OPINIÃO Destaque
Redacção F8
22 de fevereiro de 2018
Em 22 de Fevereiro de 2002 falecia, em Lucusse, província do Moxico, Jonas Malheiro Savimbi, Presidente fundador da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
Foi há 16 anos!
Reflectir, quando e quanto, se o País mudou (esperemos!!!) de rumo!
Por Eugénio Costa Almeida (*)
Há 5 anos, num texto do meu blog Pululu, e mais tarde, reproduzido pelo Club-K, escrevia isto: «É altura, pois, já que o partido que ajudou a fundar, a UNITA, nada parece fazer, do mais que já legitimado Presidente da República, senhor eng.º José Eduardo dos Santos, mostrar a sua tão propalada e proverbial benevolência política e permitir que o corpo do histórico político e guerrilheiro independentista angolano, Jonas Malheiro Savimbi, possa, por fim, descansar junto dos seus ancestrais familiares e na sua terra».
Cinco anos depois continuamos a aguardar que a Presidência da República, agora detida por João Lourenço, e – sublinhemos, porque parece ser estes quem mais temem, e não sei porquê, – o MPLA, continuam a não devolver o corpo à família.
E é sobre este facto, este estranho e incompreensível facto que o portal do semanário Novo Jornal, recorda, socorrendo-se de uma nota da UNITA – que eu também recebi e que em certos passos me parece ser um pouco demasiado expressiva para os tempos actuais de reaproximação entre a política e os angolanos, ainda que não deixe de ser oportuna no desabafo –, que «a captura, até hoje, dos seus restos mortais, constituem o apogeu do ódio e da política de exclusão entre irmãos angolanos, e simbolizam a necessidade imperiosa de uma reconciliação nacional genuína e inclusiva, como premissa para a construção da verdadeira paz e da unidade nacional, pilares fundantes da Nação livre, unida e democrática, almejada por todos os angolanos».
Porque perfaz 16 anos, Isaias Samakuva, numa declaração em Paris, onde se encontra, diz que hoje, 22 de Fevereiro de 2018, é um dia de reflexão e para recordar que Savimbi terá sido, à época um profeta, quanto à necessidade do País ter «mudanças significativas, iguais àquelas que o projecto de sociedade da UNITA prevê e aquilo que é, de facto, a aspiração dos angolanos».
De facto, cada vez mais se percebe que o País carece de amplas e significativas mudanças em que todos possamos participar e – saliente-se – com tal colaboração e cooperação de todos; e quando escrevo todos, estou a pensar, principalmente, nos principais intervenientes na crise que durou anos demais!
Também em recordação da data, o activista e professor universitário Nuno Álvaro Dala, numa epístola intitulada «Carta aberta aos angolanos que festejaram a morte de Jonas Savimbi» recorda o dia em que «o monstro, o assassino, o criminoso de guerra, tinha sido abatido.
Ele era o único obstáculo à paz e ao bem-estar dos Angolanos» e como «A festa durou horas, dias, semanas e, em alguns casos, durou meses», sublinhando que nesse dia, e sem compreender porquê – só mais tarde o compreendeu, ele e o professor eram os únicos que não explodiam de alegria.
Dala, nesta importante epístola – proponho que a leiam na íntegra – recorrendo a uma máxima latina, «”tempus est optimus judex”, ou seja, “o tempo é o melhor juiz”» desbobina, em 7 objectivos pontos, o porquê de «6 anos de paz (e de ausência de Jonas Savimbi)» haver muita coisa que não mudou e, por esse facto, os festejos da «morte do velho guerrilheiro», poderem ter sido algo extemporâneas; e justifica-as!
Já o Folha 8, num artigo assinado por João Kanda Bernardo e intitulado «Só matando Jonas Savimbi o MPLA poderia sobreviver» são recordados alguns factos e condições que levaram ao «passamento físico de Savimbi», a «verdadeiro segredo da morte misteriosa do Jonas Savimbi» o que esta poderia trazer para Angola e o muito que ainda está por ser feito.
Recorrendo, uma vez mais à declaração da UNITA, esta «convida todos os angolanos a reflectirem, patrioticamente e sem paixões, sobre como podemos aproveitar o legado de Jonas Savimbi para corrigirmos AGORA os males que ele combateu e que ainda nos perseguem» como, por exemplo, a cultura do medo, da ignorância e da subordinação dos povos africanos à identidade europeia; a exclusão, a aculturação dos angolanos e a sua divisão em angolanos de primeira e angolanos de segunda; o desprezo pelas línguas nacionais (ontem, 21 de Fevereiro, foi o Dia Internacional da Língua Materna); a corrupção, o peculato e a impunidade, o tribalismo, as assimetrias regionais, a intriga e a indisciplina e que ainda «nos impedem de construir o futuro de paz e de prosperidade para todos».
Já passaram 16 anos desde a sua morte e há muito, ainda, por mudar…
(*) Investigador angolano do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL (CEI-IUL).
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