Partidos enviam corte de salários para o TC
Partidos ponderam que normas orçamentais mandam para o TC,
depois de saberem que Presidente não o faz. Garantida só a que se refere aos
cortes de salários.
Desta vez a questão é
menos jurídica do que política. O Presidente da Republica tomou bem claro que não
enviará o Orçamento do Estado para fiscalização sucessiva por não lhe
encontrar normas que firam a inconstitucionalidade, mas os partidos da oposição
mantêm que sim. PS, PCP, e Bloco de Esquerda já reiteraram a sua intenção em
enviar o documento para o Palácio Raton “o mais breve possível” mas mostram-se
reservados quanto ao seu conteúdo.
"Ê preciso ainda
discutir as normas e aferi-las com a jurisprudência anterior do Tribunal Constitucional,
disse ao Expresso o deputado comunista António Filipe, que além de mais
sublinhou a necessidade de “fazer a ponderação conjunta com os deputados do BE
e dos Verdes". Para apresentar o pedido ao tribunal são precisos 23
deputados, este três partidos somam á justa 24.
O BE salvaguarda-se também:
a discussão com o PC ainda não se realizou, mas mantém-se a vontade de repetir
o exemplo dos anos anteriores, apresentando um pedido conjunto. O corte de
salários da função pública é uma norma que seguramente será impugnada, mas,
além disso, pensões de sobrevivência, complementos de pensões no sector
empresarial do Estado ou mesmo a
transitoriedade da contribuição extraordinária de solidariedade (CES) são questões
ainda abertas á discussão conjunta, ao que apurou o Expresso.
O próprio PS de que
um grupo de deputados em separado tem apresentado nos últimos anos o pedido de fiscalização,
mostra-se mais contido que habitualmente quanto ao cerne da sua argumentação,
José Junqueiro, que foi a cara da reação do PS à mensagem do ano novo do
Presidente, prometeu "para os próximos dias” a entrega do pedido de
fiscalização, mas a discussão sobre que normas invocar e com que fundamentação
só se fará ou próxima semana»
Ao que sabe o
Expresso, a direção do PS é favorável apenas à impugnação de duas normas, a
relativa aos cortes de salários da função pública e a das pensões de sobrevivência.
Todavia, na declaração de voto apresentada na votação do orçamento por mais de
metade dos deputados deste partido (38), apontavam-se ainda as contribuições
sobre as prestações de doença e de desemprego e as subvenções vitalícias (que
o orçamento faz depender dos recursos), conto normas suscetíveis de ferir os
princípios da igualdade, proteção da confiança e proporcionalidade, além dos
direitos adquiridos.
A norma dos 640
milhões
O problema central, é
que a principal norma apontada por todos os partidos como suscetível de
inconstitucionalidade – o corte dos salários — não tem "chumbo garantido” no
TC, segundo a sua jurisprudência.
O facto não será
alheio à decisão de Cavaco, que menciona expressamente a jurisprudência do TC e
não gosta de arriscar em iniciativas desta natureza. Não é por acaso que 13 dos
17 pedidos de fiscalização preventiva que apresentou foram acolhidos
favoravelmente pelo TC, bem como dois dos quatro pedidos de fiscalização sucessiva.
Além disso, é de crer que a reflexão sobre o “custo” destes cortes no OE (algo
em torno dos 643 milhões, incluindo apenas o acréscimo face à medida anterior
que vinha de 2011) tenha igualmente pesado, no julgamento do Presidente.
Os cortes salariais efetuados
no passado nem sempre foram recusados pelo TC, que admitiu expressamente que
“a prevalência do interesse público na correção do desequilíbrio orçamental
justificava a afetação das expectativas de intangibilidade das remunerações, tal
como se disse no acórdão relativo ao orçamento de 2011. No ano seguinte, o TC já
se insurgiu contra os cortes que incidiam sobre os subsídios invocando uma
"desigualdade desproporcionada” face ao sector privado, embora tenha remetido
para o futuro os efeitos da inconstitucionalidade. E, em 2013, o tribunal
valorizou sobretudo a “acumulação dos sacrifícios" impostos aos
funcionários públicos e obrigou á devolução de um subsídio.
Em 2014, segundo
contas feitas por alto, o corte dos salários da função pública é em média inferior
ao dos dois anos anteriores. A média ponderada dos cortes deste ano, feita a 21
escalões (e incluindo o de 600 euros) é de 8,5%, ao passo que a de 2013 foi de
9,8% e a de 2012 – a mais brutal – de 14,6%. De facto, a média de 2014 só é
superior á dos cortes do último orçamento de Sócrates (2011): 3,5%. A média
acumulada dos cortes é contudo arrasadora; cerca de 36%, que sobe mesmo até
aos 63% nos salários acima dos 4 mil euros.
É nesta linha que
incide sobretudo a argumentação da oposição, em particular do PS: cortes que
são efetuados a uma categoria específica de cidadãos, de forma continuada e
acumulada. Mas tal raciocínio - o "sacrifício adicional exigido aos
servidores públicos'' — já foi também
considerado pelo TC como “não arbitrário, tendo em conta que, em função da
finalidade prosseguida, quem recebe por verbas públicas não está em posição de
igualdade com os restantes cidadãos”. Em suma, questões que terão de ser
destrinçadas juridicamente pelos partidos da oposição.
Provedor pondera
Além deste, também as
centrais sindicais anunciaram que avançarão com pedidos de fiscalização, Carlos
Silva, o líder da UGT, pediu ontem uma audiência com o provedor de Justiça e
enviou-lhe o "seu" pedido. Por lei, as centrais sindicais não podem
recorrer diretamente ao TC.
Mas o provedor já fez
saber publicamente que só apresentará um pedido autónomo em última instância e
apenas se “encontrar um argumento diferente que não tenha sido
produzido", depois de conhecida a argumentação dos pedidos dos partidos
que entretanto surjam. Diferentemente do seu antecessor, que no ano passado levou
o orçamento ao TC, Faria e Costa prefere reiterar o apego ao "princípio da
racionalidade", contra a sobreposição dos argumentos.
LUISA MEIRELES com
C.P. e R.P.I.
643
O corte
salarial na função Pública decretada pelo Governo para este ano vem substituir
os cortes que estavam em vigor desde o final dos governos de Sócrates e
Teixeira dos Santos.
No
total, a medida tem um impacto orçamental na casa dos 643 milhões de euros.
Um
chumbo do TC traria, por isso mesmo, um enorme problema ao Governo. No ano
passado, a decisão do TC demorou cerca de três meses a ser tomada. Por isso,
este ano, só lá para Março ou Abril é que deverá ser conhecido o pensamento do
Tribunal sobre a questão.
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