POLÍTICA Destaque
Redacção F8
24 de Setembro de 2018
João Lourenço foi escolhido no simulacro eleitoral de 23 de Agosto de 2017 como cabeça-de-lista do MPLA com pouco mais de 61% dos votos, perdendo o MPLA 25 deputados no parlamento face às eleições anteriores, e com o país mergulhado numa profunda crise financeira, económica e social (é um dos mais corruptos do mundo, lidera a mortalidade infantil a nível mundial, tem 20 milhões de pobres).
O antigo general prometeu, entre centenas de outras coisas, ser reformador, ao estilo Deng Xiaoping, rejeitando a classificação de “Gorbachev angolano”.
Recorde-se que esta hipótese foi avançada, pela primeira vez, pelo Mestre da Lusofonia e um dos mais reputados analistas angolanos, Eugénio Costa Almeida.
E em matéria de previsões analíticas, Eugénio Costa Almeida corre o risco de voltar a fazer e a ficar na História (se ninguém usurpar a autoria, como fizeram em relação a Gorbacheve/Xiaoping) em relação à exumação dos restos mortais de Jonas Savimbi, presidente fundador da UNITA.
Ao Folha 8, Eugénio Costa Almeida refere, em primeira-mão, a tese de que a “grande virtude de João Lourenço vai ser entregar os restos mortais de Jonas Savimbi a 22 de Fevereiro de 2019”.
Recorde-se que foi nessa data, em 2002, que Jonas Savimbi foi morto em combate, permanecendo até hoje os seus restos mortais sequestrados pelo MPLA/Estado/Governo.
“Reformador?
Vamos trabalhar para isso, mas certamente não Gorbachev, Deng Xiaoping, sim”, afirmou João Lourenço.
Deng Xiaoping (Dengue Xópinga, na linguagem popular angolana) foi secretário-geral do Partido Comunista Chinês e líder político da República Popular da China entre 1978 e 1992, tendo criado o designado socialismo de mercado, regime vigente na China moderna e que posteriormente foi adaptado pelo MPLA para Angola.
Depois dos presidentes Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos, João Lourenço já assumiu que quer ficar na história de Angola pelo papel na recuperação económica do país. Ainda está a tempo.
Pelo que fez no primeiro ano de governação a procissão de promessas (obras concretas não há) está no adro do Santuário da Muxima.
Com um ano de governação do presidente João Manuel Gonçalves Lourenço, em virtude do rumo que têm tomado os acontecimentos, já podemos fazer o ponto da situação nesta altura em que nem já o dilema da indispensável harmonia entre o poder Executivo e o MPLA se coloca.
Como já foi escrito inúmeras vezes aqui no Folha 8 (e continuará a ser escrito), num país onde a maioria dos cidadãos evidencia amnésia política e já canta hosanas ao novo Presidente, torna-se quase despercebido que há uma evidente distância entre um reformador e a figura de um João Lourenço com uma mão cheia de promessas e actos de charme político, com exonerações em cadeia, com cadeia até para um seu ex-ministro (Augusto da Silva Tomás, ministro dos Transportes até Junho).
JLo vai às províncias para seguir de perto e informar-se, in loco, sobre os problemas do povo, aboliu o espectacular, ridículo e dispendioso espectáculo protagonizado pela UGP a seguir o Presidente da República para o proteger aquando das suas deslocações ao terreno, tal como fazia o megalómano José Eduardo dos Santos.
Vai de visita aos hospitais para se informar do lastimável estado de saúde da Saúde, chega a um multicaixa (multibanco) e, suportando a fila, espera pacientemente pela sua vez para poder realizar a operação que pretendia.
Faz parar a viatura protocolar da Presidência, que lhe assiste, quando nas ruas de Luanda o semáforo vira vermelho, e deixa passar os motoqueiros e os taxistas.
Os cidadãos ficam extasiados, a ponto de que muitos quase o enchem de beijos.
Com actos de charme político como os acima descritos e outros, JLo tem levado a cabo uma espécie de propaganda de si mesmo, sem prejuízo de que seja essa a sua natural maneira de agir, como um presidente de trato simples, acessível ao cidadão e desprovido da mania dos protocolos e dos primeiros lugares.
Mais do que isso, João Lourenço tem passado a ideia-promessa de que ele é o Reformador de Angola.
Quanto a este último ponto, calma, estamos longe do cômputo final.
No que toca aos seus actos concretizados até esta data, as exonerações em cascata, o controlo mais apurado dos gastos públicos e as medidas tomadas para repor nos cofres do Estado o dinheiro que um número indefinido mas grandioso de criminosos do poder do MPLA roubaram na era passada, a do “Eduardismo” exacerbado, a que se juntam a exoneração de Isabel dos Santos do poleiro supremo da Sonangol e de dois outros filhotes que tinham invadido, alegadamente por orientação sua, o canal 2 da TPA, o que podemos aconselhar ao Presidente é que não basta constatar e lamentar que o povo passa fome.
O que é preciso é pôr comida nos seus pratos, mesmo que estes sejam de plástico ou alumínio.
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