Alemanha
Joana Almeida
15:09
Carlos Gaspar, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), acredita que a 'Grande Coligação' é fundamental para a integração europeia, fragilizada pela saída do Reino Unido.
Os democratas-cristãos da CDU/CSU da chanceler Angela Merkel e os sociais-democratas do SPD, liderado por Martin Schulz, chegaram a acordo para formar Governo na Alemanha, mas o principal beneficiário deste acordo pode vir a ser a Europa.
Carlos Gaspar, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), acredita que a ‘Grande Coligação’ é fundamental para a integração europeia, fragilizada pela saída do Reino Unido.
“No novo acordo de governo entre a CDU e o SPD, a Europa passou a ser a primeira prioridade”, afirma Carlos Gaspar.
“Se o acordo for aprovado, pode significar um novo élan para a integração europeia, indispensável para compensar o retrocesso que significa o Brexit para a União Europeia, assim como um novo ciclo na conexão franco-alemã, sem a qual a integração europeia é insustentável”, explica.
O investigador explica que a política europeia da ‘Grande Coligação’ reproduz uma parte importante das propostas apresentadas pelo presidente francês, Emmanuel Macron, para o relançamento do bloco europeu.
Estas são também medidas consideradas fundamentais para que os membros do SPD se coliguem com a CDU de Angela Merkel para viabilizar o quatro mandato da chanceler alemã.
Carlos Gaspar acredita, no entanto, que “não é evidente que a repetição da ‘Grande Coligação’ possa garantir a estabilidade política na Alemanha nos próximos quatro anos”. “A nova coligação entre a CDU e o SPD ocorre depois de ambos os partidos terem perdido votos nas últimas eleições”, recorda, salientando que, em consequência disso, o partido eurocético de extrema-direita, Alternativa para a Alemanha (AfD), deu entrada no parlamento alemão.
Esse é também agora o partido que vai liderar a oposição, depois de nas eleições de setembro ter sido a terceira força política mais votada.
O compromisso entre os dois partidos foi alcançado após vários dias de conversações e várias concessões da CDU/CSU ao SPD, para conseguirem chegar a um acordo de Governo.
Carlos Gaspar nota que “a chanceler teve de fazer concessões dolorosas ao SPD (o ministro das Finanças) e à CSU (o ministro do Interior), que podem abrir, mais cedo do que mais tarde, um processo de sucessão nas fileiras da CDU”.
“A Alemanha pode ser mais ou menos severa na forma como exerce a sua hegemonia na Eurozona e a nomeação de um Ministro das Finanças do SPD pode ser um sinal de uma maior sensibilidade política, para evitar repetir os erros mais grosseiros das políticas anteriores.
No mesmo sentido, a nomeação de um Ministro do Interior da CSU parece indicar uma politica migratória mais restritiva”, considera.
Além do Ministério das Finanças, o SPD deve ficar também com o Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Trabalho.
“É difícil prever a capacidade da ‘Grande Coligação’ para responder à nova conjuntura internacional, em que a Alemanha deixa de ser o principal parceiro dos Estados Unidos – o tandem Obama-Merkel foi substituido pelo tandem Trump-Macron – e em que é previsível um novo ciclo de tensões políticas, económicas e estratégicas entre Berlim e Washington”, acrescenta.
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