BRUNO DE CARVALHO
Observador 28 de Junho de 2018 - 13:30
Bruno de Carvalho voltou ao Facebook para esclarecer que "nunca quis ser um populista" e para apelar a que todos possam participar nas eleições para a direção do Sporting, marcadas para 8 de setembro.
“Hoje foi o primeiro dia em que consegui despir a camisola de Presidente do Sporting CP”, começou por dizer Bruno de Carvalho numa longa publicação no Facebook, partilhada esta quinta-feira.
O presidente destituído do Sporting rompeu o silêncio e começou por agradecer aos 30% dos sócios que votaram pela sua continuidade na direção durante a Assembleia Geral de sábado e “aos seis leais companheiros de Direção”.
“Nunca quis ser um Líder populista.
Um demagogo de frases feitas, que age para seu benefício e que quer levar as massas por promessas ocas mas apelativas”, rematou Bruno de Carvalho, que tinha até esta quarta-feira para responder à nota de culpa que levou à sua suspensão.
Bruno de Carvalho admitiu que a sua “pressa de devolver alegrias ao universo sportinguista pode ter sido entendida por alguns como ação de um populista e que dividiu as gerações”, considerando que foi “pouco hábil na democracia, pois não tinha mãos a medir num trabalho e objetivo de recuperação desportiva, financeira, de imagem”.
Um ditador arrogante mas afinal era só um Líder apaixonado e disposto a dar a vida pelo nosso Clube. Mas o discurso levou a que muitos Sportinguistas se afastassem, mesmo não percebendo o porquê… nem eu percebi, até esta reflexão.”, disse Bruno de Carvalho no Facebook.
Sobre as eleições marcadas para o dia 8 de setembro, com Frederico Varandas, Fernando Tavares Pereira e João Benedito (avançado pela imprensa) já na corrida para a presidência do Sporting, Bruno de Carvalho pediu para se “encarar cada lista com o respeito que merece”, apelando para “que se acabe com este processo disciplinar e se permita aos sportinguistas ouvirem todos os que quiserem falar e decidirem o futuro do clube e da SAD”, incluindo “o último Presidente e o seu Conselho Diretivo”, se tal for essa a sua decisão.
Leia a mensagem de Bruno de Carvalho na íntegra:
Hoje foi o primeiro dia em que consegui despir a camisola de Presidente do Sporting CP. Olhar para trás e de forma calma olhar para tudo.
Tenho de começar logo com um primeiro agradecimento especial aos quase 30% que votaram na nossa não destituição.
Nem vale mais discutir se foram mais ou não.
Vale a pena agradecer, do fundo do coração, a estes Sportinguistas que mostraram toda a sua confiança, gratidão, carinho e reconhecimento pelo trabalho feito e que estava a continuar a ser realizado.
Depois um enorme agradecimento aos 6 Leais companheiros de Direcção e ao Fernando Carvalho, guerreiro resistente do CFD.
E estes 5 anos?
Do popular ao populista.
Do discurso – forma versus conteúdo – às tomadas de posição.
Forma construtiva ou destrutiva de agir.
Nunca quis ser um Líder populista.
Um demagogo de frases feitas, que age para seu benefício e que quer levar as massas por promessas ocas mas apelativas.
Pelo contrário, sempre quis ser um Líder popular, com os pés assentes na terra, com um discurso mobilizador que voltasse a devolver o orgulho e respeito a um Clube que estava adormecido, resignado e sem energia.
E aqui acho que começou um pouco a confusão entre ser popular ou populista.
Era fundamental ter um discurso forte para “acordar” os Sportinguistas e lhes devolver a crença de que podiamos de facto voltar a ser o Grande Sporting!
Um discurso ambicioso, virado para dentro e para fora, demonstrando ao Mundo que estávamos aqui para vencer tudo e exigir de volta o que tinhamos perdido: Respeito.
Isto abriu uma guerra geracional que não era de todo o pretendido.
Temos uma geração que conseguiu ter a sorte de ver um Sporting CP a ser o crónico vencedor e sem precisar de ter um discurso de “combate”.
Esta geração conseguiu ver o Sporting CP vencer com a possibilidade de ter um discurso “estadista”.
Depois temos uma geração que pouco ou nada viu o Sporting CP ganhar.
Que estava habituada a ser gozada, com o Sporting CP a ser considerado um Clube amigo e simpático.
Uma geração que quer ser feliz.
Estas gerações distintas não têm de estar antagonizadas.
Têm todos apenas de perceber e entender os desafios do Séc. XXI para um Clube que, dos grandes, era o mais pequeno e o mais endividado.
A minha pressa de devolver alegrias ao Universo Sportinguista pode ter sido entendida por alguns como accão de um populista e que dividiu as gerações.
Mas nunca foi essa a minha intenção.
Prometemos um Clube que voltasse a ser a Maior Potência Desportiva Nacional e conseguimos esta época provar isso, de forma inequívoca.
Voltar a ser um Clube de ADN eclético e fizémos o Pavilhão.
Que se podia ser competitivo no futebol e manter a maioria da SAD (e com lucros constantes).
Isto não são tiques de um populista, são actos de uma equipa que se quis de matriz popular e que cumpriu sempre as suas promessas, conseguindo uma mobilização nunca vista no Clube, com a Missão Pavilhão, a unificação da Curva Sul no Estádio e estarmos quase na meta dos 180.000 Associados.
Mas confesso que se olhar bem, se olhar profundamente, a pressa com que tudo foi feito, o trabalho 24h/24h que não permitiu um sentido mais diplomático de actuação, pode ter deixado uma imagem errada a muitas pessoas.
Fui pouco hábil na diplomacia, pois não tinha mãos a medir num trabalho e objectivo de recuperação desportiva, financeira, de imagem, que tem uma dimensão de necessidade e de empenho que ninguém imagina.
O discurso?
A vontade de fazer sempre mais, e mais e mais, levou a que o discurso não fosse moderado.
E era necessário ter tido a habilidade de não criar desgaste e ruptura com esse discurso. Mas a verdade é que, quanto mais sucesso mais e maiores os ataques sofridos.
Quanto mais ataques mais necessidade de defender o Clube com unhas e dentes.
Quanto mais se defendeu o Clube com unhas e dentes mais o discurso começou a parecer destrutivo, belicista, nunca apaziguador…
Um ditador arrogante mas afinal era só um Líder apaixonado e disposto a dar a vida pelo nosso Clube.
Mas o discurso levou a que muitos Sportinguistas se afastassem, mesmo não percebendo o porquê…
Nem eu percebi, até esta reflexão.
Afinal, o conteúdo era aparentemente 100% correcto, os objectivos até estavam a ser cumpridos (excepção ao futebol sênior profissional), o sucesso ia aumentando, mas com isso também a imagem de um ditador, belicista e incapaz de se proteger.
As minhas tomadas de posição nunca quiseram refletir o que sou na realidade, mas tão somente o que, dia a dia, tinha de ir superando para resolver todos os problemas herdados e os constantes obstáculos que nos eram colocados.
Foco total no trabalho e foco 0 no tratamento da imagem pessoal / política / institucional do Presidente.
Sempre acreditei que os resultados tudo superassem, até porque todo o discurso e tomadas de posição eram para o Clube chegar ao sucesso.
O Clube chegou ao sucesso e a minha imagem pessoal ficou totalmente deturpada ao olhos de muitos.
E são as pessoas que têm culpa?
Algumas ajudaram, alguma comunicação social contribuiu, mas o maior culpado fui eu que, na busca constante da Glória do Clube, me esqueci de mim próprio e da forma que deveria projectar a minha imagem.
O meu desejo é simples, que se acabe com este processo disciplinar e se permita aos Sportinguistas ouvirem todos os que quiserem falar e decidirem o futuro do Clube e SAD.
E neste momento é muito importante não provocar mais fragmentações do Universo Leonino!
Vamos encarar cada lista com o respeito que merece, pois querer servir o Clube não é um “crime” mas sim um acto de paixão.
Vamos ter a humildade de reconhecer as nossas virtudes e os nossos defeitos.
Vamos ter a humildade de receber de braços abertos todos os que queiram apresentar o seu projecto para o Sporting CP.
Apelo novamente para que parem com os processos disciplinares em curso, e que deixem aos Sportinguistas a liberdade de se candidatarem e aos outros de poderem escolher quem querem, no próximo dia 8 de Setembro, a liderar o Clube, incluindo o último Presidente e o seu CD, se tal for a nossa decisão.
A demonstração que somos um Grande Clube em tudo é deixar todos, os que assim o quiserem, sem decisões de “secretaria” contrárias, ir a eleições e ver o seu projecto ser aprovado ou reprovado por quem manda: os Associados.
Já agora importa realçar que os Sportinguistas, no máximo, teriam decidido na última AG que queriam novas eleições e não que fossemos suspensos ou expulsos de associados, e com isso afastados das mesmas.
Somos um país livre e democrático e por isso deixemos a liberdade de candidatura e voto aos sportinguistas.
Foi bom poder fazer este exercício claro sobre 5 anos, onde afinal existiram mesmo falhas que lamento, que apesar de achar que são de pormenor a verdade é que contribuí para muitos erros de percepção e de raciocínio, que são legítimos e devem ser respeitados e devidamente ponderados.
Obrigado por 5 anos de puro prazer e orgulho em servirmos o Clube que amamos e a família que adoptámos como nossa: os Sportinguistas!
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