OPINIÃO DESTAQUE
Redacção F8
30 de dezembro de 2017
Isabel dos Santos foi a angolana mais favorecida pelo regime corrupto de seu pai, José Eduardo dos Santos, no poder durante quase quarenta anos.
Tornou-se, sob a protecção do regime, na mulher mais rica de África.
Mas parece agora ser persona non grata do novo poder do presidente João Lourenço.
Foi despedida da Sonangol, a sua carreira empresarial em Angola está a esboroar-se. Passou de bestial a besta.
Por Paulo de Morais
Presidente da Frente Cívica
Mas, em Portugal, o poder de Isabel dos Santos parece manter-se intacto, apesar dos seus dissabores na sua terra Natal.
Pelo menos para já.
Em África os percalços são muitos, mas, na Europa, Portugal é a colónia de Isabel.
A nível empresarial, o poder de Isabel dos Santos parece ir de vento em popa.
Tem participações de relevo na energia, nas telecomunicações ou na Banca – na Galp, na NOS, no EuroBIC, na Efacec.
Tem sociedade com as famílias mais ricas de Portugal: com os herdeiros de Belmiro de Azevedo partilha a NOS, com os herdeiros de Américo Amorim a Galp.
São muitos os seus empregados e apoiantes, que ao longo dos anos vem pagando a peso de ouro.
Contrata e controla políticos, firmas de advogados famosos, políticos-advogados e manipuladores de informação.
Ao seu serviço, Lobo Xavier, conselheiro de Estado e confidente do Presidente Marcelo, administra a sua empresa de telecomunicações, a NOS.
Nesta empresa, Paulo Mota Pinto foi também empregado de Isabel durante anos, enquanto exercia a função de deputado.
Nuno Morais Sarmento, político actualmente muito activo, e José Miguel Júdice, – os dois advogados e comentadores, ambos sócios na mesma sociedade de advogados, a PLMJ – defendem Isabel dos Santos enquanto representantes do Grupo Santoro, a holding angolana de Isabel dos Santos.
A estes advogados junta-se, enquanto defensor do clã “Dos Santos & Amigos”, o famoso causídico Rui Patrício; este, sendo advogado de Manuel Vicente, ex-vice-Presidente de Angola, conseguiu assim mesmo ser nomeado para o Conselho de Prevenção da Corrupção português, em representação da ordem dos Advogados (!).
Patrício partilha aliás o escritório com o já referido conselheiro de Estado Lobo Xavier.
E, claro, até o mais poderoso advogado português, Daniel Proença de Carvalho tem defendido os interesses de Isabel dos Santos, desde as telecomunicações na ZON, de que era Presidente; até às negociações com o Caixabank – sempre se destacou a ligação entre o todo-poderoso Proença e Isabel dos Santos.
E quem haveria de ser o actual chairman do banco EuroBic e da NOS?
Precisamente Jorge Brito Pereira, sócio de Proença de Carvalho e funcionário de Isabel dos Santos.
Na fileira dos comentadores televisivos fiéis a Isabel dos Santos – Júdice na TVI, Xavier na SIC e Morais Sarmento na RTP – junta-se o jovem Rodrigo Moita de Deus na mesma pública RTP, um dos muitos que estão ao serviço da poderosa agência de comunicação LPM; que por sua vez está ao serviço da ainda mais poderosa… Isabel dos Santos.
Nada lhe escapa.
Também a nível autárquico tem apoiantes vários em Portugal, o mais famoso dos quais é Rui Moreira.
O Presidente da Câmara do Porto não só acolheu no Porto a colecção de arte de Sindika Dokolo, marido de Isabel, como ainda lhe atribuiu a medalha da cidade.
Com problemas em Angola, Isabel dos Santos encontra em Portugal o paraíso para o seu dinheiro sujo; dinheiro que vem sendo recusado em outras partes do mundo mais sérias e civilizadas.
Com uma classe política subserviente ao capital (de qualquer origem), Isabel dos Santos tem, aparentemente, o seu futuro garantido.
A menos que… a menos que todos os seus apoiantes lusitanos se verguem, por um bom preço, ao novo poder de João Lourenço.
Nesta eventualidade, Isabel dos Santos cairá em desgraça em Portugal, mas a máquina de subserviência e tráfico de influências continuará a funcionar, desta vez, ao serviço do novo “rei” de Angola.
Se valer a pena, os peões sacrificam a Dama.
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