RÚSSIA
João Ruela Ribeiro
18 de Março de 2018, 18:18 actualizada às 8:01
Não houve espaço para qualquer surpresa e Vladimir Putin foi reeleito para um quarto mandato presidencial, prolongando a sua liderança por mais seis anos, até 2024, período durante o qual se irá tornar no líder russo com mais longevidade no poder desde Estaline. Ele agradeceu, e começou a delinear os seus planos: "O próximo mandato será fora do comum".
"A nação precisa de unidade para avançar", declarou o Presidente, discursando no exterior do Kremlin.
Pediu à multidão para "pensar no futuro da nossa pátria" e liderou cânticos de "Rússia, Rússia", descreve a Associated Press.
Mencionou o caso do ex-espião russo Sergei Skripal envenenado em Salisbury, no Reino Unido, com uma arma química de fabrico russo - sobre o qual se tinha mantido em silêncio até agora.
"Estamos dispostos a trabalhar com as autoridades do Reino Unido.
A Rússia não tem armas dessas, mas se fosse um agente de nervos de grau militar, teriam morrido mais pessoas no Reino Unido", disse o Presidente, citado pela Reuters.
Mudanças no Governo "só depois de tomar posse" como Presidente pela quarta vez, disse. E disse não estar a pensar em reformas constitucionais - como a que lhe permitisse concorrer a um quinto mandato, que lhe é vedado hoje pela Lei Fundamental.
"Será que vou viver até aos 100 anos?", brincou.
A expectativa é de que os próximos seis anos sejam os últimos de Putin no poder – a Constituição fixa um limite máximo de dois mandatos consecutivos e Putin já disse que não pretende alterá-la – e é possível que nos próximos tempos se comecem a vislumbrar os primeiros movimentos do processo de sucessão.
A vitória de Vladimir Putin nas eleições deste domingo nunca esteve em causa.
O Presidente e o seu círculo próximo mantêm há quase duas décadas um controlo apertado sobre a sociedade civil, o Estado e os meios de comunicação, que não deixa margem para que surja qualquer oposição.
Mas naquelas que muitos pensam ser as últimas eleições com Putin, a força do regime também seria avaliada pela participação do eleitorado.
As projecções avançadas pelos canais televisivos mostravam que Putin não só foi reeleito confortavelmente com mais de 70% dos votos, como os russos acudiram em massa, batendo um recorde de participação eleitoral.
Já nesta segunda-feira de manhã, a comissão eleitoral revelou que Putin obteve 76,67% dos votos, quando estavam contabilizados quase todos os boletins (99,8%).
A participação eleitoral atingiu os 67,4%.
Os estrategas do Kremlin tinham apontado para um objectivo conhecido como 70/70 – uma vitória de Putin com mais de 70% dos votos e uma participação acima dos 70%.
O cumprimento destas metas dá garantias de que, apesar de estar no poder há quase duas décadas, o apoio popular do Presidente russo não desce.
E nem isso falhou.
Em segundo lugar ficou o candidato do Partido Comunista, Pavel Grudinin, com 11% dos votos, com pouco menos de 2% ficou a jornalista Ksenia Sobchak, uma candidata conotada com a oposição ao Kremlin.
Os resultados batem todos os recordes no histórico pessoal de Putin, que tinha conseguido superar os 70% apenas nas eleições de 2004 – há seis anos alcançou 63%.
De fora dos boletins de voto ficou o rosto mais conhecido da oposição, o advogado Alexei Navalni, cuja candidatura foi bloqueada por se encontrar actualmente a cumprir uma pena de prisão suspensa.
Navalni diz que o caso movido contra si é apenas uma manobra para o impedir de se apresentar a eleições e apelou ao boicote às eleições.
Nos últimos meses, o activista que se notabilizou por denunciar casos de corrupção entre a elite dirigente também sugeriu que poderá tentar mobilizar os seus apoiantes para se manifestarem após as eleições.
As presidenciais foram agendadas para a data em que se assinala o quarto aniversário da anexação da Crimeia e muito do apoio reunido por Putin está ligado a este acontecimento. Na península, Putin obteve mais de 90% dos votos.
A reeleição do Presidente russo foi interpretada pelos seus aliados como um forte apoio dado pela população à postura assertiva que Moscovo tem adoptado nas relações internacionais.
“Acho que os EUA e o Reino Unido perceberam que não podem influenciar as nossas eleições”, disse o deputado da câmara alta do Parlamento, Igor Morozov, citado pelo Moscow Times.
A jornada eleitoral ficou, no entanto, marcada por várias denúncias de irregularidades. Dirigentes da oposição disseram ter conhecimento de casos de eleitores pressionados pelos patrões a irem votar e a fornecerem provas.
Correspondentes da Reuters em diferentes locais de votos dizem ter visto pessoas a fotografarem-se ao lado das urnas.
Houve também relatos de eleitores a serem transportados em carrinhas.
Ao todo, a organização independente Golos contabilizou 860 queixas de possíveis violações durante o dia, segundo o Moscow Times.
Porém, a comissária para os Direitos Humanos, Tatiana Moskalkova, disse não ter havido “violações graves que possam ter influenciado a expressão da vontade dos cidadãos russos”.
joao.ruela@publico.pt
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