Redacção F8
16 de Junho de 2018
Salú Gonçalves é um jovem, um homem, chefe de família, pai e profissional.
O Salú, apesar de tudo e das distâncias que um dado tempo nos separou, teve, tem e terá sempre, o meu calor fraternal, a minha solidariedade pública.
Ei-la.
Por William Tonet
Tocaram o meu “menino”.
Sim, menino, por no meu disco duro mental, continuar perene a imagem de um menino irreverente, que no tempo de partido único, queria ser jornalista, obtendo a minha bênção. E entrou por mérito próprio, trilhando depois todos os degraus e agruras de uma profissão exigente, afirmando-se como jornalista cultural.
Agora, decidindo abraçar um novo desafio, atravessou o rio da radiofonia, desembarcando na televisão com um irreverente programa de intervenção: “Fala Angola”.
E é aqui, no divisar das águas, com os dois MPLA, que um comunicado de viés estapafúrdio, invade a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, a liberdade de opinião de um comunicador, que se está a esmerar na denúncia de práticas ilícitas, como a ladroagem, a roubalheira e a corrupção, que ganha “institucionalidade” protectora dos sectores judiciais, cada vez mais partidarizados e dependentes no cafrice do Titular do Poder Executivo.
Daqui (poder judicial), quando em causa estiver o regime, os jornalistas terão sempre a cabeça na guilhotina…
O MPLA, tornou desnecessária a nobreza do didactismo, optando pela ameaça, a afronta, denunciando a subtil imagem de marca do novo dono do partido no poder.
Muitos pensaram que seria diferente com JLo, mas sempre disse não acreditar que uma víbora possa virar minhoca…
Poderiam fazer um alerta a um profissional da comunicação social.
Poderiam identificar os seus excessos.
Poderiam apontar as falsidades…
Poderiam, finalmente, identificar o que é instigação social, excessos de linguagem, opinião e liberdade de expressão.
Optaram pelo inverso.
Rugir e colocar de alerta toda a delinquência, que uma vez já esteve no seu encalço na África do Sul, espancando-o e alvejando-o, pondo em risco a sua vida.
Este comunicado, será para avisar Salú Gonçalves que têm já um jacaré à sua espera? Auguramos que não.
Será isso uma demonstração de temor à verdade?
Irão, no seu imenso poder, ordenar à TV Zimbo para te colocar no desemprego?
Verdade ou mentira, tudo incrimina.
Um partido no poder, com 42 anos ininterruptos de condução dos destinos do país, incapaz de dar água aos cidadãos, luz, sal, educação, saúde e emprego, não pode estar isento à crítica.
Não quero dizer que o meu “menino” irreverente, aqui e ali, não se possa ter excedido, mas daí a um quilométrico comunicado, cujo conteúdo programático é a ameaça, não lembra ao diabo, melhor, lembra o demoníaco partido único, hoje transformado em único partido, face à irrelevância quantitativa, no parlamento, da oposição, para mudar, mesmo querendo, alguma coisa.
O “Fala Angola” da TV Zimbo, aumentou assustadoramente as audiências da estação, principalmente, com este comunicado do MPLA, que considera as intervenções de Salú como “instigação à desobediência”, mas são um hino de instigação à verdade dos factos.
Comunicado do MPLA
“Sempre que nos propormos avaliar assuntos ligados aos diversos sectores da vida do País, devemos fazê-lo antes de mais e acima de tudo, com a serenidade, responsabilidade e patriotismo que se impõe.
Recentemente a TV Zimbo, introduziu alterações ao seu leque de apresentadores, bem como à sua grelha de programação, facto que, merece o nosso reconhecimento, dada a imperiosa necessidade da diversificação informativa e do contraditório.
Mas, a progressão daquela que é considerada como a “Televisão que mudou a Televisão”, está a ser perniciosamente subvertida com a actuação do seu novel, excêntrico e polémico apresentador/radialista Salú Gonçalves, naquele que era suposto ser o programa que daria voz aos Angolanos.
O “Fala Angola” está a ser subtilmente transformado num tribunal à hasta pública, palco de exposição gratuita da vida privada de outrem, entre outros.
“Faz morada” por àquele programa, também, a instigação à desobediência.
A imposição das famigeradas frases fala comigo e eu falo com Angola e eles vão ter de me ouvir, pode se transformar num ensaio para a desvirtualização da coesão social.
Nesta tentativa de catalisar a audiência, Salú Gonçalves está a assumir um papel, como se de órgão de soberania se tratasse.
A justeza jornalística leva-nos aos pressupostos que regem a profissão, nomeadamente, informar, formar e entreter.
Em momento algum, é passível à intromissão em assuntos de foro jurídico, que ainda estão sob segredo de justiça, ou outros cujas sentenças não agradem a todos.
A justiça é isto mesmo.
É o equilíbrio e a distância entre a culpa e a inocência, cuja presunção deve ser preservada.
Os órgãos de comunicação social devem servir como interlocutores entre os diferentes poderes, executivo, legislativo e judicial, visando garantir o acesso dos cidadãos aos variados serviços, cientes dos seus direitos e deveres.
Não à instigação.”
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