POLÍTICA Destaque
Redacção F8
27 de fevereiro de 2018
A maioria dos intelectuais e, fundamentalmente, os jornalistas, deveriam, nesta fase de revolução de conceitos discernir qual a interpretação correcta que deve ser dada à bicefalia e o que é o conceito aplicado a José Eduardo dos Santos.
Por William Tonet
A bicefalia não é nenhum crime político e, em Angola, no caso vertente, não se coloca. Não se coloca, por ser impossível, à luz da Constituição, o presidente de um partido político, no caso do MPLA, impor regras ao Presidente da República.
Agora, o que a Constituição manda acautelar ao Presidente da República é uma convivência salutar com a base político-partidária de apoio, que é o garante da sua indicação (não se confunda com eleição ou eleito), através do art. 109. CRA (Constituição da República de Angola) “é eleito Presidente da República e Chefe do Executivo o cabeça-de-lista, pelo círculo nacional, do partido político ou coligação de partidos políticos mais votado no quadro das eleições gerais, realizadas ao abrigo do artigo 143. e seguintes da presente Constituição”.
Apesar desta norma constitucional atípica, não se pode falar na possibilidade de bicefalia, mais a mais perniciosa, capaz de estrangular o desempenho do actual Presidente da República. que deve estar focado nas funções de coordenação e comando das tarefas do Estado, enquanto Titular do Poder Executivo, em homenagem ao art. 108. CRA: “1. O Presidente da Republica e o chefe de Estado, o Titular do Poder Executivo e o Comandante em Chefe das Forças Armadas Angolanas“ e ainda blindadas nos artigos 119; 120; 121; 122; 123 todos da CRA.
Como se pode depreender, a bicefalia, como tem sido abordado é não só um falso problema, como uma tendência muito perigosa, pois numa altura em que os verdadeiros patriotas se deveriam unir, para impedir que o Presidente da República seja apenas, presidente dos angolanos do MPLA, voluntária ou involuntariamente, alguns andando em sentido contrário da lógica, pretendem a manutenção e concentração de poder, num homem só, ligado ao MPLA, partido que desde 11 de Novembro de 1975, governa Angola com base na visão umbilical sectária, discriminatória e partidocrata.
Mais grave ainda é que os que, incluindo líderes da oposição, apenas consideram bicefalia o facto de José Eduardo estar, agora, exclusivamente, à frente do MPLA, esquecem-se ser esta a melhor altura, para o presidente do partido maioritário, não fazer deste um órgão do Estado, pela óbvia dualidade, que alimenta a cumplicidade e os “jobs for the boys” partidários.
Ademais, não se deve esquecer que ninguém nasce ditador.
É a concentração de poder e o excesso de bajulação que transforma, às vezes, um dirigente ou líder medíocre em ditador.
Os exemplos estão à mão de semear.
Os angolanos que têm sido, desde 1975, governados por ditadores, agora não pela força das armas, mas da inversão de conceitos e dos homens da toga preta (juízes e juristas), com estas difusas interpretações conceituais, querem a continuidade da podridão, que impede a verdadeira independência dos tribunais e juízes, dos jornalistas, dos sindicatos, dos intelectuais, em suma da sociedade no geral.
Não se deve alimentar uma discussão espúria que não visa dar ganhos aos angolanos, mas apenas a uma parte deles, ligados a um partido.
Para mim, José Eduardo dos Santos ou outro dirigente, como Paulo Kassoma, Fernando da Piedade “Nandó”, Isaac dos Anjos, Marcolino Moco, fique no MPLA, não cairá o Carmo e a Trindade.
Pelo contrário, com um Presidente de todos poderemos, havendo competência, ter uma governação e um país melhor.
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