LUSOFONIA Destaque
Redacção F8
20 de março de 2018
Sete chefes de Estado (incluindo João Lourenço) além do anfitrião Cabo Verde, já confirmaram a presença na cimeira da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), agendada para Julho, na ilha do Sal, segundo informação da Presidência cabo-verdiana.
Umas férias são sempre agradáveis. Quanto à CPLP propriamente dita, continua a ser um fossa.
Marcelo Rebelo de Sousa, de Portugal, João Lourenço, de Angola, Michel Temer, do Brasil, José Mário Vaz, da Guiné-Bissau, Teodoro Obiang, da Guiné Equatorial, Filipe Nyusi, de Moçambique, e Evaristo Carvalho, de São Tomé e Príncipe, são as presenças confirmadas na cimeira.
A estes junta-se Jorge Carlos Fonseca, chefe de Estado do país anfitrião do encontro, que marca o arranque da presidência cabo-verdiana da comunidade lusófona.
A confirmação da presença de Teodoro Obiang foi divulgada oficialmente pela Presidência da República de Cabo Verde, após um encontro, na segunda-feira, em Brasília, entre o vice-Presidente da Guiné Equatorial e filho do Presidente, ‘Teodorin’ Obiang, e o chefe de Estado cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca.
A Presidência cabo-verdiana confirmou hoje a presença na cimeira do Sal, do chefe de Estado brasileiro, Michel Temer, que se encontrou também com Jorge Carlos Fonseca, em Brasília, à margem do 8.º Fórum Mundial sobre a Água.
“O chefe de Estado cabo-verdiano aproveitou a ocasião para reiterar o convite endereçado ao Presidente Michel Temer para participar na conferência de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, tendo o Presidente Temer confirmado a sua participação no evento”, adiantou a Presidência.
Com a confirmação de Michel Temer, prossegue, eleva-se para sete o número de chefes de Estado a confirmar presença na cimeira do Sal.
A cimeira do Sal, agendada para 17 e 18 de Julho, decorrerá sob o lema “Cultura, Pessoas, Oceanos” e deverá ter como uma das discussões políticas centrais a questão da circulação e mobilidade no espaço lusófono.
Timor-Leste, o nono país-membro da CPLP, ainda não confirmou a presença na cimeira.
Todos (ao que parece) gostam de chafurdar
A secretária-executiva do elefante branco que se chama CPLP, Maria do Carmo Silveira, considerou no dia 5 de Junho de 2017 “dignificante” e “bom para todos” a eleição da Guiné Equatorial para membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU, acrescentando que aquele país “falará pela CPLP e pelos seus Estados-membros”.
Maria do Carmo Silveira bem que poderia, à falta de melhor, ir brincar com os seus antepassados em vez de, num misto de ignorância e orgia canibalesca, teimar em gozar com a nossa chipala.
É que a paciência tem limites e até a dos escravos está à beira de estoirar.
“É muito importante para a Comunidade de Países de Língua Portuguesa ver um dos seus membros ser eleito para o Conselho de Segurança da ONU.
Dignifica a CPLP”, disse à Lusa, na altura, Maria do Carmo Silveira, à margem de uma apresentação sobre o Fórum Económico Women In Leadership (Mulheres na Liderança), que decorreu no Dubai.
Na altura, recorde-se, a Guiné Equatorial e outros quatro países (Peru, Costa do Marfim, Koweit e Polónia) foram eleitos pela Assembleia-Geral da ONU para assumir um mandato de dois anos como membros não-permanentes do Conselho de Segurança, posição que assumiram no dia 1 de Janeiro de 2018.
A Guiné Equatorial é membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) desde Julho de 2014.
“Será bastante importante a CPLP ter um interlocutor a esse nível.
Poderá falar pela organização e pelos seus Estados-membros”, disse a máxima responsável da Comunidade de Países de (suposta) Língua Portuguesa.
Para Maria do Carmo Silveira, esta é também “uma forma de o português” (que não se fala na Guiné Equatorial) “entrar e estar presente” no mais importante órgão das Nações Unidas.
“Só pode ser bom para todos nós”, concluiu a senhora, certamente satisfeita por mostrar ao mundo que não sabe o que diz, ficando por saber se algum dia dirá o que sabe.
Foi a primeira vez que a Guiné Equatorial entrou no Conselho de Segurança – o que aconteceu com o apoio de 185 dos 193 Estados membros da organização.
O Presidente do país, Teodoro Obiang Nguema – tomou o poder em 1979, através de um golpe de Estado, mantendo-se desde então em funções, sendo actualmente o ditador mais longevo do continente africano.
A Guiné Equatorial, como deveria saber Maria do Carmo Silveira, está há décadas na mira das organizações internacionais de defesa dos direitos humanos, que acusam o Governo de Obiang de praticar fraudes eleitorais e cometer graves atropelos contra os seus próprios cidadãos.
Os crimes de corrupção, violação dos direitos humanos e perseguição política figuram dos relatórios de várias organizações internacionais – que acusam o Presidente Obiang e a sua família de controlarem a riqueza do país.
A antiga colónia espanhola registou nos últimos anos um grande crescimento económico, graças às enormes reservas de gás e petróleo descobertas no seu território, mas continua a ser um dos países do mundo com maior percentagem de pobreza e mortalidade infantil, curiosamente como acontece com Angola.
Para melhor se perceber a latrina em que se transformou a CPLP, recorde-se que – é só um dos muitos exemplos possíveis – o Governo da Guiné-Bissau teve a criminosa lata de anunciar a atribuição da sua principal condecoração nacional, a medalha Amílcar Cabral, ao Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema.
“A Guiné-Bissau e a Guiné Equatorial têm excelentes relações”, justificou Olívio Pereira, secretário-geral da presidência do Conselho de Ministros.
De acordo com aquele (ir)responsável, “Teodoro Obiang tem sido um estadista atento à evolução da situação politica na Guiné-Bissau, tendo manifestado a sua solidariedade com diversos governos e em diversas ocasiões com o povo da Guiné-Bissau”.
A atribuição da medalha é, assim, “um gesto de reconhecimento que o Governo liderado por Umaro Sissoco Embaló decidiu prestar-lhe”, acrescentou.
Mas nem todos gostam de chafurdar na porcaria.
O antigo embaixador do Brasil junto da CPLP, Lauro Moreira, considera que a entrada da Guiné Equatorial no bloco lusófono é uma questão que envergonha a organização.
“É uma vergonha.
Se não fossem suficientes os problemas que nós temos internamente, agora temos um problema que é pavoroso, porque é uma questão que envergonha a CPLP”, afirmou Lauro Barbosa da Silva Moreira, que é presidente do Conselho Directivo do Observatório da Língua Portuguesa (OLP).
Para o antigo embaixador brasileiro junto da CPLP (2006-2010), o bloco lusófono já tem, por exemplo, “problemas seríssimos com a Guiné-Bissau, que é um país maravilhoso, que ao mesmo tempo tem óptimos quadros superiores, mas que agora está reduzido a um narco-Estado”.
“Este país (Guiné Equatorial) é pária na comunidade internacional”, sublinhou Lauro Moreira.
Obiang e membros da sua família (nomeadamente o seu filho ‘Teodorin’ Obiang) – que têm uma das maiores fortunas em África segundo a revista Forbes – enfrentam processos em alguns países por corrupção, fraude e branqueamento de capitais, assim como o Presidente equato-guineense enfrenta acusações de violação dos direitos humanos por várias organizações não-governamentais (ONG).
A pena de morte na Guiné Equatorial está suspensa neste momento, medida que foi tomada para poder entrar no bloco lusófono.
Também segundo a ONG Transparency International, é um dos países mais corruptos do mundo.
Segundo Lauro Moreira, Teodoro Obiang “reina em absoluto sobre um país que flutua hoje em petróleo e sobre uma população naufragada na maior miséria”.
É, de acordo com o diplomata, “um país desconsiderado pela comunidade internacional, isolado pela língua (o único a falar espanhol em toda a África), cuja história, cultura e comportamento nada tem a ver com os ideais que presidiram a criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, em 1996”.
Lauro Moreira afirmou que a CPLP ficou desfigurada com a estrada da Guiné Equatorial para o bloco lusófono, pois é “um país que nada fez na prática para merecer essa concessão a não ser introduzir às pressas o português como língua oficial, ao lado do espanhol e do francês, e acenar com os seus petrodólares de novo-rico”.
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