OPINIÃO
HENRIQUE MONTEIRO 18 horas Sexta-feira 02 de janeiro de 2015
O Presidente da República fez um bom discurso de Ano Novo. Não sendo, longe disso, um entusiasta dos preceitos políticos do Chefe do Estado, não o digo por qualquer simpatia pelo inquilino de Belém, mas devido ao facto de ele ter apontado o essencial do que temos pela frente e devemos fazer.
À esquerda o discurso foi recebido como uma ameaça.
Se Ferro Rodrigues usou uma expressão retorcida como "défice de imparcialidade", Luís Fazenda acusou directamente Cavaco de ser "cúmplice" da política do Governo.
Mas que disse Cavaco de tão grave ou parcial?
Nada!
Apenas não disse que isto está tudo male que precisa de uma 'volta de 180º'.
O mais certo, porém, é que ganhando o PS (contonuo a pensar que o Governo, cumpridoa tradição de todos os governos que governatam em tempo de austeridade e crise, as perderá), a volta, com António Costa, será - como dizia o outro - mais ainda: de 360º.
Ou seja ficará, no essencial, na mesma.
Cavaco disse quatro coisas indesmentíveis, penso eu:
1) Que este é umano decisivo, uma vez que tem eleições;
2) Que Portugal tem sinais, ainda tímidos, de recuperação e que é preciso atenção às exportações, ao consumo e, sobretudo, ao combate ao desemprego;
3) Que é necessário preparar o período-eleitoral, sejam quais foram os resultados, não radicalizando os discursos para além daquilo que é o necessário jogo político-partidário;
4) Que o populismo e a ideia de que os partidos são dispensáveis numa democracia devem ser combatidos, mas que os partidos devem ser transparentes e dizerem claramente ao que vêm.
Afirmar que isto é parcial porque prevê a continuação da atual política é, no mínimo, ousado.
É verdade que prevê, porque nós sabemos que Cavaco, no essencial, concorda com a atuação do Governo.
Mas o dever de apresentar alternativas a esta política é da Oposição.
Eeu pergunto: onde está essa alternativa?
Salvo em frases vagas sobre alterações na Europa que obviamente não dependem essencialmente de nós?
Se o PS enfia o barrete da frase em que Cavaco diz que os partidos devem dizer claramente ao que vêm, faz bem.
Porque, muityo embora eu aposte em Costa como moderado que continuará o essencial desta política, a verdade é que o PS, até por motivos meramente táticos (e admito que com certa razão, tendo em conta a experiência de Hollande), nunca disse claramente ao que vem.
Mas o PSD e o CDS (e recorde-se o pré-eleitoralismo de Passos na mensagem de Natal) também não o deixaram claro.
Diminuem impostos?
Mantém os feriados cortados?
Insistem na reforma da Administração Pública?
Querem rever a Constituição?
Eis algumas perguntas de diferente importância a que ninguém responde.
Cavaco falou das eleições como se elas fossem um empecilho, disse Pacheco Pereira no programa 'Quadratura do Círculo'.
Não entendi em que parte da mensagem, mas eu já quase desisti de entender Pacheco Pereira.
Sei que ficou furioso com a tual liderança do PSD, mas isso não me diz respeito... nunca fui da agremiação.
Lembro-me de Pacheco defender que deveria haver um chão comum na democracia e que isso pressupunha, no nosso sistema, alianças ou compromissos entre partidos rivais de forma a empreender reformas de fundo que duram mais do que o espaço da legislatura.
O mesmo que pede Cavaco.
Mas em algum local Pacheco deve ter perdido esta ideia...
Não sei oncde Cavaco vê tantos sinais de esperança, afirmou Jorge Coelho.
Bem, talvez não haja muitos sinais de esperança, mas além de ser exagerado afirmar que isso se deve ao Governo ou à política específica deste Governo integrado nesta Europa específica (a Grécia aí está a confirmá-lo), há que dizer, sem mentir, que os sinais de esperança são muito maiores hoje do qu em 2011, quando se chamou a Troika e o PS estava no poder (sem a colaboração de Coelho, é certo).
O PCP diz que omal está em Cavaco querer a continuação da atual política e que foram o PSD, CDS e PS que nos trouxeram atá aqui.
Não deixa de ter razão.
Mas penso que a maioria dos cidadãos, ainda assim, não obstante os erros do PSD, CDS e PS (e, já agora, de Cavaco) preferem estar aqui do que ter ido até 'ali', onde o PCP nos queria levar - sem eleições, sem liberdades, sem autonomia.
Mas penso que a maioria dos cidadãos, ainda assim, não obstante os erros do PSD, CDS e PS (e, já agora, de Cavaco) preferem estar aqui do que ter ido até 'ali', onde o PCP nos queria levar - sem eleições, sem liberdades, sem autonomia.
De tudo isto se retira o costume: toda a política portuguesa continua inquinada por uma esquerda que não tem programa nem linha de rumo para uma situação de crise aguda e de mudança profunda no mundo.
Apenas consegue ter uma linha crítica, fácil porque a situação das pessoas, das famílias e das empresas é má, é pobre e, em certos casos, totalmente desesperada.
Para esses um bom discurso é qualquer coisa como isto: "Portugueses e portuguesas, a coisa está mal como o caraças e temos de dar uma volta nisto tudo, repondo a nossa independência e correndo com os neoliberais.
Há miséria por todo o lado e o povo não aguenta.
Vamos ter de fazer outro 25 de Abril e dar salários dignos a todos.
Como?
Fazendo um congresso onde tudo isto será discutido e aprovado, além de falar o professor Sampaio Nóvoa de modo a dar-nos as suas luzes".
Isto sim, Cavaco, seria imparcial.
De resto, diga-se o que se disser, está-se continuamente a atacar quem está baralho acerca do que quer!
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