Felizmente, ao
contrário do que anteviram muitos profetas da desgraça, Portugal não vai
precisar em definitivo de um novo resgate. Muito pelo contrário, com o fim do
programa de ajustamento à vista, é cada vez mais certo que vamos voltar aos
mercados da dívida, vamos de novo ser um país que se financia por si
próprio
nos mercados financeiros.
Mais, até há poucos
dias pensou-se que teríamos uma melhor das hipóteses e uma hipótese menos boa,
o céu seria uma saída à irlandesa, a saída menos boa seria um plano cautelar, uma
espécie de retomo amparado pelos nossos parceiros internacionais. Pois nesta
altura parece que a decisão entre uma e outra hipótese pode muito bem ser
nossa, ou seja, até neste ponto o nosso país terá ganho credibilidade
suficiente para decidir o seu futuro, o que em si, depois de todos os
sacrifícios, é uma notícia gratificante.
A discussão está
pois, nesta altura, entre qual das vias melhor defende o país, se um regresso
puro e duro aos mercados da dívida, com emissões como fazíamos antes do resgate,
se um acordo negociado, e ambas as possibilidades apresentam vantagens e
inconvenientes.
O nosso PR, por
exemplo, defende que com o programa cautelar temos uma espécie de rede de
segurança; o presidente do CES (Silva Peneda) apela também a um programa
cautelar acordado pelos três partidos do arco da governação, para não ter de
ser definido burocraticamente às cegas em Bruxelas; o governador do BdP (Carlos
Costa) também joga pelo programa cautelar, segundo ele o que melhor nos
defende em caso de turbulência nos mercados financeiros.
A saída à irlandesa,
não isenta de riscos, é também tentadora, pois é de certa forma pôr uma pedra
em cima do que se passou, é reassumirmos a nossa plena independência
financeira.
Infelizmente, a
política vai aqui entrar, para definir as suas regras, e a decisão, pertencendo
aos nossos decisores, corre o risco de vir a ser a que melhor defende
eleitoralmente quem tiver poder para a tomar.
De facto, um programa
cautelar terá sempre por trás o seguimento das políticas restritivas
actualmente em curso, e portanto
impopulares, não vão abrandar, o Estado continuará a emagrecer, os impostos
não irão baixar e os salários e as reformas não serão certamente aumentados.
Pelo contrário, uma
saída livre para os mercados deixa as mãos livres aos decisores políticos, o
propalado fim da crise poderá ser festejado com pompa e circunstância pelo governo,
que atrás nas intenções de voto poderá socorrer-se de políticas expansionistas
para convencer indecisos, políticas que serão pagas com juros mais à frente por
todos nós.
E é aqui que deve
entrar a oposição, nomeadamente o PS, que deve falar claro em vez de continuar
a fingir-se de morto à espera que
o poder lhe caia nos braços. O PS tem jogado simplesmente no erro do
adversário, neste caso na possibilidade de o país não conseguir concluir o
programa de ajustamento, ou então, na pior das hipóteses, de somente com ajuda
externa o conseguir, ou seja, por via de um programa cautelar.
Fazendo-o, empurra literalmente os partidos
do governo para uma saída airosa, saída à irlandesa, que para mais ainda lhes
deixa as mãos livres para poder tomar medidas eleitoralistas, situação que em
nada nos virá ajudar.
Não está aqui em
causa que medidas expansionistas, mais cedo ou mais tarde, tenham de vir a ser
tomadas. A procura interna vai um dia ter de recuperar, mas primeiro é
preciso pôr em ordem as contas públicas, é preciso baixar o défice para valores
sustentáveis, situação ainda longe de ser atingida.
O PS, não governando,
tem mesmo assim uma influência desmedida, pois o tipo de oposição que for daqui
até às eleições em muito vai influenciar o nosso destino colectivo. Em vez de
subir a fasquia, o PS deve antes pôr-se de lado da solução que melhor defende
o país, o que significa pôr-se de acordo com o governo quanto ao pós-troika, condicioná-lo no sentido de não
deitar tudo a perder na época que antecede as eleições, em vez de se limitar a
aproveitar a contestação da rua.
Se for capaz de o
fazer, empurrando o governo para a escolha de uma solução mais segura em vez de
aventureirismos, o PS provará que é uma alternativa credível. Pelo contrário,
se a cegueira dos votos ultrapassar a capacidade de discernimento, o Dr.
Seguro até pode ser eleito PM, mas será sempre uma eleição muito parecida com a
eleição do seu correligionário Hollande, sem base programática para os
problemas que hoje vivemos, accionando uma bomba relógio que depois vai
rebentar, nas mãos dele, e, pior, nas nossas.
Eng. agrónomo, gestor de empresas
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