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sábado, 8 de fevereiro de 2014

Eleições à vista. Grécia a caminho do terceiro resgate dá boleia a Portugal


Eleições à vista.

Grécia a caminho do terceiro resgate dá boleia a Portugal
Zona euro pode dar mais 20 anos aos gregos para pagarem dívida, admite baixar juros e juntar um novo envelope de até 15 mil milhões. Condições serão aplicadas a Portugal e Chipre

ANTÓNIO RIBEIRO FERREIRA

As eleições europeias têm mes­mo muita força. Até Maio nin­guém quer ondas e convulsões na zona euro. Por isso mesmo, os gregos, que estão na presi­dência da União Europeia até Junho, bateram o pé à troika quando apresentaram em Outu­bro o Orçamento do Estado para 2014 e levaram um rotundo não dos credores internacionais. Mas Samaras e companhia jogaram sabiamente com as preocupa­ções eleitorais dos responsáveis europeus e a dureza de outros tempos deu lugar a uma enor­me generosidade. É verdade. A Grécia vai ter o seu terceiro res­gate na Primavera e, ao mesmo tempo, consegue alterar as con­dições de pagamento das ver­bas já avançadas pelos credores europeus até ao momento. O assunto está obviamente a ser preparado nos bastidores, mas ontem vieram a público porme­nores do terceiro resgate que vão também ser aplicados a Por­tugal. Ouro sobre azul, a deci­são sobre a Grécia cai em cima do fim do programa de ajusta­mento português e da decisão sobre o pós-troika. Quer dizer que o governo de Lisboa tem a faca e o queijo na mão para impor
as suas condições ao Eurogrupo e aos ministros das Finanças da União Europeia. Saída lim­pa ou programa cautelar, mais suave ou mais duro, será uma decisão em que Portugal terá uma importante palavra a dizer a poucos dias das eleições euro­peias. Com a extrema-direita a ganhar terreno em muitos paí­ses e os eurocépticos a conquis­tarem muitos votos aos parti­dos europeus tradicionais, nem Merkel nem Hollande querem turbulências na zona euro com gregos e portugueses. É mesmo uma oportunidade única para os dois países, a par de Chipre, conseguirem amaciar a dureza das condições impostas pelas respectivas troikas.

MATURIDADES ATÉ AOS 50 ANOS
Fontes europeias citadas ontem pela agência financeira Bloomberg adiantaram que o próximo desembolso do resgate grego pode incluir extensão de maturidades até aos 50 anos, mais 20 que as actuais, e quedas de 50 pontos-base das taxas de juro para tranches já pagas.
Um outro responsável citado pela Bloomberg adiantou que o plano, que deverá ser confirma­do pelos decisores políticos em Maio ou Junho, pode incluir também um empréstimo entre os 13 mil milhões e os 15 mil milhões de euros.
A Grécia, que recebeu 240 mil milhões de euros em dois res­gates financeiros, já tinha visto os termos do empréstimo sua­vizados pela zona euro e pelo Fundo Monetário Internacional quando seguia já no sexto ano consecutivo de recessão.

EUROGRUPO DISPONÍVEL
Na ter­ça-feira, em entrevista à televi­são holandesa RTLZ, o presi­dente do Eurogrupo e também ministro das Finanças da Holan­da admitiu estar disponível para “aliviar a dívida” da Grécia, a exemplo do que já tinha admi­tido o ministro das Finanças ale­mão, Wolfgang Schäuble: “O que podemos fazer é aliviar a dívi­da, que foi o que fizemos antes através de uma taxa de juro mais baixa ou da extensão da matu­ridade dos empréstimos. Esse tipo de medidas é possível, mas desde que os compromissos da Grécia sejam cumpridos”, afirmou Jeroen Dijsselbloem.

Maturidades dos empréstimos europeus já pagos podem passar de 30 para 50 anos

Juros a pagar descem 50 pontos-base e Grécia pode receber entre 13 e 15 mil milhões

PORTUGAL: MAIS SETE ANOS
Da última vez que a Grécia conseguiu aliviar juros e maturidades, Portugal também melhorou as suas condições junto dos credores, em conjunto com a Irlanda. O acordo tinha sido obti­do em Março do ano passado e foi concretizado em Junho. Por­tugal conseguiu a extensão por sete anos das maturidades dos empréstimos com Olli Rehn, comissário europeu, a declarar no final da reunião do Ecofin que “esta extensão fará uma dife­rença real, melhorando ainda mais as perspectivas de ambos os países para um regresso sus­tentado ao financiamento dos mercados quando saírem dos seus programas, neste Outono no caso da Irlanda, na próxima Primavera no caso de Portugal”.
A Irlanda já saiu em Dezem­bro sem programa cautelar e em cima da mesa do Eurogru­po e do Ecofin está o caso por­tuguês, que, como é natural, tem feito correr rios de tinta em Por­tugal e na imprensa estrangei­ra especializada. A decisão será com certeza tomada em Abril, a um mês das eleições europeias, e a única certeza é que Portu­gal não terá um segundo resga­te. Com Lusa


Números

240
mil milhões de euros já foram emprestados à Grécia desde Maio de 201
20
anos de extensão de maturidades é a proposta que o Eurogrupo está a estudar.
50
pontos-base é a baixa prevista nos juros a pagar pelos gregos sobre tranches já entregues.
15
mil milhões de euros é o valor máximo previsto para o terceiro resgate grego.
0,6%
do PIB é o crescimento económico previsto pelo governo grego para 2014


Orçamento de 2014 foi aprovado contra a vontade da troika
Governo de Samaras promete crescimento de 0,6% do PIB

O parlamento grego aprovou no dia 7 de Dezembro o Orçamento para 2014 por 153 votos a favor e 142 contra. O texto “prevê um excedente primário de 1,6% do produto interno bruto, um crescimento de 0,6% e uma diminuição da dívida, um pouco abaixo dos 175% do PIB”. O orçamento foi apresentado ao parlamento sem o aval da troika. Durante o debate, os representantes dos credores internacionais da Grécia (EU, BCE, FMI) anunciaram que não se deslocariam ao país antes de Janeiro porque Atenas não cumpre as suas obrigações. Segundo a imprensa do país, a Grécia devia ter cumprido 135 compromissos no Outono passado e só tinha concretizado 60. “A aparente decisão do governo grego de legislar unilateralmente ou de tomar decisões sobre as questões em discussão com troika, como os impostos sobre o imobiliário, a redução do IVA na restauração ou a transferência em massa de funcionários públicos, é vista como uma provocação”, afirmou na altura um funcionário europeu a um jornal grego.

“Para a EU, a Grécia continua a representar um buraco no Orçamento”, constatava, por seu lado, o “Frankfurter Allegemeine Zeitung”. O diário alemão estava muito cético em relação a este novo Orçamento:”O governo de coligação grego ganhou esta prova à justa. Mas não há nenhuma razão para nos juntarmos ao primeiro-ministro Antonis Samaras quando ele fala “de um dia histórico” para a Grécia. É certo que Atenas apresenta, pela primeira vez em vários anos, um excedente primário, ou seja, um excedente de Orçamento que não tem em conta (o enorme) peso da dívida do Estado. Mas esse excedente é o resultado de um expediente matemático, como o adiamento do pagamento de facturas a fornecedores. As importantes reformas estruturais são postas de lado”, concluía o jornal alemão.

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