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Redacção F8
31 de dezembro de 2017
“Mano como é o Natal”?
“Nada.
Está mal!
O salário ainda não acabou de cair.
Está fraco.
É só viver mesmo assim, na graça de Deus, porque bacalhau e o resto é só p’ra eles, mesmo”…
Assim terminou o bate papo, entre amigos.
Por William Tonet
A maioria dos autóctones angolanos viveram as piores festas do 25 de Dezembro, popularmente conhecidas como de Natal, neste 2017 e passarão de igual forma o final de ano, quando no ar pairava um sentimento de esperança e muita expectativa, face à eleição do novo Presidente da República.
Um sentimento alicerçado, talvez ingenuamente, na crença de ser possível uma ruptura com o passado, sem implosão ou revolução interna, no seio do partido de regime, que desde 1975 amarfanha e subverte o poder dos órgãos de soberania do Estado.
Haveria maior credibilidade, interna e externa, se liderada por um dirigente completamente desligado da roubalheira, da corrupção, da batota eleitoral e da violação dos direitos humanos.
Isso, porque do outro extremo, a experiência nefasta de 42 anos de poder autoritário, exigir uma verdadeira ruptura (sem recurso a guerra militar), capaz de abanar os pilares da “partidocracia institucional” (órgãos do Estado, dominados, exclusivamente, pelo MPLA), para a instauração dos caboucos de uma democracia cidadã e participativa, se a oposição (UNITA, CASA-CE, PRS, FNLA) se despisse de vaidades, unindo-se numa “Grande Coligação de Mudança”.
Não tendo sido assim, a virada do ano terá João Lourenço, Presidente da República e vice presidente do MPLA, a ditar as regras de jogo, num misto de show-off e medidas paliativas, que têm galvanizado mais a “tribo das redes sociais” (popularidade em alta, num público-alvo, que representa 0,4% da população).
Mas o povão, o das periferias e da Angola profunda, por exclusão das estatísticas selectivas e na repartição da renda, não acredita na transfiguração do camaleão.
E porquê?
Porque a vida real, a vida que pulsa, a vida dos povos que gemem, continuar madrasta no quesito fome e esperança, fundamentalmente quando a fuba, o feijão, o peixe, o óleo, a galinha, o arroz, o tomate, a cebola, o lombi, qual cesta básica, não param de subir, logo fugindo da mesa dos mais de 20 milhões de pobres, depois das eleições.
Se João Lourenço conseguiu, reconheça-se, anestesiar a oposição, com base em discursos e slogans inovadores, colhendo deles a omissão e o silêncio, dos demais cidadãos, as medidas paliativas, como exonerações sem consequências disciplinares e criminais, demonstram uma cumplicidade espúria, incapaz de baixar, não só, o custo de vida, como o desemprego.
Nestes 100 dias de nova presidência, depois do impacto inicial, João Lourenço e o MPLA, entrarão em 2018, com a imagem ofuscada, por não terem implantado uma só das promessas eleitorais com impacto na vida das populações.
Tanto as exonerações, como as nomeações “lourencianas”, apenas beneficiaram os membros do regime do MPLA, com a crónica dança de cadeiras, que machuca a competência e privilegia a “bajulação – militante”.
Esperava-se uma ousadia em busca da tão ansiada cumplicidade política, entre o novo Presidente da República e a oposição, na busca de consensos para os grandes problemas que afligem o país (que até o podem matar), mergulhado numa crise, provocada pela (des)governação dolosa do partido no poder, mas ao invés disso, o novo inquilino prefere continuar em sentido contrário.
A estratégia para um novo programa de Educação, a criação de um revolucionário sistema de Saúde, a Reforma agrária, com base no fomento da agricultura familiar, merecem outras visões angolanas e não a manutenção do crónico egoísmo umbilical, reconhecidamente incapaz de fazer qualquer semente germinar.
Se João Lourenço fosse pragmático faria diferente, ouvindo os parceiros políticos e sociais, assumindo propostas de quadros excluídos e discriminados por não serem do MPLA, em nome da mudança.
Passaria, ainda, num gesto nobre e de comprometimento com a verdade e transparência a convidar a imprensa privada, na cobertura das actividades do Executivo, entre outras.
O relançamento da economia, mais do que visões ideológicas, carece de uma verdadeira mexida programática e pragmática, capaz de estimular os pequenos e médios empreendedores, como, por exemplo, a revogação do Decreto 13/10, que limita a importação de viaturas com mais de três anos, por ser um travão à diversificação da economia, principalmente, no domínio agro-pecuário.
Um agricultor não tem, em 10 anos, capacidade para adquirir uma carrinha nova, mas já a terá caso seja em segunda mão e, desta forma, relançar a actividade, no campo e na indústria, com uma simples revogação de um decreto, com um profundo impacto popular.
O Presidente deveria ainda, neste início de consulado, estimular o mercado financeiramente, decretando às empresas multinacionais o pagamento de salários e impostos em dólares, para uma maior circulação de divisas, no circuito bancário.
Um país com restrições em adquirir dólares, junto da Reserva Federal dos Estados Unidos, não pode prescindir de alternativas que tem à mão de semear, fundamentalmente, quando o parque industrial está praticamente paralisado e o agrário a funcionar a meio gás.
Essa exigência, bem como a redução de impostos aduaneiros e não só, permitiria agitar do mercado, conferindo oxigénio às empresas e aos pequenos empreendedores que recomeçariam de imediato a importar produtos do exterior.
Até este momento, o Presidente ainda não tomou nenhuma medida popular, nenhuma medida legal de verdadeiro impacto, na vida dos cidadãos.
Esperar Janeiro e de lá até Agosto de 2018 não será crime, mas já o será (crime) se nada de impacto, como eleições autárquicas, revogação da Constituição, despartidarização do Estado, independência (não cosmética) do poder judicial, for feito para mudar, mas mudar, realmente a vida dos cidadãos autóctones, carentes de uma verdadeira, imparcial e eficiente Administração do Estado.
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