídico
que presidira ao procedimento”. A comunista Carla Cruz concluiu que se
“adensavam as dúvidas” sobre a decisão, o que justificava o inquérito
parlamentar - que o PCP propôs. E Mariana Aiveca considerou que “só restava
fazer a aferição do Ministério Público”.
Foi o
presidente da comissão parlamentar, o social-democrata Matos Correia, que fez a
contestação categórica a estas considerações, dando mesmo a entender a falta de
“seriedade intelectual” por parte da oposição. Dizendo que o recurso ao código
“não afectaria em nada o acto e a natureza do concurso”.
O que ficou
por responder foi a pergunta deixada no ar por Marcos Perestrelo, momentos
antes. “Quer dizer, para comprarem porcas e parafusos, os Estaleiros de Viana
tinham de seguir o código de contratação pública, mas para ceder a sua
actividade e encerrar as portas já não se aplicou...”
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