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domingo, 2 de fevereiro de 2014

Teixeira dos Santos não sabe de “saco azul” no Orçamento


Ex-ministro das Finanças defendeu a necessidadede um programa cautelar

Abílio Ferreira  7:39 Terça feira, 28 de janeiro de 2014


Teixeira dos Santos acha normal as dotações previsionais e defende um programa cautelar após a saída da troika.

O ex-ministro socialista das Finanças, Teixeira dos Santos não percebe a que rubrica se refere Manuel Ferreira Leite quando acusa este governo de dotar o Orçamento de 2014 com um "saco azul" de 523 milhões de euros.

Se Ferreira Leite "está a falar da dotação previsional, trata-se de uma prática corrente em qualquer Orçamento para acorrer a emergências ou gastos inesperados, sem ter uma utilização discricionária pelo Ministério das Finanças", disse Teixeira dos Santos ao Expresso, à margem do debate em que segunda-feira à noite participou, organizado pelo Clube dos Pensadores, em Gaia.

Perante uma plateia de cem pessoas, sem caras conhecidas da política ou economia, Teixeira dos Santos defendeu o recurso a um programa cautelar, após o fim da intervenção da troika.

Tal programa "funciona como uma rede de segurança" que concede conforto aos credores no caso de "vicissitudes surgirem no caminho" e será visto "como elemento credibilizador" que favorece um acesso mais fácil e barato aos mercados.

Mas,  advertiu, não se deve pensar que o ajustamento e os sacrifícios estão perto do fim. Se em 2017, o défice público tem de ser 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), tal redução envolve um esforço enorme. É que a austeridade "é como uma mola". O primeiro aperto dá um grande resultado, mas depois "quando mais de comprime menos se ganha".

Sócrates ignorado

O ex-ministro evitou qualquer referência a José Sócrates, voltou a ajustar contas com o comissário europeu Olli Rehn e criticou duramente a reforma de Estado de Paulo Portas, dizendo que era um "exercício de corta e cola feito durante uma viagem de avião".

Ao longo das duas horas de debate, o único momento de tensão surgiu quando um sindicalista dos seguros o confrontou com a citação de um boletim sindical em que falava dos "figurões do PS" que se aliavam "ao grande capital". O ex-ministro ignorou olimpicamente " a provocação", reafirmando que nada tinha a ver com a política ou o PS.

Mais à frente, desafiado a falar de qual será, afinal a saída para o país haveria de dizer que “não acredita em profetas do sucesso nem planeadores iluminados” e que numa economia aberta como a portuguesa, os resultados "dependem da dinâmica do sector privado". Lamentou também que o país esteja descapitalizado por não contar de grandes grupos empresariais, ficando, por isso, mais vulnerável às investidas do capital estrangeiro.

Mérito e culpa da Europa

Sobre a sua política no Ministério das Finanças e a adotada pelo atual governo, Teixeira dos Santos recorreu à narrativa habitual, com ligeiras nuances programáticas. Este governo "não tem rumo, adotou uma estratégia aos ziguezagues" que injetou desconfiança nos agentes económicos. O ponto chave ocorreu quando o governo se tornou evidente que o ajustamento não poderia ser feito no imediato pela lado da despesa. Nessa altura, o governo deveria ter revisto "o perfil do acordo" com a troika, em vez de aumentar os impostos.

Reduzir o défice de 5,8% para 5,2% do PIB (sem medidas extraordinárias) não lhe parece "um grande facto", tendo em conta "o brutal aumento de impostos". Há sinais de retoma, mas são "fracos e incipientes", insuficientes "para se cantar vitória".

O severo ajustamento interno contribuiu para melhorar a imagem junto dos mercados, mas o mérito principal está nas decisões da União Europeia (UE), em meados de 2012. Nessa altura, o anúncio da reforma da União Bancária, a declaração solene de que o perdão de dívida na Grécia era irrepetível (ou irrevogável, como ironizou) e a promessa do Banco Central Europeu de que estava pronto para fazer tudo para salvar o euro, acalmaram os mercados e marcaram um ponto de viragem na situação da Europa.

Na origem da crise, Teixeira dos Santos aponta também o dedo à UE. O euro fora fundado sobre uma "trindade sagrada": Não há resgates, não há falências, não há saídas do euro. Mas, ao primeiro choque, a UE revelou incapacidade para lidar com a crise grega, surgindo "cenários de perdas para os credores" e avolumando-se "a perceção de risco em relação aos países mais débeis".

O ex-ministro não sabe se a aprovação do PEC IV impediria o pedido de resgate, mas tem a certeza de que o momento em que pediu assistência financeira foi o adequado. Se Olli Rehein diz o contrário é porque "quer cavalgar o atual momento de descompressão" depois de ter estado sob fogo cruzado.


Teixeira dos Santos diz que se Portugal tivesse pedido ajuda logo depois da Grécia, suportaria taxas mais altas e prazos mais curtos no pagamento do empréstimo. No momento em que pediu socorro, dispôs de maior capacidade negocial "porque a UE já interiorizara que a receita grega não funcionava" e adotara uma política de maior compreensão para com os países em dificuldades.

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