ALEXIS TSIPRAS
Líder do Syriza
GRÉCIA TESTA SOLIDEZ DA ZONA EURO
NUNO MARTINS
Terça-feira, 6 de Janeiro de 2015
Nos últimos anos, não
é possível discutir o futuro da Grécia sem falar do programa económico do
Syriza.
Uma coligação vista
por alguma esquerda como o farol para fugir à tormenta da austeridade e pelas
instituições europeias e mercados financeiros com a organização que vai
empurrar a Grécia para fora da moeda única.
Um partido que se
assume “radical”, mas que assusta cada vez menos os investidores.
As sondagens
continuam a colocar o Syriza - acrónimo de
Coligação da Esquerda Radical - à frente das intenções de voto para as
eleições legislativas de 25 de Janeiro.
Caso se confirme um
cenário de vitória, o que aconteceria no dia seguinte?
O coração do programa
da coligação liderada por Alexis Tsipras é a renegociação da dívida pública e
do memorando assinado com a troika.
O Syriza quer obter um
perdão significativo da dívida pública, colocando-a no caminho da sustentabilidade.
O remanescente deve
ser financiado com crescimento económico (não com excedentes orçamentais).
Medidas que devem
ser acompanhadas por alterações a nível europeu: investimento público fora das
restrições do Pacto de Estabilidade e Crescimento; e compra directa de dívida
soberana pelo BCE.
Embora estes temas
sejam os mais centrais para a discussão europeia, o programa do Syriza não se
esgota aí.
No seu conjunto, “o
programa de Salónica” deverá custar 11,4
mil milhões de euros e colocar, pela primeira vez, um Estado-membro em clara
rota de colisão com as autoridades europeias.
Como já sucedeu no
passado, a pressão sobre o eleitorado grego é enorme, com a previsão de
cenários catastrofistas caso a coligação de esquerda vença.
Antecipa-se que seja
encerrada a torneira de financiamento comunitário e temem-se fugas de capitais
do país e corridas aos bancos.
Tsipras tem-se
esforçado para desdramatizar, apresentando um discurso mais moderado, em que
continua a manifestar a vontade de continuar no euro.
Embora sublinhe a
necessidade de uma reestruturação da dívida, nos seus discursos já não há
ameaças a fazê-lo unilateralmente.
Haverá negociações, haverá acordo e o memorando
pertencerá ao passado, não só na Grécia, mas em toda a Europa
No final do ano
passado, o Syriza enviou alguns dos seus economistas a Londres para explicarem
o seu plano a representantes dos bancos da City.
Alguns mantiveram a
sua postura crítica, mas outros estão hoje mais descansados.
Segundo o Financial
Times, o Syriza “já não aterroriza alguns investidores”.
“Acreditamos que
Tsipras será mais pragmático do que a retórica anterior do
Syriza sugeria.
Abriu canais
diplomáticos com Berlim, Paris e Frankfurt e tem todos os incentivos para
tentar negociar alterações relativamente cosméticas ao programa grego e
cavalgar o início da recuperação, em vez de a fazer descarrilar”, disse ao
Krishna Guha, do banco de investimento Evercore, àquele jornal.
Sábado, Tsipras
prometeu negociações “realistas” com as instituições comunitárias, mas sem se
desviar do seu programa.
“Haverá negociações,
haverá acordo e o memorando pertencerá ao passado, não só na Grécia, mas em
toda a Europa” À BBC, Nikos Samanidis, fundador do Syriza, admitia: “As elites,
os mercados, os muito ricos, os 10% do topo, sim, esses têm razões para estarem
preocupados.”
Mesmo que não seja o
Syriza a esticar a corda, Bruxelas e a Alemanha podem reagir de forma violenta
a estas pretensões.
A Der Spiegel noticiava
domingo que Berlim considera praticamente inevitável a saída da Grécia do
euro, caso o Syriza vença as eleições, abandone o compromisso de austeridade e
insista em reestruturar a dívida
Sobre o programa
económico, o actual Governo considera-o uma ilusão por subestimar em muito o
custo das medidas, antecipando um regresso a uma situação de crise orçamental.
Outros dizem que a
postura do Syriza é enganadora para os eleitores, ao prometer “o melhor de
dois mundos”: a recusa da austeridade em confronto com a Europa, dizendo, ao
mesmo tempo, que ficará no euro. ■ NUNO AGUIAR
PROGRAMA DE SALÓNICA
Os quatro pilares do plano do Syriza
LIDAR COM A CRISE HUMANITÁRIA
O Syriza quer responder a situações de
emergência e propõe, entre outras medidas, electricidade grátis e subsídios
alimentares para 300 mil famílias abaixo da linha da pobreza, assim como a
restituição do subsídio de Natal e medicamentos grátis para desempregados.
Pilar custaria 1,8 mil milhões de euros.
ESTIMULAR A ACTIVIDADE ECONÓMICA
Eliminação do imposto agregado sobre a
propriedade e criação de um outro sobre grandes propriedades, reestruturação de
dívidas privadas aos bancos, subida do salário mínimo para 751 euros e do
limite de isenção de IRS para os 12 mil euros/ano.
Medidas devem custar 6,5 mil milhões de
euros.
RECUPERAÇÃO DO EMPREGO
A coligação de esquerda promete implementar
um programa de recuperação do emprego com o objectivo de criar 300 mil postos
de trabalho, recuos nas medidas de liberalização do mercado de trabalho, no
sentido de maior protecção dos trabalhadores.
Este pilar deverá custar 3 mil milhões de
euros.
APROFUNDAR A DEMOCRACIA
São quatro passos:
organização regional do Estado, com mais
autonomia para regiões e municípios;
maior estímulo à participação dos cidadãos
através de novos instrumentos de poder popular;
limitação da imunidade dos deputados;
e regulação do sector de rádio e televisão.
Custos: zero euros.
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