FOLHA8
Redacção F8
10 de março de 2018
Mas, afinal, Isabel dos Santos trabalhou bem enquanto dirigiu a Sonangol, ou não?
Ao demiti-la, João Lourenço assumiu o ónus de que ela foi uma má gestora.
E não esteve com meias medidas, pôs no seu lugar Carlos Saturnino que, recorde-se, em Dezembro de 2016, tinha sido exonerado do cargo de presidente da Sonangol Pesquisa & Produção por Isabel do Santos.
Refira-se, entretanto, o que Patrick Pouyanné, CEO da Total, disse sobre a liderança de Isabel dos Santos na petrolífera nacional: “A Sonangol está a fazer exactamente aquilo que nós fizemos.
Quando o preço do petróleo caiu todos sentimos dificuldades.
A sua prioridade tem sido a transformação e equilíbrio das contas, o que tem sido positivo e permite voltar a pensar no desenvolvimento”.
Por sua vez, Eldar Saetre, CEO da Statoil disse: “Estamos em Angola há 26 anos e por isso temos uma grande experiência neste mercado que tem sido muito importante para a nossa empresa.
Sempre tivemos uma relação muito próxima com a Sonangol e queremos mantê-la por muito tempo.
Por isso estamos para ficar e encontrar novas oportunidades de colaboração com a Sonangol”.
Também Clay Neff, presidente da Chevron África afirmou: “Vemos as mudanças que a Sonangol está a fazer com muitos bons olhos.
Existe uma colaboração muito positiva entre a Sonangol, a Chevron e os outros membros da indústria para melhorar as condições de investimento em Angola”.
Em Setembro de 2015, o director da maior petrolífera estrangeira em Angola, a Total, avisou o governo angolano de que se os custos de investimento não descessem significativamente, o país arriscava-se a ficar sem indústria do petróleo.
“Se não houver uma significativa redução dos custos, tudo vai parar”, disse o director-geral da Total em Angola, Jean-Michel Lavergne, em declarações à agência financeira Bloomberg, nas quais explicou que caso as condições não melhorem, a indústria petrolífera angolana “vai desaparecer”, partindo do princípio que o preço do barril de petróleo se mantém nos 60 dólares.
Em causa estavam as várias medidas que o Governo angolano tomou nos últimos anos, que fizeram os custos de produção aumentar em 500 milhões de dólares por ano, disse Jean-Michel Lavergne durante um fórum empresarial em Luanda.
Em Junho desse ano Angola ultrapassou pela primeira vez a Nigéria enquanto maior produtora subsariana, tendo bombeado 1,77 milhões de barris por ano, contra 1,9 milhões da Nigéria, embora no total de 2014 a média de produção tenha sido de 1,66 milhões, comparado com os 1,9 milhões da Nigéria.
Os poços de petróleo em águas profundas na costa de Angola têm um desenvolvimento muito caro, e a indústria precisa de preços entre 60 a 80 dólares por barril “para a operação fazer sentido”, disse Jean-Michel Lavergne.
Falência ou não falência
Isabel dos Santos diz que Carlos Saturnino (com o óbvio apoio de João Lourenço) “procura buscar um bode expiatório, para esconder o passado negro da Sonangol, e escolheu fazer acusações ao anterior Conselho de Administração!
Ora, isto não passa de uma manobra de diversão, para enganar o povo sobre quem realmente afundou a Sonangol.
E seguramente não foi este Conselho de Administração a que presidi, e que durou 18 meses, que levou a Sonangol à falência!”
E acrescenta: “Em 2015, após a apresentação pelo Dr. Francisco Lemos, então PCA da Sonangol, do “Relatório Resgate da Eficiência Empresarial”, o Executivo angolano tomou conhecimento da gravidade do problema da Sonangol que, supostamente deveria ser a segunda maior empresa de Africa, soube-se de repente que estava falida, e incapaz de pagar a sua dívida bancária.”
Recorde-se que outro ex-Presidente do Conselho de Administração da Sonangol, Francisco de Lemos José Maria, negou sempre a falência da petrolífera estatal, dizendo que era algo “virtualmente impossível de acontecer”.
Francisco de Lemos José Maria recusou várias vezes usar termos como “falência técnica”, “bancarrota” e “crise” na Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol), contrariando essa tese que começava a ser comum na sociedade.
“Qualquer estado de falência ou de bancarrota teria que implicar que, num só ano, a Sonangol registasse prejuízo de 22 mil milhões de dólares, o que é virtualmente impossível de acontecer.
Num só ano, mesmo num período de quatro ou cinco anos”, afirmou Francisco de Lemos José Maria.
Acrescentou, para justificar a “estabilidade” e “robustez operacional” da empresa, um pouco à semelhança da história recente do português Grupo Espírito Santos, que a Sonangol possui um nível geral de endividamento actual de 13.786 milhões de dólares, contra um património superior a 21.988 milhões de dólares, conferindo uma alavancagem “suficientemente estável” e superior a 63%.
Francisco de Lemos José Maria assegurou também que a Sonangol mantinha o programa de investimentos, avaliado em 6.700 milhões de dólares, em todos os segmentos, dos quais 58% em exploração e produção de petróleo bruto, 15% em refinação de petróleo bruto e 10% em distribuição e logística de combustíveis.
Disse ainda que as demonstrações dos exercícios financeiros da empresa, na sequência das noticiais publicadas sobre a “hipotética bancarrota”, foram explicadas numa reunião entre a administração da Sonangol e representantes de 22 bancos comerciais que operam em Angola, ponderando avançar em termos legais contra a publicação desta notícias
“A Sonangol, com a dimensão que possui, precisa de permanentemente ter flexibilidade para ajustar o seu modelo operacional, para continuar a vender, para continuar a produzir e para continuar a criar rendimentos”, sublinhou Francisco de Lemos, numa alusão às referências à falência do modelo operacional internacional da empresa nas mesmas notícias, que então citavam documentos internos sobre o futuro da concessionária estatal.
Nem tudo é petróleo
Noutra frente, a campanha de reeleição, em 2006, do ex-Presidente do Brasil, Luiz Inácio da Silva, velho, querido e incondicional apoiante do MPLA, teria recebido a quantia de 50 milhões de reais (11,2 milhões de euros) da petrolífera estatal angolana Sonangol, segundo o jornal brasileiro Valor Económico.
A negociação foi denunciada pelo ex-director Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, antes de ele próprio aceitar um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR), responsável pela investigação dos casos de corrupção envolvendo a petrolífera estatal brasileira Petrobras.
A propina teria sido paga após a conclusão de uma negociação sobre a compra de 300 milhões de dólares em blocos de petróleo em África, no ano de 2005.
Segundo o jornal brasileiro, Nestor Cerveró disse aos investigadores que soube do pagamento por intermédio de Manuel Domingos Vicente, que na época presidia ao Conselho de Administração da Sonangol, e que depois se tornou vice-Presidente.
“Manuel Vicente foi explícito em afirmar que desses 300 milhões de dólares pagos pela Petrobras à Sonangol […] retornaram ao Brasil como propina para financiamento da campanha presidencial do PT valores entre 40 e 50 milhões de reais”, escreveu o jornal Valor Económico, citando parte das declarações de Nestor Cerveró.
O ex-funcionário da Petrobras alegou que a negociação da propina foi conduzida por membros dos governos brasileiro e angolano, sendo o representante brasileiro o ex-ministro da Fazenda, António Palocci.
Questionado sobre o assunto, António Palocci negou ter qualquer envolvimento no caso.
O jornal brasileiro pediu uma reacção à Sonangol, ao governo de Angola e ao Manuel Vicente, mas não conseguiu estabelecer qualquer contacto.
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