Edgar Caetano
FUTURO DA GRÉCIA
Bancos gregos continuam a ter acesso a liquidez, ainda que mais cara.
Decisão do BCE cria um risco de liquidez limitado, mas as consequências políticas são imprevisíveis.
Caiu como uma bomba a decisão do BCE de antecipar a exclusão da dívida grega como ativo elegível para garantia.
Sobretudo numa altura em que, no jogo político que está a desenrolar-se na zona euro, os responsáveis estavam a dar sinais de quererem aproximar-se, tornando o ar mais respirável do que na semana anterior a primeira do Governo Tsipras-Varoufakis na Grécia. Os mercados abriram em baixa esta quinta-feira, esfumando-se boa parte da recuperação registada nos dias anteriores.
Os analistas relativizam o impacto da decisão, que já tinha sido sinalizada por Constâncio , salientando que esta não gera um risco de liquidez no imediato mas que tem consequências políticas importantes.
Consequências que, contudo, até podem ser positivas, admitem alguns analistas.
O waiver (regime de exceção) para a dívida grega, que permitia a sua utilização normal apesar do rating de lixo, iria expirar no final do mês de fevereiro, mas porque “não é possível esperar-se nesta altura que a revisão do programa seja concluída com sucesso”, o BCE decidiu antecipar essa decisão.
Se esta não surpreendeu pelo conteúdo, surpreendeu pelo timing, já que foi anunciada na noite após a reunião do ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, com o presidente do BCE, Mario Draghi.
Alguns analistas comentaram que Mario Draghi, que acaba de vencer enorme resistência interna para anunciar o inédito plano de compra de dívida pública, não terá gostado de ouvir Yanis Varoufakis dizer, após o encontro, que “o BCE é o banco central da zona euro e fará o que for necessário” para apoiar Estados-membros como a Grécia.
“Quaisquer esperanças de que o novo Governo grego poderia contar com o BCE para ganhar mais algum tempo [para negociar com os parceiros europeus] foram anuladas”, diz Christian Schulz, do Berenberg Bank.
No entanto, a decisão não afeta a situação de liquidez dos bancos no imediato, explica especialista.
Isto porque os bancos gregos, que já têm reduzido nos últimos anos a quantidade de dívida grega usada como colateral, podem continuar a usar outros ativos (com rating de qualidade) para obter liquidez junto do BCE.
Se não for suficiente, como não deverá ser, os bancos também têm acesso à plataforma de emergência do BCE, a ELA (Emergency Liquidity Assistance), em que “em vez do BCE, é o Banco da Grécia e, portanto, o contribuinte grego que assume o risco e passa a ser o credor de último recurso para os bancos gregos”, explica Christian Schulz.
Já Frederik Ducrozet, economista do Crédit Agricole, diz que “o maior risco desta decisão é que possa intensificar a fuga de depósitos, algo que os bancos podem não conseguir compensar com financiamento externo ou com a ELA”.
Esta decisão é, na opinião do economista, “uma decisão arriscada, mas um risco calculado“, que irá pressionar o Governo grego e os responsáveis políticos da zona euro a chegar a um acordo nas próximas semanas”.
Liquidez mais cara.
E que pode perder-se a qualquer momento
Contudo, há dois problemas práticos com esta situação.
É que a autorização para o recurso à ELA junto do banco central nacional, que foi alargada pelo BCE até 18 de fevereiro, pode ser removida pelo BCE, a qualquer momento, desde que haja uma maioria de dois terços no Conselho de Governadores.
A renovação da ELA é avaliada a cada duas semanas.
Além disso, esta liquidez é um pouco mais cara do que os 0,05% que são, neste momento, a taxa de juro diretora nas operações normais do BCE.
Em novembro, Yannis Stournaras, o governador do banco central, disse que a ELA tem uma taxa de juro de 1,55%.
Além das questões práticas, a decisão do BCE está a ser vista como um “sinal político forte, que é um grande golpe para a posição negocial da Grécia“, diz Christian Schulz, do Berenberg Bank.
Mas os analistas do banco holandês Rabobank dizem que “embora possa parecer paradoxal, o facto de o BCE estar a subir a parada pode ser um fator positivo, a prazo”, para a resolução da crise grega.
Porquê?
“Porque aumenta as probabilidades de que seja obtido um compromisso antes do final do atual programa de ajustamento [28 de fevereiro]”.
Os especialistas dizem que, apesar dos riscos, “continuamos a ter uma visão de copo meio cheio deste impasse em torno da Grécia, e acreditamos que só com endurecimentos das posições como este será possível chegar a uma solução”.
Além disso, uma decisão como esta ajuda a mostrar que “os riscos de não chegar a compromissos são demasiado elevados para que se possa considerar um final infeliz como o cenário mais provável”.
Silvia Merler, economista do think tank Bruegel, diz que os riscos de liquidez “são geríveis, mas as consequências políticas podem see menos“.
“Se o BCE tivesse deixado os políticos discutir primeiro, e se o Eurogrupo concluísse que a Grécia já não reunia condições para estar sob programa, então as condições necessárias para o regime de exceção (waiver) deixariam de existir”.
Esta é, portanto, uma “ação preventiva por parte do BCE, que protege formalmente a independência do banco central, mas também reforça o jogo político que vai jogar-se na próxima semana”.
Deverá haver uma reunião do Eurogrupo a dia 11, na véspera do Conselho Europeu de dia 12.jjjjjjjjjjkkkkkkkFUTURO DA GRÉCIA
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