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sábado, 24 de janeiro de 2015

Votar Syriza “para que alguma coisa mude"

TSIPRAS PROMETE "MUDANÇA" AOS GREGOS, 
SAMARAS LEMBRA QUE É PRECISO FECHAR O PROGRAMA  DA TROIKA
Alexis Tsipras, à esquerda, no comício de fim de campanha do Syriza, ontem em Atenas.
O Syriza esgotou a praça Omonia, na baixa de Atenas, com muitos jovens, mas também pessoas na casa dos 50 a 60 anos. 
“É o vosso voto que vai decidir a nossa negociação [com os credores]”, disse Tsipras. 

Antonis Samaras (à direita), líder do Nova Democracia, usou as palavras do presidente do BCE, Mario Draghi (que disse só comprar dívida grega sob condições), para apelar ao voto no seu partido.
“A Grécia vai perder esta oportunidade?”, perguntou

Catarina Duarte, em Atenas  
catarina.duarte@economico.pt
24 de Janeiro de 2015
Grécia Entre quem vota em Tsipras há quem não confie nas muitas promessas feitas, mas ainda assim prefira alguma mudança - e há quem avise que Tsipras não pode desiludir.

Alexis Tsipras já não corre apenas para a vitória, mas num ‘sprint’ final tenta conquistar a maioria absoluta nas eleições de domingo. 
Todas as sondagens colocam o Syriza no topo das intenções de voto (33,5%) e o objectivo - que no sistema eleitoral grego está dependente dos resultados dos pequenos partidos - não parece impossível.

“Na segunda-feira vamos enviar uma mensagem a todos os governos europeus que apoiam a austeridade”, afirmou ontem Tsipras, no comício de fim de campanha, na baixa de Atenas.
Perante uma praça Omonia esgotada, com muitos jovens mas também eleitores mais grisalhos, Tsipras prometeu “não voltar atrás” nas posições defendidas contra a linha política europeia.

Apesar dos cerca de 10% de eleitores ainda indecisos, em Atenas a vitória do Syriza já é dada como certa. 
“Há três tipos de pessoas que vão votar no Syriza”, explica Charalambos Tsardanidis, director do Instituto Internacional de Relações Económicas. 
“As que estão desapontadas com o anterior governo e acreditam que o Syriza
mudará o seu futuro; 
as que votam, porque mesmo que Tsipras implemente apenas metade ou um terço do que prometeu ficarão satisfeitas; 
e há ainda outro grupo, mais hesitante, que lhes vai dar o voto, mas não quer ver o seu programa implementado porque não quer um conflito com a União Europeia, quer apenas uma mudança”, detalha.
“Se ele não fizer o que prometeu, quem o apoiou vai correr com ele em  poucos meses”, avisa Sevasti, 27 anos, que vai votar no Syriza.

As sondagens recentes mostram que cerca de 75% dos gregos querem ficar na zona euro e que mais de 90% não querem a Grécia fora da UE.

Sevasti, 27 anos, encaixa no primeiro perfil. 
O Syriza não é o seu partido, mas resolveu dar o voto útil a Tsipras para que “Samaras não continue no poder”.
Sevasti tirou um curso superior para ser assistente social, mas não encontrou emprego e trabalha num café, “como tantos outros jovens”, diz.

É por isso que Sevasti pensa ser preciso mudar e que vai votar no Syriza, “apesar de não confiar totalmente nele [Alexis Tsipras]”. 
“O discurso já começou a mudar e pode vir a mostrar-se uma desilusão. 
Se ele não fizer o que prometeu, quem o apoiou vai correr com ele em poucos meses”, avisa.

Para Thanasis Evangelou, 36 anos, o voto no Syriza também é uma estreia. 
Apesar de reconhecer que as expectativas são grandes, o argumento é o mesmo: “É preciso que alguma coisa mude”. 
Ainda assim, “é melhor pedir dez coisas e conseguir apenas uma, do que continuar sem pedir nada e aceitar de braços cruzados as regras da Europa”, diz. 
Thanasis não defende uma saída da Grécia da zona euro e está convencido que nem Tsipras,nem a Alemanha, o arriscaria pelo efeito de contágio.
“Seria um dominó, a seguir vinha Portugal, Espanha, Itália, tudo a correr tirar o dinheiro dos bancos”, antecipa.

Stelios, 42 anos, também tem a convicção que Tsipras “vai ganhar”.
Mas agora “é que os problemas vão começar”, diz. 
“Não acredito que a Alemanha ceda nas suas posições e também não acredito que Tsipras consiga governar.
Dentro de três ou quatro meses vamos ter eleições novamente”, prevê.

Stelios trabalha para o governo de Samaras, mas não deixa de apontar críticas às políticas de austeridade seguidas nos últimos anos. 
Sobretudo ao “enorme aumento” de impostos que os gregos, à semelhança dos portugueses, também sentiram.
Conta que já esteve em Espanha e gostava de conhecer Portugal.
“Mas agora viajo pouco, eu e a minha mulher pagamos oito mil euros de impostos por ano. 
A carga fiscal aumentou muito, alguns impostos, como os impostos sobre imóveis, nem sequer existiam antes de 2010”, diz.

Para o director do Instituto de Relações Económicas, a pesada carga fiscal está a roubar muitos eleitores ao partido de Samaras. 
“Algumas pessoas que vão votar no Syriza até eram apoiantes da Nova Democracia, mas estão desapontados devido aos altos impostos”, explica Tsardanidis.

Alguma imprensa conservadora grega avançava ontem que Alexis Tsipras terá de aumentar ainda mais os impostos se quiser cumprir algumas das promessas eleitorais. 
Perguntamos a Thanasis Evangelou o que pensa sobre isso: “Depende dos impostos.
Há cinco anos não existiam impostos sobre os imóveis, as empresas não entregavam o IVA ao Estado. 
Quem tem mais, deve pagar mais, para depois distribuir por todos”. ■

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