DIRECÇÃO EDITORIAL
04/02/2014-22:35
Na ampliação do Museu do Chiado que se anuncia pode estar
um a solução para a colecção Miró
Se juntarmos
duas notícias diferentes em que Jorge Barreto Xavier é ouvido neste jornal, a da
colecção Miró e a da ampliação do Museu do Chiado, encontramos um novo
argumento, e forte, para o Estado decidir travar a venda das 85 obras em
Londres. Coisa que a Christie’s
prudentemente já fez, ao cancelar o leilão da colecção
Miró.
Quando o
Museu do Chiado ficar completo, com as suas obras de ampliação, parte dos 3300
metros quadrados que ganhará poderiam ser usados para expor tais obras.
Imaginemos as escadarias do Governo Civil a darem entrada para um espaço onde
esta magnífica colecção, pelo que podemos ver pelo catálogo da Christie’s, encontraria finalmente a sua vocação em Portugal: dar ao Museu do Chiado,
que durante anos esteve “escondido” com a sua entrada enviesada na rua Serpa
Pinto, um complemento que o tornaria um destino obrigatório dos portugueses e
turistas que procuram o centro de Lisboa como espaço de cultura e lazer.
Se esta era a mais importante
colecção do pintor catalão nas mãos de privados, passando para o Estado após a
privatização do BPN, ela pode ser perfeita para a afirmação internacional do
Museu do Chiado como Museu Nacional de Arte Contemporânea. Não se trata de
fazer um novo museu, mas sim de garantir o crescimento a prazo do museu actual,
dando-lhe uma dimensão que até
aqui nunca teve — e que agora, por paradoxal que seja, lhe é proporcionada por
um secretário de Estado que tão mal geriu o dossier Miró.
Se em leilão as 85 obras poderiam
valer, para tapar parte do buraco do BPN que é pago pelos contribuintes, algo
como 36 milhões de euros, nada garante que, a prazo, ficando em Portugal, elas
não venham a render bastante mais. Impunha-se tal estudo antes de se avançar
para a apressada venda, estratégia que o Governo parece preferir, trocando por
dinheiro valores que nenhum dinheiro pagará. Se daqui em diante todos agirem
com o bom senso demonstrado pela Christie’s talvez o caso Miró não venha a envergonhar-nos tanto.
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