Restaurar o financiamento da
economia é um dos desafios dos países sob
ajustamento, diz Trichet JOHNTHYS/afp
PÚBLICO 22/01/2014 -
08:43
Para o ex-presidente do BCE, é sua a decisão sobre a saída do programa de resgate. O que conta capacidade de convencer os investidores de que podem confiar em Portugal.
Quando olha para a
aplicação do programa de resgate financeiro e para alguns indicadores
económicos em Portugal, o ex-presidente do
Banco Central Europeu, diz que há razão para acreditar que “as coisas vão no bom caminho”, tendo
em conta “números das contas públicas, da conta-corrente e do dinamismo das
exportações”.
Nesta altura, considera em
entrevista ao Diário
Económico, o mais importante na avaliação da situação portuguesa
pelos mercados é o compromisso de Portugal. A poucos meses de terminar o actual
empréstimo de 78 mil milhões de euros, Jean-Claude Trichet diz que cabe ao
Governo português tomar uma decisão sobre um eventual programa cautelar.
“O que conta é a qualidade da
vossa assinatura perante os investidores. Nenhum país é igual: a Grécia não é
Portugal e Portugal não é a Irlanda.
Portugal deve decidir por si”,
diz, na mesma entrevista. “O que conta é o julgamento que Portugal faz da sua
capacidade de convencer os investidores de que podem confiar em Portugal e na
economia portuguesa”.
Para Trichet — que antecedeu Mario Draghi na presidência
do BCE quando Portugal negociou com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional
o empréstimo externo — o problema principal de Portugal, Grécia e Irlanda “foi
que, a certa altura, pareceu aos olhos dos investidores que a situação destes
países não era sustentável” e o “caminho escolhido” por Portugal passou por um
ajustamento “de forma ordenada” que pudesse corrigir os desequilíbrios.
Ao fim de quase três anos de
resgate, na avaliação que faz do programa português deixa elogios, mas também
avisos. Não só no caso português, mas também dos outros países que enfrentaram
maior desconfiança dos mercados, “o maior problema agora é restaurar o
financiamento apropriado”. E em particular, diz, é preciso “diminuir as taxas
de juro no crédito em alguns países que têm um prémio de risco elevado. Para
isso é preciso continuar a limpar a casa no sector privado e nos bancos
comerciais, para que sejam o mais credível possível”.
“De certa forma, já há eurobonds”
na zona euro
Quando questionado sobre o
impacto que um esquema de emissão de obrigações europeias pudesse ter para a diminuição
do risco, Trichet reforça que “o que conta mesmo é a credibilidade do país, não
as eurobonds”, ou seja, a emissão conjunta de dívida na zona euro. “É
preciso que a consolidação continue. A assinatura do Estado continua a ser o
mais importante para os investidores”.
Para Trichet, “de certa forma, já
há eurobonds, porque o MEE [Mecanismo Europeu
de Estabilidade] financia-se nos mercados para emprestar aos países”. E
“imaginar que poderíamos ter a assinatura de todos os Tesouros [dos países] da
zona euro fundida numa só assinatura, com todas as consequências que isso
teria, porque significava que todas as decisões de despesa seriam feitas por uma
entidade comum, é impossível”.
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