BENFICA ‘E-Toupeira’
Hugo Franco, Pedro Candeias e Rui Gustavo
01 de Setembro de 2018
Luís Filipe Vieira e José Eduardo Moniz iam ser ouvidos na qualidade de representantes da SAD do Benfica, a nova arguida do caso "E-Toupeira"
‘E-TOUPEIRA’ Presidente da SAD justificou falta com doença e vice com viagem ao estrangeiro.
DIAP recusou afastar procurador do caso
Os procuradores do Ministério Público que lideram a investigação do caso ‘E-Toupeira’ foram apanhados de surpresa com a presença dos administradores Domingos Soares Oliveira e Nuno Gaioso Ribeiro nas instalações do DIAP de Lisboa.
Os dois dirigentes apresentaram-se como representantes da SAD do Benfica, que iria naquela altura ser constituída arguida no processo ‘E-Toupeira’.
De acordo com uma fonte conhecedora do processo, o MP já tinha notificado duas vezes Luís Filipe Vieira e José Eduardo Moniz, presidente e vice-presidente da SAD e, portanto, os seus representantes naturais.
O presidente não compareceu e justificou a falta com doença e internamento que o impediram de ver o dérbi com o Sporting ao vivo no Estádio da Luz. José Eduardo Moniz não compareceu porque se encontrava no estrangeiro.
O Expresso sabe que os dois não voltarão a ser chamados, porque o MP aceitou Soares Oliveira e Nuno Gaioso como representantes legais da SAD benfiquista.
João Correia, advogado do Benfica, confirma que disse “aos procuradores que Luís Filipe Vieira estava internado” e que, por isso, não podia comparecer.
“O homem estava doente, internado.
Qualquer cidadão que está doente está dispensado de aparecer no tribunal.
Vieira não está a fugir à polícia.
Não é um cidadão como os outros?”
Os dirigentes foram chamados à Justiça porque os procuradores entendem que recolheram indícios suficientes para constituir a SAD encarnada como arguida no processo ‘E-Toupeira’. A investigação está fechada e não deverá haver mais arguidos até à acusação.
O único dirigente envolvido é Paulo Gonçalves, assessor jurídico, suspeito de corrupção ativa por ter convencido José Augusto Silva, um oficial de justiça e técnico de informática do Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça (IGFEJ), a passar-lhe informação em segredo de justiça sobre processos judiciais que envolviam o Benfica e os seus grandes rivais, FC Porto e Sporting.
Mais nenhum dirigente deverá ser acusado, porque não ficou demonstrado a quem é que Paulo Gonçalves passou a informação recolhida.
Mas o MP entende que a SAD do Benfica beneficiou dessa informação e, por isso, decidiu constituí-la arguida.
O Benfica reagiu violentamente, considerando que não existe qualquer indício no processo que demonstre a conclusão dos investigadores.
A constituição de arguido é “ilegal e inconstitucional”, e como tal o Benfica pediu o afastamento do procurador encarregado da investigação, Válter Alves
PROCURADOR FICA CONTRA VONTADE DO BENFICA
O Expresso sabe que a diretora do DIAP de Lisboa recusou o incidente de suspeição e manteve o procurador à frente da investigação.
A acusação deverá estar pronta esta semana e, de acordo com fontes ouvidas, pode “haver surpresas”.
Há um mês, o Tribunal da Relação de Lisboa confirmou a prisão preventiva de José Augusto Silva, decretada em março de 2017 pelo juiz de instrução criminal.
De acordo com a investigação, entre julho do ano passado e janeiro deste ano, o técnico de informática do IGFEJ acedeu 385 vezes ao sistema informático do Ministério da Justiça, diariamente e “várias vezes ao dia”, para consultar dez processos relacionados com o clube da Luz e dos rivais.
O suspeito terá entrado com quatro credenciais diferentes: duas de procuradoras do Ministério Público e outras duas de funcionários judiciais.
E, de acordo com os desembargadores, nada garantia que não voltasse a fazê-lo, inclusivamente com a password ou mesmo a colaboração direta de outros agentes da Justiça.
Daí a justificação para que continuasse privado de liberdade.
A Justiça suspeita mesmo que haja mais funcionários judiciais envolvidos no esquema de corrupção, falsidade informática e violação do segredo de justiça que alegadamente ajudaria o Benfica a ter informações privilegiadas sobre processos judiciais em curso, como o dos vouchers, o dos e-mails ou o da corrupção no futebol.
Quanto a Paulo Gonçalves, ao consultar os processos de que era alvo o Benfica, poderia “antecipar diligências e impedir o sucesso das mesmas”.
Já o facto de ter em mãos documentos judiciais sobre os clubes rivais permitia-lhe “obter informações que depois usava consoante as necessidades”, descreve o acórdão da Relação.
O documento revela ainda que os dois principais arguidos do caso utilizaram intermediários para contactarem entre si, de forma a “melhor esconderem a sua conduta”.
As camisolas do Benfica, os bilhetes para os jogos de futebol na Luz e a promessa de um emprego para o sobrinho de José Augusto Silva no Museu do Benfica — favores que o funcionário judicial receberia como contrapartida por aceder ilegalmente ao Citius — causam estranheza aos desembargadores.
Mas não à defesa, que argumenta: “É público que os clubes de futebol, e concretamente o Benfica, oferecem milhares de convites às mais diversas entidades e pessoas, sendo maquiavélico concluir-se que os mesmos seriam feitos com intenção criminosa ou de obter vantagens.”
O advogado de José Augusto Silva admite que este acedeu de forma ilegítima aos inquéritos, mas garante que o funcionário do IGFEJ não conseguiu entrar no conteúdo dos processos em segredo de justiça.
Os restantes arguidos no caso são Júlio Loureiro (outro oficial de justiça), Óscar Cruz (empresário de futebol) e José Ribeiro (funcionário judicial aposentado).
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