«0s idosos não estão representados»
Manuel
Villaverde Cabral
Diretor
do Instituto do Envelhecimento
Sociólogo
reformado do instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, mas
ainda no activo Manuel Villaverde Cabral dirige há três anos o Instituto do Envelhecimento,
uma unidade autónoma de investigação dedicada à faixa da população mais falada
nos últimos tempos por causa da austeridade
P Os direitos
dos idosos não estão bem representados em Portugal?
R Nem bem nem mal. Não estão representados.
P A APRE
(Associação de Aposentados. Pensionistas e Reformados), criada já durante a
crise, não os defende?
R É uma associação de pessoas com pensões
ditas milionárias. São pessoas superqualificadas, bem colocadas no sistema
social português e todas com acesso aos media.
Dá-se o caso de eu estar na mesmíssima situação. Compreendo o problema deles,
mas não sou membro dessa associação e não a considero minimamente
representativa dos três milhões de reformados e pensionistas.
P Só a elite de idosos está defendida?
R Sim, e porque lhes tocaram nas reformas.
Essa é a posição da Dra. Ferreira Leite, por exemplo, que é inspiradora dessa
ideologia.
P Manuela Ferreira Leite está a falar em causa própria?
R Única e exclusivamente.
P Com os níveis de desemprego atuais e com o aumento da idade de reforma, haverá mercado de trabalho para pessoas com mais de 60 anos?
R Os reformados e pensionistas portugueses
são, em média, dos mais idosos na Europa. Os nossos funcionários públicos são
dos que se reformam mais tarde. Porque não é tão mau quanto isso. Falo por
experiência própria. Porque é que um professor não há de ficar até ao fim? Claro
que se uma pessoa de 60 anos fica desempregada, é de pensar que não terá
emprego. Por isso tem de haver um mecanismo de reforma antecipada, de pré-reforma.
P O Governo está a aumentar muito as penalizações para quem se reforma mais cedo.
R Mas ainda assim reformam-se. Por outro
lado, a poupança em Portugal voltou a aumentar.
P Como vê o grupo de investigação do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra dirigido por Carvalho da Silva, que tem estado a trabalhar para propor soluções concretas para a crise?
R Não costuma acontecer lá fora, onde as pessoas que têm contributos a dar nesse campo vão trabalhar nesse campo. Lemos e discutimos esses papéis (do grupo de Carvalho da Silva). O Boaventura Sousa Santos (director do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra) é um grande sociólogo, mas não foi com papéis daqueles que ganhou o prestígio merecido que tem. Ou a ciência social tem obrigações metodológicas ou foge de ser ciência social. E é ideologia. Pelo menos, neste caso concreto. Há uma ala de esquerda não partidarizada.
P Refere-se
á ideia de unir as esquerdas para as eleições europeias em torno da figura de
Carvalho da Silva?
R Claro. Neste momento há uma superelite que
se recruta em grande parte na universidade e que sente haver, nesta situação
de crise, uma oportunidade. Uma oportunidade para essa elite.
P Para ascender ao poder?
R Para ter mais peso no exercício do poder.
O Rui Tavares é um antigo aluno do ICS. Inventou um partido para ver se é
eleito. Não serei eu a votar nele. É um teste. Sabemos que o número de votos
necessários para eleger um deputado europeu é baixíssimo. Tanto mais baixo quando
60 a 70% da população se arrisca a não votar. Esse é o problema que eles, como
cientistas políticos e sociais, deviam enfrentar; por que razão, quando as
propostas políticas são mais do que muitas, a população não vota? Não é um
sinal de debilidade da sociedade civil.
P Se a abstenção não é um sinal de debilidade da sociedade civil, é um sinal de quê?
R A maioria da população sofre de um
problema identificado e estudado; distância ao poder. E por isso retira-se. A
propósito de uma crise parecida com esta que estamos a ter, de 1890, Salazar escreveu
esta frase sinistra; “É verdade que o povo podia ter-se revoltado, mas preferiu
votar os partidos ao mais profundo desprezo’’. É terrível. Não é indiferença,
é uma posição. Até por isso, as sondagens são muito difíceis de fazer. Há uma
probabilidade grande de surpresas. Depende imenso de quem se abstém. E é
sabido que quem menos se abstém é a extrema-esquerda – e a extrema direita.
São pessoas teimosas. Quando se lhes pergunta, elas respondem.
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