João Ribeiro da Fonseca foi presidente da companhia fundada pelo Grupo Espírito Santo e vendida à TAP
1/2/2015, 12:12
Agência Lusa
Ana Suspiro
O ex-presidente da Portugália, João Ribeiro da Fonseca, não acredita que a tentativa de privatizar a TAP se concretize. Defende que só uma fusão com uma companhia chinesa interessa à empresa nacional.
O ex-presidente da Portugália, João Ribeiro da Fonseca, não acredita que a nova tentativa de privatizar a TAP se concretize e defende que apenas a fusão com uma companhia aérea chinesa serve os interesses da empresa portuguesa.
“[Um potencial comprador] só pode ser chinês, porque a China tem capital, tem estratégia e tem mercado.
A China precisa de vir para o Atlântico, precisa de uma plataforma logística que lhe faça a distribuição para o Atlântico”, afirmou em entrevista à Lusa Ribeiro da Fonseca, que liderou os destinos da Portugália durante 16 anos e continua a presidir à assembleia da Associação Portuguesa de Transporte e Trabalho Aéreo (APPTA).
Defensor da privatização da TAP, Ribeiro da Fonseca recusou-se a fazer “avaliações individuais” aos potenciais interessados veiculados pela imprensa, estando convicto de que ainda não será nesta legislatura que a companhia vai deixar de ser pública.
”Não acredito que a TAP vai ser vendida.
E não vislumbro em nenhum candidato o parceiro ideal” para a companhia portuguesa, declarou.
Para o gestor, a TAP precisa de capital, mercado e estratégia, considerando que apenas “uma aliança” com uma companhia aérea chinesa pode dar isso à transportadora nacional: “A China precisa de nós e nós precisamos de um chinês”.
“Depois vêm dizer que os chineses vêm tomar conta disto e o que é que isso interessa? Nós não precisamos de dinheiro?
Eles têm coisas ótimas para nós e nós muitas coisas boas para eles”, lançou.
Ribeiro da Fonseca foi presidente da PGA, a companhia regional fundada pelo Grupo Espírito Santo (GES) e que foi vendida à TAP em 2006 por 140 milhões de euros.
A Portugália era uma empresa deficitária e a sua compra pela transportadora pública, tem sido um dos negócios questionados no quadro da comissão parlamentar de inquérito aos atos de gestão do Banco Espírito Santo e GES.
Na entrevista à Lusa, Ribeiro da Fonseca, mapeou o panorama do setor da aviação, considerando que “não há parceiros disponíveis na Europa”, porque “já todos acasalaram”, dando origem a três grandes grupos.
“Depois temos os EUA, mas estão interessados na Ásia e na América do Sul, que, por seu lado, não têm dinheiro nem força em termos de transporte aéreo.
A América do Sul está num processo de recuperação e a sua grande prioridade é a América do Norte”, prosseguiu.
Fica a faltar o Médio Oriente, que “tem muito capital e uma estratégia, mas não tem mercado, o que comporta um grande risco, porque compram e vendem no dia seguinte”, disse.
Na perspetiva do gestor, “resta a Ásia e, mais concretamente, a China”.
Nesse sentido, adiantou, o Governo deveria “fazer um ‘roadshow’ bem preparado, uma apresentação como deve ser, porque é preciso mostrar a importância que Portugal tem estrategicamente para China, não só pela geografia, mas também pelas infraestruturas”, nomeando o porto de águas profundas de Sines e o aeroporto de Lisboa.
TAP está para ser privatizada há mais de 20 anos
Quando em 1991 assumiu a presidência da Portugália, Ribeiro da Fonseca foi informado – pelo então ministro dos Transportes Ferreira do Amaral — de que a TAP ia ser privatizada. “Estive lá 16 anos.
Conheci pelo menos oito ministros dos Transportes.
Passados 23 anos, a TAP continua à venda”, disse o deputado pelo CDS na assembleia municipal de Cascais, realçando que o adiamento da venda pode ser fatal para a companhia liderada por Fernando Pinto.
O responsável deixa uma chamada de atenção aos “gurus que dizem que a TAP é como a caravela dos descobrimentos e que é fundamental para o turismo”: “Se a TAP morrer amanhã, no dia seguinte aparecem outras [companhias] para a substituir”.
“Temos que vender, mas não pode ser a qualquer um.
E, se não houver nenhum [comprador], não vendemos.
É preciso responsabilizar toda a gente e também os senhores dos sindicatos.
Porque se não acontecer a companhia morre.
Não vejo outra saída”, concluiu.
Em novembro último, o Governo decidiu relançar o processo de privatização da TAP, suspenso em dezembro de 2012, optando pela venda direta em duas fases — a primeira de até 66% do capital para avançar de imediato, devendo estar concluída ainda no primeiro semestre.
A capitalização é o primeiro de nove critérios para a escolha do futuro dono da TAP, seguido pelo valor da oferta e o projeto estratégico, segundo o caderno de encargos, que não fixa prazos para a manutenção do ‘hub’ [centro de operações] em Portugal.
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