O ECONOMISTA PORTUGUÊS
um blog de Economia Política e de Política Económica
Publicado
em Abril
12.2013
O Banco Central Europeu (Bce) publicou esta semana um
texto com alguns números visando demonstrar que o património dos lares alemães
é dos mais reduzidos da União Europeia e para certas variáveis é mesmo o mais pobre. Os resultados são
absurdos: os portugueses são 50% mais ricos do que os alemães; o património
líquido dos lares da Bélgica é quatro vezes maior do que o da Alemanha. Cada
lar cipriota - leu bem: cipriota - é cinco vezes mais rico do que um alemão. Os
malteses são também riquíssimos.
O Bce
resolveu calcular a fortuna privada. A contabilidade
nacional portuguesa, e a de muitos outros países, não calcula o capital
nacional. Assim, o Pib na perspetiva do rendimento, é a soma dos
salários, das rendas e dos lucros. O capital seria, por exemplo, as fábricas e
os prédios - mas estes não constam do Pib. É a essa contabilidade, apenas para
o setor privado, que o Bce diz querer proceder: por meio de
inquéritos, averigua se os lares possuem prédios, andares, automóveis, jóias, ações de
empresas, etc.
O texto do Bce seria cómico se não fosse dramático o
nível de cabotinismo a que aquele banco desceu. A metodologia é paupérrima.
Em parte alguma é abordada uma questão central: como é calculado o valor do
património imobiliário? Os resultados são obtidos com base num inquérito direto; mas
não estão publicados os protocolos de investigação e por isso é impossível
avaliar o valor dos dados obtidos. O relatório tartamudeia umas frases sobre os
«outliers», isto é, sobre as economias «que ficam de fora» (só nomeia Chipre)
que, bem lidas, deveriam ter levado a que o relatório ficasse inédito.
O texto publicado tenta uma justificação metodológica, mas as correlações a que chega são
estatisticamente insignificantes ou assentam em variáveis ocultas. A seguir,
correlacionamos a poupança privada com o património dos lares, que é o
património privado. A poupança concretiza-se em património. Se a poupança é
maior, o património será maior. Ora, de acordo com as contas do Bce quanto
maior é a poupança, menor é o património. O gráfico abaixo desenha a reta de regressão entre estas duas variáveis. A correlação é negativa e o
seu coeficiente é fraco: -0,32. Em bom rigor estatístico, o relatório do Bce
impõe-nos a seguinte conclusão: a correlação entre a poupança e o património é aleatórea.
É uma conclusão absurda.
Nota: Portugal está no canto inferior esquerdo (patrimônio: 75; poupança: 502). Fontes: Poupança:
Ameco; Património: Bce.
A que se deverá
este relatório errado de
uma ponta à outra? À
incompetência dos técnicos do Bce? Ao fato de o seu governador, o Sr, Draghí,
precisar de pagar à Sra Merkel ou ela ter-lhe dado esse posto?
Porque o relatório favorece a pobre Alemanha, que nele encontra um argumento
falso, mas visível, para não resgatar os ricos portugueses, cipriotas, gregos.
E já está a ser usado na campanha eleitoral alemã.
0 relatório, muito recomendável para
quem aprecia humor estatístico involuntário, está disponível em:
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