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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O Banco Central Europeu descobriu que os Alemães são os mais Pobres da Europa


 O ECONOMISTA PORTUGUÊS
um blog de Economia Política e de Política Económica


Publicado em Abril 12.2013

O Banco Central Europeu (Bce) publicou esta semana um texto com alguns números visando demonstrar que o património dos lares alemães é dos mais reduzidos da União Europeia e para certas variáveis é mesmo o mais pobre. Os resultados são absurdos: os portugueses são 50% mais ricos do que os alemães; o património líquido dos lares da Bélgica é quatro vezes maior do que o da Alemanha. Cada lar cipriota - leu bem: cipriota - é cinco vezes mais rico do que um alemão. Os malteses são também riquíssimos.

O Bce resolveu calcular a fortuna privada. A contabilidade nacional portuguesa, e a de muitos outros países, não calcula o capital nacional. Assim, o Pib na perspetiva do rendimento, é a soma dos salários, das rendas e dos lucros. O capital seria, por exemplo, as fábricas e os prédios - mas estes não constam do Pib. É a essa contabilidade, apenas para o setor privado, que o Bce diz querer proceder: por meio de inquéritos, averigua se os lares possuem prédios, andares, automóveis, jóias, ações de empresas, etc.

O texto do Bce seria cómico se não fosse dramático o nível de cabotinismo a que aquele banco desceu. A metodologia é paupérrima. Em parte alguma é abordada uma questão central: como é calculado o valor do património imobiliário? Os resultados são obtidos com base num inquérito direto; mas não estão publicados os protocolos de investigação e por isso é impossível avaliar o valor dos dados obtidos. O relatório tartamudeia umas frases sobre os «outliers», isto é, sobre as economias «que ficam de fora» (só nomeia Chipre) que, bem lidas, deveriam ter levado a que o relatório ficasse inédito.

O texto publicado tenta uma justificação metodológica, mas as correlações a que chega são estatisticamente insignificantes ou assentam em variáveis ocultas. A seguir, correlacionamos a poupança privada com o património dos lares, que é o património privado. A poupança concretiza-se em património. Se a poupança é maior, o património será maior. Ora, de acordo com as contas do Bce quanto maior é a poupança, menor é o património. O gráfico abaixo desenha a reta de regressão entre estas duas variáveis. A correlação é negativa e o seu coeficiente é fraco: -0,32. Em bom rigor estatístico, o relatório do Bce impõe-nos a seguinte conclusão: a correlação entre a poupança e o património é aleatórea. É uma conclusão absurda.


Nota: Portugal está no canto inferior esquerdo (patrimônio: 75; poupança: 502). Fontes: Poupança: Ameco; Património: Bce.

A que se deverá este relatório errado de uma ponta à outra? À incompetência dos técnicos do Bce? Ao fato de o seu governador, o Sr, Draghí, precisar de pagar à Sra Merkel ou ela ter-lhe dado esse posto? Porque o relatório favorece a pobre Alemanha, que nele encontra um argumento falso, mas visível, para não resgatar os ricos portugueses, cipriotas, gregos. E já está a ser usado na campanha eleitoral alemã.

0 relatório, muito recomendável para quem aprecia humor estatístico involuntário, está disponível em:




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