ESPIONAGEM
Manuel Louro
14 de Março de 2018, 11:44
Depois de ultrapassado o prazo para um esclarecimento do Kremlin sobre o envenenamento do ex-espião russo Sergei Skripal, a primeira-ministra britânica suspende todos os contactos de alto nível com Moscovo.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciou no Parlamento a expulsão de 23 diplomatas russos em retaliação contra a falta de resposta de Moscovo perante a acusação de Londres da autoria do envenenamento do ex-espião russo Sergei Skripal, e da sua filha, na cidade de Salisbury. Todos os contactos de alto nível foram também cancelados, incluindo uma visita do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, ao Reino Unido e a presença de ministros ou membros da família real no Mundial de futebol deste ano e que tem lugar na Rússia.
"Desprezo e sarcasmo" foram as atitudes de Moscovo que Londres recebeu quando pediu esclarecimentos sobre como entrou no Reino Unido o gás de nervos da série Novichok, usado para envenenar a família Skripal, disse a governante.
Se na segunda-feira, May tinha afirmado que a reponsabilidade da Rússia na tentativa de homícidio de Skripal era "altamente provável", agora a primeira-ministra não tem dúvidas em afirmar que o Kremlin "é culpado", não só do envenenamento do antigo epsião, mas também da ameaça "da vida das pessoas na cidade de Salibsury".
"Este não é apenas um acto contra Sergei e Iulia Skripal e contra o Reino Unido mas também uma afronta à proibição da utilização de armas químicas", disse.
May disse que a expulsão dos 23 diplomatas, que foram considerados “agentes de informação não declarados”, é a maior medida do género tomada por Londres nos últimos 30 anos.
“Têm uma semana para sair”, explicou a primeira-ministra.
Medidas anunciadas contra a Rússia:
- Expulsão de 23 diplomatas russos;
- Congelamento de activos estatais russos sempre que existirem “provas de que possam ter sido utilizados para ameaçar a vida ou propriedade de cidadãos ou residentes do Reino Unido”;
- O Governo vai criar legislação para proteger o Reino Unido de actividade estatal hostil;
- Londres vai considerar nova legislação anti-espionagem;
- Novas emendas “do tipo Magnitsky” à legislação sobre sanções;
- Aumento nas verificações de cidadãos russos que entrem no Reino Unido;
- Todos os contactos de alto-nível entre Londres e Moscovo cancelados.
A governante tinha estabelecido um prazo até à meia-noite desta terça-feira para que o Kremlin explicasse como o raro e poderoso gás de nervos utilizado para tentar matar Skripal e a filha, chegou a território britânico.
Este é um tipo de gás de nervos que faz parte da série Novichok, produzida na antiga União Soviética durante as décadas de 1970 e 1980.
Antes de ir ao Parlamento, May reuniu o seu Conselho de Segurança Nacional para ultimar pormenores sobre a resposta à tentativa de homicídio do antigo espião, que foi condenado em 2006 a 13 anos de prisão na Rússia por transmitir informações aos serviços secretos britânicos.
Na manhã desta quarta-feira, o Reino Unido anunciou também que pediu uma reunião de urgência do Conselho de Segurança das Nações Unidas para informar os respectivos membros, entre os quais a Rússia, sobre a investigação ao caso.
O encontro deverá acontecer ainda nesta quarta-feira.
O Kremlin já garantiu que responderá a qualquer tipo de represálias de Londres.
A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, lembrou inclusivamente ao Reino Unido o potencial nuclear da Rússia e recordou um último discurso de Vladimir Putin, onde o Presidente russo anunciou novas poderosas armas.
manuel.louro@publico.pt
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