Syriza, liderado por Alexis Tsipras, prometia "uma anulação da maior parte da dívida pública".
3/2/2015, 11:35 2.402 PARTILHAS
Edgar Caetano
Governo grego deixou cair uma proposta central do seu programa eleitoral, que passava por um corte direto da dívida.
Os mercados gostaram.
Varoufakis recusa que tenha havido um recuo.
“Exigimos um final imediato para a austeridade, um acordo com vista a um corte no valor da dívida e uma redução significativa no custo anual com o serviço de dívida”.
Estas foram as promessas que Alexis Tsipras fez no início de dezembro, quando não se sabia ainda que o país teria eleições antecipadas no início de 2015.
Os planos acabaram vertidos no programa eleitoral programa eleitoral com que o Syriza quase conseguiu maioria absoluta nas eleições de 25 de janeiro de 2015.
O Syriza prometia cortar “grande parte do valor da dívida”, no âmbito de uma mega conferência europeia, e introduzir “cláusulas de crescimento” para o pagamento do restante.
Esta segunda-feira, o governo grego deixou cair a parte do perdão direto.
O governo está a “cair na realidade”, diz um economista.
Os mercados europeus receberam favoravelmente a divulgação dos contornos principais do chamado "Plano Varoufakis" .
A bolsa de Atenas está a subir mais de 10%, enquanto as taxas de juro a três anos estão a cair 150 pontos base (1,5 pontos percentuais) para 13,73% e a 10 anos cerca de um ponto percentual para 9,95%.
Os investidores estão a reagir não só a mais uma garantia de que não está nos planos do novo governo grego impor perdas aos obrigacionistas privados (que têm menos de um quinto da dívida total) mas, também, a uma maior confiança de que o governo está a suavizar a sua posição de uma forma que torna menos provável uma saída da zona euro e um colapso do sistema financeiro grego.
Alexis Tsipras tinha vindo, no fim de semana, clarificar : “A minha obrigação para com o povo grego que me elegeu é acabar com as políticas de austeridade e voltar a uma agenda de crescimento económico, mas isso não implica de modo algum que não vamos cumprir as nossas obrigações de empréstimo para com o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI)”. Já na altura esta declaração foi vista como um recuo de Alexis Tsipras, pressionado pela forte queda das ações dos bancos na semana anterior e pela intransigência que o governo grego está a encontrar nos seus encontros com responsáveis da zona euro. Mesmo o ministro das Finanças francês, Michel Sapin, afirmou que o objetivo é “negociar, adiar ou aliviar, mas nunca “cancelar” o pagamento da dívida grega.
Agora, o ministro das Finanças do novo governo de Atenas, Yanis Varoufakis, veio, finalmente, dar a conhecer as as suas propostas suas propostas para a negociação que quer fazer com os parceiros europeus, deixando cair um perdão parcial direto da sua dívida.
Em entrevista ao Financial Times, propôs, em vez disso, substituir a dívida que tem por obrigações indexadas ao crescimento da economia e obrigações perpétuas.
Os especialistas estão a ver as medidas como um recuo, já que, como se pode ler nesta resenha autorizada do programa do Syriza , o primeiro objetivo era uma “anulação da maior parte do valor nominal da dívida pública para que esta se torne sustentável“.
Ainda assim, no Twitter, Yanis Varoufakis rejeitou a ideia de que tenha havido uma “inversão de marcha.
A dívida vai ser colocada numa situação sustentável, mesmo que substituamos o corte da dívida com eufemismos e trocas”.
“Tom mais conciliador”
Em nota enviada aos clientes, a que o Observador teve acesso, os analistas do Rabobank escrevem que “o ministro das Finanças adotou, claramente, um tom mais conciliador“, em comparação, por exemplo, com a forma como falou durante a conferência de imprensa de sexta-feira com o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsellbloem.
Para o Rabobank, esta mudança “surge em linha com a nossa expectativa de que o governo grego irá pestanejar [ceder] antes de ser confrontado com um possível default (incumprimento) ou mesmo uma potencial saída da zona euro”.
Estão reunidas as condições para uma aproximação das posições neste duelo que, segundo o ministro das Finanças do Reino Unido, está a transformar-se maior risco para a economia mundial?
Não necessariamente, diz o Rabobank.
“Apesar desta mudança de tom, o processo de negociações deverá, provavelmente, ter muitos solavancos”, dizem os analistas.
O que parece certo é que “o governo grego está a começar a cair na realidade“, diz à Bloomberg Kevin Featherstone, professor de Estudos Gregos na London School of Economics.
“Alexis Tsipras está a aperceber-se de que as limitações são muito grandes” e “parece certo que a zona euro irá insistir que a Grécia se comprometa com a continuação das reformas estruturais”, acrescenta o académico.
O que aconteceu à mega conferência da dívida?
Uma ideia que parece ter, definitivamente, caído do programa eleitoral é a realização de uma mega conferência europeia para debater a dívida.
Sobretudo depois de o holandês Jeroen Dijsselbloem ter dito que “essa conferência já existe: é o Eurogrupo“.
Esta proposta era uma das principais do Syriza, que em várias ocasiões pediu a realização de uma conferência semelhante à que, em 1953, aliviou a dívida da Alemanha do pós-Guerra.
O governo tem, contudo, cumprido várias promessas eleitorais como a subida do salário mínimo e o congelamento dos principais processos de privatização.
Perante a intransigência europeia, Varoufakis desenhou um plano que considera ser “uma engenharia inteligente de dívida”, em que os empréstimos europeus à Grécia são substituídos por obrigações indexadas ao crescimento nominal da Grécia e a dívida ao Banco Central Europeu (BCE), sobre a qual a Grécia está efetivamente a pagar juros, por obrigações perpétuas.
É este plano que Yanis Varoufakis e Alexis Tsipras estão a transportar consigo nas múltiplas visitas que ambos estão a fazer por estes dias a várias capitais europeias, visitas que não incluem, para já, uma ida a Berlim.
Bolsa de Atenas sobe mais de 10%
A bolsa de Atenas está a recuperar boa parte do terreno perdido após as eleições de dia 25 de janeiro. O índice FTASE está a subir mais de 10% esta terça-feira. Fonte: Bloomberg
Com nova garantia de que a dívida pública que circula nos mercados não será penalizada no “Plano Varoufakis”, também as obrigações gregas estão a valorizar-se, levando à redução das taxas implícitas.
Juros abaixo dos 10% no prazo a 10 anos
Os privados detêm menos de um quinto da dívida total da Grécia. Com a garantia de Yanis Varoufakis de que esta não será incluída no plano de alívio da dívida, as obrigações estão a subir e os juros implícitos a descer. Fonte: Bloomberg
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