FOLHA 8
Redacção F8
9 de Setembro de 2018
No discurso de encerramento do VI Congresso Extraordinário do MPLA, João Lourenço citou duas vezes o nome de José Eduardo dos Santos.
A primeira foi quando iniciou a intervenção e formalmente se dirigiu ao “Camarada Presidente José Eduardo dos Santos”.
Depois disse: “Saúdo também o Camarada José Eduardo dos Santos, por ter dedicado toda uma vida à causa do nosso Partido e da Nação, numa conjuntura difícil da chamada guerra fria, com a ameaça constante do regime do apartheid.
Neste momento em que deixa a política activa, os militantes do MPLA e o povo angolano em geral guardarão para sempre na sua memória a imagem do estadista que, entre outros feitos, trouxe a tão almejada paz definitiva, o perdão e a reconciliação nacional entre irmãos antes desavindos.
Os actos de homenagem que vêm decorrendo um pouco por todo o país são, exactamente, a manifestação de gratidão dos angolanos ao Arquitecto da Paz.»
Para um “filho” que foi, unilateral e pessoalmente, escolhido pelo “pai” José Eduardo dos Santos, parece pouco.
Mas foi certamente mais do que João Lourenço queria e menos do que esperavam os acólitos de Dos Santos que pensam, mas poucos dizem, que JLo está a cuspir no prato que, entre muitas outras benesses, lhe deu comida.
Teoricamente reformador, empiricamente absolutista (ou seja, despótico, tirano, autocrata), João Lourenço vai, agora que deixou de ser Presidente de todos os angolanos para ser Presidente de todos os angolanos… do MPLA, tentar mostrar que, embora seja “filho” de um jacaré, é vegetariano (por parte da “mãe” jacaré).
Essa tentativa inclui a imolação de alvos familiares e bajuladores do anterior Presidente da República, esquecendo até que se tinha comprometido pela sua honra (a honra “made in” MPLA tem um significado “sui generis”) a um “código de ética” que excluiria acções revanchistas contra clã (em sentido lato) de José Eduardo dos Santos.
João Lourenço segue, aliás, os mesmos passos que os seus antecessores no fortalecimento da tese de que “o MPLA é Angola e Angola é o MPLA”.
Até agora, e já lá vão 43 anos, tem sido assim.
João Lourenço retirou (sem qualquer racionalidade económica, financeira ou empresarial) vários negócios e cargos aos filhos de Eduardo dos Santos, mas também a outras figuras próximas.
Muitas das suas exonerações revelam um acerto de contas pessoal, criminalizando todos aqueles que tenham ligações familiares directas e Eduardo dos Santos.
João Manuel Gonçalves Lourenço construiu o que é, o que se sabe que tem, o que se pensa que tem, alimentado e educado pelo MPLA/Estado, sob as orientações de José Eduardo dos Santos.
Pouco antes da proclamação da independência angolana, feita em Luanda, pelo MPLA, e no Huambo pela UNITA e FNLA, a 11 de Novembro de 1975, João Lourenço inicia a carreira militar (e toda a sua excelsa formação política e patriótica) nas fileiras das FAPLA.
Com José Eduardo dos Santos a anunciar a intenção de deixar o poder com o fim do conflito armado (2002), João Lourenço posicionou-se na corrida à sucessão, o que lhe valeu uma longa travessia no deserto, depois de o então Presidente decidir manter-se no poder. Começou aí a germinar um acerto de contas, ora consumado, até porque a vingança serve-se gelada mas sempre com um sorriso e um salamaleque.
A reabilitação política aconteceu em Abril de 2014, quando é nomeado, obviamente pelo “pai” José Eduardo dos Santos, para ministro da Defesa Nacional, culminado com a eleição, em congresso, em Agosto de 2016, como vice-presidente do MPLA, antecedendo a sua entrada, por proposta pessoal de Dos Santos, na corrida eleitoral para chefe de Estado angolano como cabeça-de-lista do MPLA.
Onde andou ele nos últimos anos?
Só chegou agora?
Não.
Sempre foi um homem do sistema, do regime, de José Eduardo dos Santos:
1984 – 1987: 1º Secretário do Comité Provincial do MPLA e Governador Provincial do Moxico;
1987 – 1990: 1º Secretário do Comité Provincial do MPLA e Governador Provincial de Benguela;
1984 – 1992: Deputado na Assembleia do Povo;
1990 – 1992: Chefe da Direcção Politica Nacional das FAPLA;
1992 – 1997: Secretário da Informação do MPLA;
1993 – 1998: Presidente do Grupo Parlamentar do MPLA;
1998 – 2003: Secretário-geral do MPLA;
1998 – 2003: Presidente da Comissão Constitucional; Membro da Comissão Permanente; Presidente da Bancada Parlamentar;
2003 – 2014: 1º Vice-presidente da Assembleia Nacional.
“Precisamos ao mesmo tempo de neutralizar ou reduzir a influência nefasta dos que apenas se preocupam em servir a si mesmos, descurando a necessidade da defesa do bem comum”, disse João Lourenço, em Novembro, por ocasião do 42º aniversário da independência de Angola.
Tudo leva a crer que terá acrescentado, como o fez durante 38 anos José Eduardo dos Santos, “olhai para o que eu digo e não para o que faço”.
De facto, agora como Presidente de tudo, como dono de tudo, João Lourenço vai continuar a sua missão de continuar a trabalhar para os poucos que têm milhões (onde passarão a estar alguns dos seus novos acólitos), esquecendo os milhões que têm pouco… ou nada.
No discurso de encerramento do VI Congresso Extraordinário do MPLA, João Lourenço citou duas vezes o nome de José Eduardo dos Santos.
A primeira foi quando iniciou a intervenção e formalmente se dirigiu ao “Camarada Presidente José Eduardo dos Santos”.
Depois disse: “Saúdo também o Camarada José Eduardo dos Santos, por ter dedicado toda uma vida à causa do nosso Partido e da Nação, numa conjuntura difícil da chamada guerra fria, com a ameaça constante do regime do apartheid.
Neste momento em que deixa a política activa, os militantes do MPLA e o povo angolano em geral guardarão para sempre na sua memória a imagem do estadista que, entre outros feitos, trouxe a tão almejada paz definitiva, o perdão e a reconciliação nacional entre irmãos antes desavindos.
Os actos de homenagem que vêm decorrendo um pouco por todo o país são, exactamente, a manifestação de gratidão dos angolanos ao Arquitecto da Paz.»
Para um “filho” que foi, unilateral e pessoalmente, escolhido pelo “pai” José Eduardo dos Santos, parece pouco.
Mas foi certamente mais do que João Lourenço queria e menos do que esperavam os acólitos de Dos Santos que pensam, mas poucos dizem, que JLo está a cuspir no prato que, entre muitas outras benesses, lhe deu comida.
Teoricamente reformador, empiricamente absolutista (ou seja, despótico, tirano, autocrata), João Lourenço vai, agora que deixou de ser Presidente de todos os angolanos para ser Presidente de todos os angolanos… do MPLA, tentar mostrar que, embora seja “filho” de um jacaré, é vegetariano (por parte da “mãe” jacaré).
Essa tentativa inclui a imolação de alvos familiares e bajuladores do anterior Presidente da República, esquecendo até que se tinha comprometido pela sua honra (a honra “made in” MPLA tem um significado “sui generis”) a um “código de ética” que excluiria acções revanchistas contra clã (em sentido lato) de José Eduardo dos Santos.
João Lourenço segue, aliás, os mesmos passos que os seus antecessores no fortalecimento da tese de que “o MPLA é Angola e Angola é o MPLA”.
Até agora, e já lá vão 43 anos, tem sido assim.
João Lourenço retirou (sem qualquer racionalidade económica, financeira ou empresarial) vários negócios e cargos aos filhos de Eduardo dos Santos, mas também a outras figuras próximas.
Muitas das suas exonerações revelam um acerto de contas pessoal, criminalizando todos aqueles que tenham ligações familiares directas e Eduardo dos Santos.
João Manuel Gonçalves Lourenço construiu o que é, o que se sabe que tem, o que se pensa que tem, alimentado e educado pelo MPLA/Estado, sob as orientações de José Eduardo dos Santos.
Pouco antes da proclamação da independência angolana, feita em Luanda, pelo MPLA, e no Huambo pela UNITA e FNLA, a 11 de Novembro de 1975, João Lourenço inicia a carreira militar (e toda a sua excelsa formação política e patriótica) nas fileiras das FAPLA.
Com José Eduardo dos Santos a anunciar a intenção de deixar o poder com o fim do conflito armado (2002), João Lourenço posicionou-se na corrida à sucessão, o que lhe valeu uma longa travessia no deserto, depois de o então Presidente decidir manter-se no poder. Começou aí a germinar um acerto de contas, ora consumado, até porque a vingança serve-se gelada mas sempre com um sorriso e um salamaleque.
A reabilitação política aconteceu em Abril de 2014, quando é nomeado, obviamente pelo “pai” José Eduardo dos Santos, para ministro da Defesa Nacional, culminado com a eleição, em congresso, em Agosto de 2016, como vice-presidente do MPLA, antecedendo a sua entrada, por proposta pessoal de Dos Santos, na corrida eleitoral para chefe de Estado angolano como cabeça-de-lista do MPLA.
Onde andou ele nos últimos anos?
Só chegou agora?
Não.
Sempre foi um homem do sistema, do regime, de José Eduardo dos Santos:
1984 – 1987: 1º Secretário do Comité Provincial do MPLA e Governador Provincial do Moxico;
1987 – 1990: 1º Secretário do Comité Provincial do MPLA e Governador Provincial de Benguela;
1984 – 1992: Deputado na Assembleia do Povo;
1990 – 1992: Chefe da Direcção Politica Nacional das FAPLA;
1992 – 1997: Secretário da Informação do MPLA;
1993 – 1998: Presidente do Grupo Parlamentar do MPLA;
1998 – 2003: Secretário-geral do MPLA;
1998 – 2003: Presidente da Comissão Constitucional; Membro da Comissão Permanente; Presidente da Bancada Parlamentar;
2003 – 2014: 1º Vice-presidente da Assembleia Nacional.
“Precisamos ao mesmo tempo de neutralizar ou reduzir a influência nefasta dos que apenas se preocupam em servir a si mesmos, descurando a necessidade da defesa do bem comum”, disse João Lourenço, em Novembro, por ocasião do 42º aniversário da independência de Angola.
Tudo leva a crer que terá acrescentado, como o fez durante 38 anos José Eduardo dos Santos, “olhai para o que eu digo e não para o que faço”.
De facto, agora como Presidente de tudo, como dono de tudo, João Lourenço vai continuar a sua missão de continuar a trabalhar para os poucos que têm milhões (onde passarão a estar alguns dos seus novos acólitos), esquecendo os milhões que têm pouco… ou nada.
Sem comentários:
Enviar um comentário