Secretário de Estado da Cultura
Diário Económico 04/02/14 00:05
A Christie's foi mandatada por Portugal para leiloar 85 obras de Joan Miró
que pertenciam ao espólio do BPN. A Parvalorem, depositária dos quadros, obteve
um valor-base de 35 milhões de euros.
A receita do leilão servirá para abater à dívida do BPN à Caixa Geral de
Depósitos. O leilão está a gerar um grande interesse a nível internacional e o
recorde de um quadro do pintor catalão está nos quase 30 milhões de euros pagos
pela ‘Estrela Azul' em 2012. A colecção portuguesa representa sete décadas da
arte de Miró, como a própria leiloeira inglesa faz questão de titular.
Portugal está a reagir neste caso como, infelizmente, já é habitual. Os
quadros, passaram dos cofres do BPN para os da Caixa após a nacionalização -
nunca foram expostos em Portugal, apesar de alguns terem viajado para Nova
Iorque, onde integraram uma retrospectiva do autor - e estão há um ano para
serem vendidos sem que ninguém tenha posto esta hipótese em causa.
Só no último momento uma parte do País se levantou contra a venda das obras
e foi interposta uma providência cautelar. Não se põe em causa o valor
artístico da colecção, nem que Portugal ficará culturalmente mais pobre sem ela,
mas também não é possível esquecer que existe uma dívida significativa para
pagar e que ninguém garante que, mesmo que não sejam leiloados, os quadros não
vão voltar para o esquecimento. O Museu Nacional de Arte Contemporânea do
Chiado, por exemplo, tem uma grande parte da sua colecção encaixotada, por
falta de espaço para a expor.
Somos especialistas em ignorar as nossas ‘pérolas' até estarmos em risco de
as perder e não vale a pena carpir os quadros de Miró se não soubermos
valorizar outras riquezas do património cultural, sejam elas artísticas,
históricas, arqueológicas ou mesmo industriais.
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