AFINAL
PARA QUE SERVE O NOVO BANCO DE FOMENTO?
O que deve a comunidade empresarial esperar
do designado banco de Fomento?
«Não
se esperam remédios milagrosos, mas que seja um antídoto eficaz para a doença
do crédito escasso e caro», responde António Saraiva, presidente da CIP – Confederação
Empresarial de Portugal. A CIP tem «expectativas elevadas» e acredita que ajude
a «salvar empresas», beneficiando de uma «actuação mais expedita e determinada»
do que a banca comercial.
Mas, nesta fase, sobram ainda muitas dúvidas
sobre o efeito real no tecido das PME do novo braço financeiro, por estas por
definir a sua exacta geometria. O Ministério da Economia optou por uma
designação retórica (IFD – Instituição Financeira de Desenvolvimento) para uma
agência que se assumirá como um «grossista» de instrumentos e dinheiros
públicos. A sua capacidade financeira será assegurada por vernas comunitárias
(o actual QREN conta com 6 mil milhões de euros por aplicar e os fundos do novo
programa chegam em meados de 2014) e por sobras de outros organismos estatais.
António Saraiva nota que, no financiamento
às empresas, a CGD não se especializou nem se distingue da banca privada. O
novo banco beneficiará «de mecanismos e linhas preferenciais, vedados à banca
comercial. O segredo está nos fundos europeus. A capitalização e expansão das
empresas ficarão facilitada.
E fará sentido, neste momento, lançar uma
nova entidade?
«Depende
muito de como for conduzida», responde Pedro Ferraz da Costa. O empresário
reconhece que a «restrição ao crédito é preocupante», mas revela algum
ceticismo. Ferraz da Costa espera que a IFD tenha a coragem «de selecionar os
sectores que vai apoiar», evitando o pecado «de injectar dinheiro em empresas
falidas», como aconteceu no passado.
Alberto Castro, professor da Universidade
Católica, antecipa a IFD «como um agente de racionalização e da reforma do
Estado». Mas sem vocação ou missão de banco clássico. «Não faz sentido entrar
em concorrência com a CGD, que se assume como o banco das PME», diz o
economista. A IFD terá espaço se conseguir «dar coerência a um universo», desde
o sistema de Garantia Mútua ao capital de risco estatal, «agilizando o processo
de decisões, diz Alberto Castro.
António Marques, presidente da AIMinho, liga
a criação do novo banco à execução do novo Quadro Comunitário de Apoio
2014/2020. As verbas deixarão de ser a fundo perdido e terão, maioritariamente,
um caracter de subsídios reembolsáveis. A montagem das operações «precisa de um
veículo de gestão financeira». Neste momento, «são mais as dúvidas do que as
certezas, até na própria esfera governamental, sobre o posicionamento» da IFD.
O que António Marques espera é que a IFD «concentre competências e calibre
soluções até agora dispersas por várias entidades».
Ao optar «por um banco de 1.º andar (grossista), o
Governo escolheu a pior solução de todas», diz António Rebelo de Sousa
A racionalização pode conduzir à
transferência de competências ou extinção de outros organismos. António Saraiva
fala «em complementaridades e sinergias» em vez de fusões, e Ferraz da Costa em
«articulação de estratégias e congregação de esforços» entre sociedades
concorrentes.
Esta semana, um representante da SOFID –
Sociedade para o Financiamento do Desenvolvimento participou em Berlim na
conferência anual da rede europeia da especialidade. A SOFID (60% do Estado)
financia projectos de investimento e poderá ficar sem espaço de manobra com a
criação do novo banco. O socialista António Rebelo de Sousa, presidente da
SOFID, diz que a opção do Governo por «um banco de 1.º andar» (grossista e sem
rede que lide com as empresas) «não lembra ao careca». A solução encontrada
«foi a pior de todas» por ser confusa e levantar questões operacionais na
gestão dos fundos. Rebelo de Sousa defende uma separação entre o financiamento
da reestruturação empresarial e o apoio à exportação e internacionalização. A
primeira função ficaria bem entregue à Caixa – Banco de Investimento, que
beneficiaria do retalho da casa-mãe, e a segunda à sociedade a que preside.
Esta solução «só faz sentido se a privatização da CGD for para avançar»,
ficando a nova IFD como banco público.
PERFIL
§ Instituição de capitais
exclusivamente públicos
§ Gestor grossista de
verbas para estimular investimentos de pequenas e médias empresas de bens
transacionáveis
§ Apoio técnico a novos
modelos de promoção da competitividade e internacionalização
§ Actuar em parceria
com a banca na oferta de produtos (dívida subordinada, acções preferenciais,
etc) na capitalização das PME
§ Promover a redução da
alavancagem e risco bancários
§ Estudar a viabilidade
e riscos de investimentos das empresas e estudar soluções de financiamento
§ Gerir com eficiência
reembolsos da parte reembolsável dos fundos europeus.
ABÍLIO
FERREIRA
aferreira@expresso.impresa.pt
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