Política
quarta, 10 janeiro 2018 21:09
O Presidente angolano, João Lourenço, nomeou hoje como administradores não executivos da petrolífera Sonangol dois antigos primeiros-ministros, Lopo do Nascimento e Marcolino Moco, este último forte contestatário do chefe de Estado anterior, José Eduardo do Santos.
A informação com estas nomeações foi transmitida hoje à Lusa pela Casa Civil do Presidente da República, dando conta que foram feitas "por conveniência de serviço público", passando Lopo Fortunato Ferreira do Nascimento e Marcolino José Carlos Moco a integrar o conselho de administração da Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol), liderada desde novembro por Carlos Saturnino, como administradores não executivos.
Em novembro último, o antigo primeiro-ministro angolano Marcolino Moco assumiu-se surpreendido" com a "coragem" do novo Presidente da República, afirmando que as decisões conhecidas visam "criar um mínimo de governabilidade" num poder "atrelado aos pilares de uma casa de família".
A posição do advogado e histórico militante do MPLA, forte crítico da governação de 38 anos do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, surgiu num artigo divulgado então, pelo próprio.
"É verdade que João Lourenço me surpreende pela coragem e rapidez; mas surpreso andei eu todos estes anos a ver um país a ser montado a volta de uma família única, quando só se ouviam louvores de tribunas e painéis de entidades notáveis", criticou ainda o advogado que durante 1992 e 1996 foi primeiro-ministro de Angola, na Presidência de José Eduardo dos Santos.
Já Lopo do Nascimento, que foi primeiro-ministro entre 11 de novembro de 1975 (proclamação da independência angolana) e dezembro de 1978, além de secretário-geral do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder, criticou em 2017, antes das eleições gerais de agosto, a continuidade de José Eduardo dos Santos na presidência do partido.
"Acho que não será uma boa coisa se ele se mantém como presidente do MPLA, porque gera um poder bicéfalo", disse Lopo do Nascimento, numa entrevista em março.
Na segunda-feira, questionado pela Lusa na sua primeira conferência de imprensa, o Presidente angolano escusou-se a explicar os motivos que o levaram a exonerar a 15 de novembro a administração liderada por Isabel dos Santos na Sonangol, limitando-se a citar o habitual enquadramento, da "conveniência de serviço".
Questionado sobre se a exoneração de Isabel dos Santos, empresária e filha do ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, teria alguma motivação política, o chefe de Estado negou esse cenário: "A pessoa exonerada não era da oposição.
Não estou a ver porque razão exoneraria por falta de confiança política".
Contudo, acrescentou: "As exonerações, regra geral, não são justificadas.
O nosso país está independente há 42 anos, não me recordo nunca de nenhum Presidente ter vindo a público justificar-se porque é que exonerou A, B ou C".
Desde que tomou posse, a 26 de setembro, João Lourenço nomeou por dia, em média, mais de três de administradores, para cerca de 30 empresas públicas, órgãos da administração do Estado, Justiça, comunicação social estatal, Banco Nacional de Angola e outros organismos.
Em 100 dias como Presidente da República (04 de janeiro de 2018), as mais de 300 nomeações feitas por João Lourenço, que corresponderam a várias dezenas de exonerações, incluindo da empresária Isabel dos Santos da Sonangol, e de mais de 30 oficiais generais em posições de topo na hierarquia militar, valeram-lhe a alcunha nas redes sociais: "O exonerador implacável".
"Nesse período, foram exonerados, portanto em 42 anos, não sei se milhares mas pelo menos centenas de membros do Governo, de ministros, porque é que eu tenho de me justificar pelo facto de ter exonerado o PCA [presidente do conselho de administração] de uma empresa pública.
Portanto, isso, eu não faço", disse.
No entanto, João Lourenço acabaria por citar a habitual informação constante dos despachos de exoneração: "Não é por mero acaso que, regra geral, quando as exonerações são feitas, a razão da exoneração, a que vem a público, é por conveniência de serviço é exonerado fulano de tal.
Então, se quer mesmo uma resposta, foi por conveniência de serviço".
João Lourenço foi eleito Presidente da República nas eleições gerais angolanas de 23 de agosto, tendo sucedido à liderança de 38 anos de José Eduardo dos Santos.
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