Plano B Ainda não há alternativa à convergência de pensões. Mas ninguém está muito preocupado
Foram seis horas de
reunião do último Conselho de Ministros, ocupada sobretudo com a alternativa
a apresentar pelo Governo ao chumbo da convergência de pensões pelo Tribunal
Constitucional. «É uma decisão política, mais do que técnica», disse uma fonte
oficial. O objectivo é blindar a nova solução de “todos os riscos constitucionais’’.
Mas, na verdade, apesar das horas de reunião, não foi escolhida a fórmula para
responder com novos cortes – ou com mais impostos - ao ‘buraco' de €400
milhões deixado nas contas públicas. A decisão, garantem vários membros do
Executivo, poderá ser tomada na próxima semana ou já na segunda semana de Janeiro.
Até lá, para não azedar a passagem de ano, a ordem é para “evitar
especulações” e para garantir que “não há pressa na resposta», tanto mais que
a décima avaliação da troika só fecha em Fevereiro. Além disso, o Governo quer
tréguas com o Tribuna! Constitucional.
«Estão colocadas
várias hipóteses em cima da mesa» ou «há vários cenários em estudo». Não passam
daqui as declarações de alguns dos membros do Conselho de Ministros
contactados peio Expresso sobre a saída para mais um chumbo do TC a uma das
“reformas essenciais do Governo”. Sem por agora “fechar uma solução”, as
hipóteses de colmatar o ‘buraco’ de €740 milhões (a que equivalia a convergência
das pensões) passa desde já pela recuperação da Contribuição Extraordinária de
Solidariedade, que já vigorou em 2013 passou no crivo do Constitucional. Com a
retoma da CES são €322 milhões que o Governo ‘abate’ ao problema das contas
públicas. Mas não chega.
«Não há pressão para uma
decisão», disse um dos membros do Executivo, para quem a discussão em Conselho
de Ministros foi “pacífica” e unânime «a necessidade de ser encontrada urna saída
consistente “que reduza ao mínimo os riscos constitucionais existentes». Na
verdade, todos reconhecem que outro pacote inscrito no OE-20Í4 - a tabela
salarial única da função publica — “tem grandes riscos” de um novo chumbo do
TC, pelo que a estratégia passa por evitar retomar confrontos com os juízes do
Palácio Ratton sobre um tema sobre o qual já se pronunciaram.
O mote para reduzir a
pressão ganhou um novo argumento, a 10.º avaliação da troika só fecha
formalmente em meados de Fevereiro, altura em que tanto o board do FMI como
Comissão Europeia têm o programa de rebate português na agenda. Por isso, o
Governo pode aguardar umas semanas para encontrar uma solução sólida. E se é
verdade que o IGCP, instituto que gere a dívida pública, tem prevista uma
emissão de dívida (de 5 e 10 anos) já em Janeiro, absolutamente fundamental
para o fim do programa de assistência financeira, o certo é que não existem
prognósticos para próximas turbulências nos mercados.
MILHÕES
DE EUROS
740
Quanto o Estado
pouparia caso regime de convergência de pensões tivesse passado no Tribunal
Constitucional
322
Quanto
o Estado arrecadará ao repor a Contribuição Extraordinária de Solidariedade,
que corresponde a 3,5% de corte nas pensões acima de 1.300 euros
400
O valor (aproximado)
de receitas que o Governo obterá com o aumento de 23 para 24% da taxa máxima do
IVA, caso opte em avançar por aqui
A próxima semana
ainda é de acalmia nos mercados financeiros, onde as transações com divida
pública quase param entre
o Natal e os Reis. Além disse, várias fornes governamentais convergem na ideia
de que “os investidores já tinham assimilado os riscos constitucionais da
convergência das pensões” nas taxas a que transacionam os títulos de dívida
portuguesa. O problema “não é se os juros vão subir. É ver como conseguimos
que desçam”, acrescenta uma fonte do executivo.
Solução
suave e mista
Sem adiantar detalhes,
a alternativa para compensar a convergência das pensões devem passar por uma
solução mista e suavizada. Há quem defenda que a CRES pode ser alargada - à
imagem do que aconteceu com o corte dos salários dos funcionários públicos —
passando a abranger pensionistas com reformas abaixo dos €1.300. O valor exacto
sobre o qual cairá a guilhotina está a ser estudado. Em simultâneo, o Governo
pondera mexer nas tabelas de IVA, admitindo-se um novo aumento do escalão máximo
para os 24%, deixando-se cair a hipótese de um aumento generalizado de todos os
escalões deste imposto. Ambas as medidas seriam de carácter provisório — pata satisfazer
os requisitos do TC – e davam tempo ao Governo para preparar uma verdadeira reforma
estrutural dos sistemas de segurança social, público e privado — uma porta que,
segundo Passos Coelho, os juízes constitucionais deixaram aberta para o Governo
entrar.
ROSA PEDROSO LIMA
Com RICARDO COSTA
rlima@expresso.impresa.pt
Remodelação
(ainda) sem data nem nomes
Há três secretários de Estado para sair e outros tantos
para entrar. Mas nem eles nem a Presidência sabem quem são nem quando tomam
posse
Três secretários de Estado estão demissionários
há mais de uma semana, mas ainda não se sabe nem quando nem por quem vão ser
substituídos. Hélder Rosalino, secretário de Estado da Administração Pública,
acertou com a ministra das Finanças que sairia até ao final do ano, mas até à
hora de fecho desta edição ainda não havia qualquer indicação de remodelação,
nem qualquer cerimónia de tomada de posse marcada em Belém, Além de Rosalino,
deixam o Executivo Filipe Lobo D’Ávila, secretário de Estado da Administração Interna,
e Fernando Santo, secretário de Estado da Justiça. Nos bastidores ministeriais
vão correndo alguns nomes, mas sem quaisquer confirmações pelas respetivas
tutelas; Joana Ramos, diretora-geral do Emprego e Administração Pública, é
falada como a possível substituta de Rosalino, para a Administração Interna -
uma das pastas que, pelo acordo de coligação, pertencem ao CDS —, surgiram os nomes
dos deputados João Almeida ou Teresa Anjinho.
A passar para 2014,
como tudo parece indicar, esta será a primeira remodelação do ano. Em 2013,
foram nada menos do que sete as vezes em que Passos Coelho teve de mudar a
composição da sua equipa. No total, substituiu três ministros (Miguel Relvas,
Vítor Gaspar e Álvaro Santos Pereira) e 18 secretários de Estado (Paulo Júlio,
Pedro Silva Martins. Nuno Oliveira, Cecília Meireles, Daniel Campelo, Pedro
Afonso de Paulo, Henrique Gomes, Almeida Henriques, Rita Barosa, Luís Morais
Sarmento, Manuel Rodrigues, Franquelim Alves, Marco António Costa, Pedro Roque,
Filipe Queiró, Francisco Almeida Leite, Morais Leitão e Joaquim Pais Jorge).
CRISTINA FIGUEIREDO
cfigueiredo@expresso.impresa.pt
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