Eleições à vista.
Grécia a caminho do terceiro resgate dá boleia a Portugal
Zona euro pode dar
mais 20 anos aos gregos para pagarem dívida, admite baixar juros e juntar um
novo envelope de até 15 mil milhões. Condições serão aplicadas a Portugal e
Chipre
ANTÓNIO RIBEIRO FERREIRA
As eleições europeias
têm mesmo muita força. Até Maio ninguém quer ondas e convulsões na zona euro.
Por isso mesmo, os gregos, que estão na presidência da União Europeia até
Junho, bateram o pé à troika quando apresentaram em Outubro o Orçamento do
Estado para 2014 e levaram um rotundo não dos credores internacionais. Mas
Samaras e companhia jogaram sabiamente com as preocupações eleitorais dos
responsáveis europeus e a dureza de outros tempos deu lugar a uma enorme
generosidade. É verdade. A Grécia vai ter o seu terceiro resgate na Primavera
e, ao mesmo tempo, consegue alterar as condições de pagamento das verbas já
avançadas pelos credores europeus até ao momento. O assunto está obviamente a
ser preparado nos bastidores, mas ontem vieram a público pormenores do
terceiro resgate que vão também ser aplicados a Portugal. Ouro sobre azul, a
decisão sobre a Grécia cai em cima do fim do programa de ajustamento
português e da decisão sobre o pós-troika. Quer dizer que o governo de Lisboa
tem a faca e o queijo na mão para impor
as suas condições ao
Eurogrupo e aos ministros das Finanças da União Europeia. Saída limpa ou
programa cautelar, mais suave ou mais duro, será uma decisão em que Portugal
terá uma importante palavra a dizer a poucos dias das eleições europeias. Com
a extrema-direita a ganhar terreno em muitos países e os eurocépticos a
conquistarem muitos votos aos partidos europeus tradicionais, nem Merkel nem
Hollande querem turbulências na zona euro com gregos e portugueses. É mesmo uma
oportunidade única para os dois países, a par de Chipre, conseguirem amaciar a
dureza das condições impostas pelas respectivas troikas.
MATURIDADES ATÉ AOS 50
ANOS
Fontes europeias
citadas ontem pela agência financeira Bloomberg adiantaram que o próximo
desembolso do resgate grego pode incluir extensão de maturidades até aos 50
anos, mais 20 que as actuais, e quedas de 50 pontos-base das taxas de juro para
tranches já pagas.
Um outro responsável
citado pela Bloomberg adiantou que o plano,
que deverá ser confirmado pelos decisores políticos em Maio ou Junho, pode
incluir também um empréstimo entre os 13 mil milhões e os 15 mil milhões de
euros.
A Grécia, que recebeu
240 mil milhões de euros em dois resgates financeiros, já tinha visto os
termos do empréstimo suavizados pela zona euro e pelo Fundo Monetário
Internacional quando seguia já no sexto ano consecutivo de recessão.
EUROGRUPO DISPONÍVEL
Na terça-feira, em
entrevista à televisão holandesa RTLZ, o presidente do Eurogrupo e também
ministro das Finanças da Holanda admitiu estar disponível para “aliviar a
dívida” da Grécia, a exemplo do que já tinha admitido o ministro das Finanças
alemão, Wolfgang Schäuble: “O que podemos fazer
é aliviar a dívida, que foi o que fizemos antes através de uma taxa de juro
mais baixa ou da extensão da maturidade dos empréstimos. Esse tipo de medidas é
possível, mas desde que os compromissos da Grécia sejam cumpridos”, afirmou
Jeroen Dijsselbloem.
Maturidades
dos empréstimos europeus já pagos podem passar de 30 para 50 anos
Juros a pagar descem 50 pontos-base
e Grécia pode receber entre 13 e 15 mil milhões
PORTUGAL: MAIS SETE ANOS
Da última vez que a
Grécia conseguiu aliviar juros e maturidades, Portugal também melhorou as suas
condições junto dos credores, em conjunto com a Irlanda. O acordo tinha sido
obtido em Março do ano passado e foi concretizado em Junho. Portugal
conseguiu a extensão por sete anos das maturidades dos empréstimos com Olli
Rehn, comissário europeu, a declarar no final da reunião do Ecofin que “esta
extensão fará uma diferença real, melhorando ainda mais as perspectivas de
ambos os países para um regresso sustentado ao financiamento dos mercados
quando saírem dos seus programas, neste Outono no caso da Irlanda, na próxima
Primavera no caso de Portugal”.
A Irlanda já saiu em
Dezembro sem programa cautelar e em cima da mesa do Eurogrupo e do Ecofin
está o caso português, que, como é natural, tem feito correr rios de tinta em
Portugal e na imprensa estrangeira especializada. A decisão será com certeza
tomada em Abril, a um mês das eleições europeias, e a única certeza é que Portugal
não terá um segundo resgate. Com Lusa
Números
240
mil milhões de euros já foram
emprestados à Grécia desde Maio de 201
20
anos de extensão de maturidades é
a proposta que o Eurogrupo está a estudar.
50
pontos-base é a baixa prevista
nos juros a pagar pelos gregos sobre tranches já entregues.
15
mil milhões de euros é o valor
máximo previsto para o terceiro resgate grego.
0,6%
do PIB é o crescimento económico
previsto pelo governo grego para 2014
Orçamento de 2014 foi aprovado
contra a vontade da troika
Governo de Samaras promete crescimento de 0,6% do PIB
O parlamento grego aprovou no dia 7 de
Dezembro o Orçamento para 2014 por 153 votos a favor e 142 contra. O texto “prevê
um excedente primário de 1,6% do produto interno bruto, um crescimento de 0,6%
e uma diminuição da dívida, um pouco abaixo dos 175% do PIB”. O orçamento foi
apresentado ao parlamento sem o aval da troika. Durante o debate, os
representantes dos credores internacionais da Grécia (EU, BCE, FMI) anunciaram
que não se deslocariam ao país antes de Janeiro porque Atenas não cumpre as
suas obrigações. Segundo a imprensa do país, a Grécia devia ter cumprido 135
compromissos no Outono passado e só tinha concretizado 60. “A aparente decisão
do governo grego de legislar unilateralmente ou de tomar decisões sobre as
questões em discussão com troika, como os impostos sobre o imobiliário, a
redução do IVA na restauração ou a transferência em massa de funcionários
públicos, é vista como uma provocação”, afirmou na altura um funcionário
europeu a um jornal grego.
“Para a EU, a Grécia
continua a representar um buraco no Orçamento”, constatava, por seu lado, o “Frankfurter
Allegemeine Zeitung”. O diário alemão estava muito cético em relação a este
novo Orçamento:”O governo de coligação grego ganhou esta prova à justa. Mas não
há nenhuma razão para nos juntarmos ao primeiro-ministro Antonis Samaras quando
ele fala “de um dia histórico” para a Grécia. É certo que Atenas apresenta,
pela primeira vez em vários anos, um excedente primário, ou seja, um excedente
de Orçamento que não tem em conta (o enorme) peso da dívida do Estado. Mas esse
excedente é o resultado de um expediente matemático, como o adiamento do
pagamento de facturas a fornecedores. As importantes reformas estruturais são
postas de lado”, concluía o jornal alemão.
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