Depois de lhe ter sido retirada a licença que, durante mais de 15 anos, primeiro através da Ascorp no mercado artesanal e depois com a Odisseye e a Iaxhon na podução industrial, lhe permitiu deter o monopólio da comercialização de diamantes em Angola e de ter perdido contratos avaliados em mais de €20 mil milhões, Isabel dos Santos poderá vir a ser agora atingida por uma outra tempestade na Galp e na Unitel.
Adotando uma espécie de “paciência de chinês”, com esta estratégia João Lourenço aos poucos começa a sufocar e a destroçar financeiramente a “mulher mais rica de África”. Decisões que começam a limitar o poder de Isabel dos Santos em Portugal onde, além da Galp, há outras implicações.
Por exemplo, depois de ter sido anulada a sua participação na construção da Barragem de Caculo Cabaça, alguns equipamentos que poderiam vir a ser fornecidos pela Efacec poderão agora vir a ser adquiridos directamente a Alemanha ou a outros fornecedores internacionais.
“O mal é que tivemos muita gente com o nariz empinado a olhar para Portugal, que se esqueceu de olhar para os pés e ver que tinha os sapatos sujos”, disse ao Expresso Lopo do Nascimento, o primeiro dirigente histórico do MPLA a opor-se à existência de um poder bicéfalo em Angola.
Esta é a imagem que pode ser retratada depois de a Sonangol ter advertido a empresária angolana de que tinha de pagar, em tempo oportuno, a dívida contraída junto da petrolífera liderada por Carlos Saturnino para garantir a sua participação na Galp, sob pena de ver reduzida as suas ações ou mesmo de ser afastada da sua estrutura acionista.
“Tem de devolver 70 milhões de dólares (€60,1 milhões), e isso mesmo já foi comunicado pelos nossos advogados aos advogados dela”, disse ao Expresso fonte do Conselho de Administração da Sonangol.
Mas os problemas de Isabel dos Santos com a petrolífera angolana estão longe de se esgotar aqui.
Em recente reunião, a Sonangol e a brasileira OI puseram em causa a forma como, nos últimos anos, Isabel dos Santos geriu a Unitel.
“Não ouvindo ninguém, fê-lo como se fosse dona da empresa”, diz um acionista da Geni, outra das entidades acionistas angolanas.
“A Sonangol e a OI estão a concertar posições para exigir os seus direitos, mas a Sonangol vai permanecer no Millennium BCP e na Galp, mas deverá abandonar a Unitel, por não fazer parte do seu core bussines”, revelou ao Expresso fonte do Ministério das Minas e Petróleos.
O afastamento da Sonangol da Unitel, como antigo aliado de Isabel dos Santos, e o processo em tribunal movido pela Oi ameaçam deixar a empresária numa situação muito fragilizada, segundo alguns analistas.
“O problema é que o pai perdeu duas batalhas decisivas: a da família, pensando que o dinheiro, que não era seu, resolveria tudo, e a da sucessão, julgando que através de um controlo remoto poderia continuar a deter o comando do país”, disse um membro do bureau político do MPLA.
NOTIFICAÇÃO FALHADA
Resta agora saber como Isabel dos Santos enfrentará a Justiça, depois de a Procuradoria-Geral da República (PGR) de Angola, no âmbito de um inquérito à sua gestão na Sonangol, a ter notificado na quarta-feira da semana passada, 17 de julho, para no dia seguinte prestar declarações.
O episódio esteve envolvido em diversas peripécias, que começaram pela recusa dos seus empregados de casa em admitir que Isabel dos Santos estava em Angola.
Após várias insistências do oficial de diligências, a notificação foi entregue e assinada às 12h do dia 17, mas, segundo uma fonte dos Serviços de Informação Criminal, que acompanha o caso, Isabel dos Santos e o marido, Sindika Dokolo, terão ido nesse mesmo dia à tarde para a casa do pai no Miramar e embarcado à noite, no voo da KLM, para a Europa.
“Agora chegam ao país de manhã e viajam à noite, e, se desta vez se furtou à primeira notificação, não vamos deixar de a notificar novamente...”, confidenciou fonte da PGR.
Depois da retirada de contratos bilionários, que iam desde a construção da barragem de Caculo Cabaça, Plano Metropolitano de Luanda, Projeto Nova Marginal da Corimba até ao monopólio da compra e venda de diamantes, estes reveses estão a deixar ainda mais desolado o clã Santos.
Perante este cerco, Isabel dos Santos queixa-se em círculos privados de estar a ser “vítima de uma perseguição por parte das autoridades”.
E, inconformada com o carácter “irreversível e inegociável” das decisões do Presidente João Lourenço nesta matéria, convidou a rádio FM para a entrevistar em Lisboa, de modo a “apresentar o seu ponto de vista e a sua defesa em relação às sucessivas revogações dos contratos assumidos pelas suas empresas e o Governo angolano”.
“Ela parece ter memória curta e esquece-se de que, além de ter conduzido este processo sempre em contramão, ao desafiar o Estado como desafiou neste caso, foi longe de mais”, disse ao Expresso fonte do Conselho de Ministros.
Reconhecido o passo em falso dado pela Atlantic Ventures ao ameaçar levar o Executivo à barra do tribunal, a empresária admite estar alheia ao teor desta investida.
Apesar de num segundo comunicado ter surgido com um tom mais reconciliador, apelando à reconsideração da tomada de posição de João Lourenço, poucos acreditam nesta versão.
"Sabendo como ela é, ninguém emitiria um comunicado naquele tom sem o seu assentimento”, refere um antigo colaborador de Isabel dos Santos, que pediu o anonimato.
O Expresso enviou a Isabel dos Santos um conjunto de questões sobre estas matérias, mas até à hora do fecho desta edição não obteve qualquer resposta.
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