FUNDOS EUROPEUS
Agostinho
Branquinho ganhou concurso para o programa de Relvas que está a ser investigado
pelo MP
Promoção
do Foral foi feita pela NTM, uma pequena empresa de Branquinho que venceu, com
o preço mais alto, um concurso internacional lançado por Relvas. Excepções e
coincidências marcaram este concurso em que a terceira maior empresa do sector
foi excluída por falta de capacidade financeira. Caderno de encargos foi
violado por Branquinho. Aguiar-Branco esteve ligado à NTM durante anos
A campanha de
comunicação do programa Foral, no valor de quase 4SO mil euros, foi adjudicada
em 2002 a uma empresa de publicidade detida exclusivamente por Agostinho
Branquinho, antigo deputado do PSD e actual secretário de Estado da Segurança Social.
José Pedro Aguiar-Branco, agora ministro da Defesa, tomou-se presidente da
assembleia geral pouco depois da adjudicação.
O Floral, que tinha
sido criado com fundos europeus para promover a formação profissional do
pessoal das autarquias, era gerido por Miguel Relvas, então secretário de
Estado da Administração Local de Durão Barroso. O grosso do negócio da
formação financiada pelo Foral entre 2002 e 2004, tal como o PÚBLICO revelou no
ano passado, foi parar às mãos da Tecnoforma, uma empresa que chegou a ter
Passos Coelho como administrador e está a ser investigada pelo Ministério Público (DCIAP
e DIAP de Coimbra) e pelo gabinete de luta antifraude da Comissão Europeia.
A adjudicação da
campanha de divulgação do Foral foi feita na sequência de um concurso público
internacional lançado por iniciativa de Miguel Relvas, de acordo com uma
metodologia excepcional que nunca tinha sido usada até então e que nunca
voltou a ser posta em prática.
Preço e capacidade técnica
A concurso compareceram nove empresas de
publicidade, parte das quais se encontravam entre as maiores do pais. Seis
foram imediatamente excluídas, sem serem apreciadas, sendo que quatro delas
foram afastadas por falta de capacidade financeira, uma por falta de
capacidade financeira e técnica e outra por feita de capacidade técnica.
Entre as cinco
excluídas por insuficiência financeira encontrava-se a subsidiária de um
gigante internacional que ocupava o terceiro lugar na lista das 30 maiores
empresas de publicidade do mercado português, a McCann Erickson Portugal (52 milhões
de euros facturados em 2001) e a Caixa Alta, então em 16.° lugar no mesmo ranking
da Associação Portuguesa de Agências de Publicidade e Comunicação (13,6
milhões).
Concluída a fase de
selecção prévia das propostas, sobraram a NTM de Agostinho Branquinho, que não
constava sequer daquele ranking e somou uma facturação de 3,7 milhões de euros
em 2001, a
WOP e a Spirituc. A NTM foi a que apresentou o preço mais elevado - 375 mil
euros mais IVA, contra os 266 mil da WOP (a segunda classificada no final do
concurso) e os 348 mil da Spirituc (a que ficou em último lugar).
Por outro lado, a NTM
era a que, na avaliação do júri, tinha a mais fraca capacidade técnica entre as
três admitidas. Mas foi a que ficou à frente na análise da qualidade das
propostas - critério este que contava com 70% para a classificação final,
contra os 30% do preço.
Feita a análise das
três propostas apenas com base em critérios subjectivos, o júri propôs a
adjudicação à NTM
por 447mil euros (375 mil mais IVA) em Dezembro de 2002 - decisão que foi
homologada por Relvas dias depois. Como sucede habitualmente neste tipo de
concursos, nenhuma das empresas excluídas, nem as que foram classificadas em
segundo e terceiro lugar, recorreram da decisão final.
Contactado pelo PÚBLICO
no sentido de esclarecer as muitas questões suscitadas pela adjudicação deste
negócio à NTM, Agostinho Branquinho pediu que as perguntas lhe fossem dirigidas
por escrito. As respostas, porém, ignoram a maior parte das perguntas. Em todo
o caso, o actual secretário de Estado nega que a NTM fosse uma empresa de
segunda linha, garantindo que ela «estava no topo da liderança, em termos de
facturação, das empresas do sector com capitais exclusivamente nacionais».
O ranking das 30 maiores
do sector mostra contudo que, além de ela não integrar esse pelotão, nele
encontravam-se muitas empresas de capitais exclusivamente nacionais. Era o
caso, entre outras, da Caixa Alta, da Opal, do Grupo Barro e da Rasgo, todas
com vendas, em 2001, duas a cinco vezes superiores às da NTM.
Agostinho Branquinho
assegura também que o júri do concurso ganho pela NTM era composto por «várias
personalidades, entre as quais os cinco presidentes das comissões de
coordenação regionais» - actuais comissões de coordenação e desenvolvimento
regional (CCDR). Na verdade, conforme o comprova o processo do concurso
consultado pelo PÚBLICO, nenhum deles fazia parte do júri, cuja nomeação coube
à Secretaria de Estado de Miguel Relvas. Entre os seus sete membros figuravam
dois representantes da Secretaria de Estado e um elemento de cada uma das cinco
CCDR (Lisboa e Vale do Tejo, Centro, Norte, Alentejo e Algarve), todos eles
chefes de divisão e directores de serviços.
Agostinho Branquinho na tomada de pose como secretário de Estado da Segurança Social
NUNCA FUI PRESSIONADA, diz
ex-adjunta de Relvas
Susana Viseu, a adjunta de Miguel Relvas licenciada
em engenharia do Ambiente que fez parte do júri que escolheu a proposta da NTM,
garante que nunca foi alvo de qualquer pressão para que essa fosse a empresa
escolhida.
«Dou-lhe a minha palavra de honra que não houve
qualquer interferência política da decisão. Eu nem sabia quem era Agostinho
Branquinho, nem que a empresa era dele» A actual administradora da Fomentinvest
assegura também que nunca houve nenhuma conversa entre mim e o senhor
secretário de Estado sobre as propostas, ou sobre Agostinho Branquinho». Susana
Viseu garante igualmente que «não houve qualquer colaboração externa na
preparação do concurso, ou no trabalho do júri» e que não se lembra de Branquinho
«ter estado na Secretaria de Estado na fase de preparação do concurso». Depois
de deixar o Governo em 2004, a então adjunta regressou ao seu lugar de
directora da SGS, uma multinacional da área da inspecção e certificação de
produtos e serviços da qual Miguel Relvas se tornou consultor no ano seguinte.
A engenheira adianta que a escolha da NTM pelo júri «foi sobretudo uma questão
de gosto, relativamente ao logótipo proposto para a campanha» - um mapa de
Portugal com os municípios delimitados. «Achamos que tinha uma imagem mais
apelativa e que era a melhor. «Susana Viseu afirma desconhecer que Branquinho
tinha deixado a empresa e se tinha desligado da execução do contrato logo após
o início da campanha. «Nem sabia que ele tinha vendido» a sociedade, salienta.
A então colaboradora de Miguel Relvas confirma, contudo, que o caderno de
encargos exigia a permanência do coordenador da equipa da empresa vencedora até
ao fim do contrato, acrescentando que – ao contrário do que Agostinho
Branquinho afirma - «ele participou em várias reuniões na Secretaria de Estado
após o início da campanha». O PÚBLICO tentou falar com Miguel Relvas sobre a
adjudicação do concurso à empresa de Agostinho Branquinho, mas este remeteu qualquer
esclarecimento para os então «dirigentes» das CCDR que, afirma, «tomaram as
decisões»
De acordo com vários
técnicos e ex-dirigentes das CCDR, entidades que executam no terreno os
programas dos fundos europeus, os regulamentos comunitários contemplam
normalmente verbas para a divulgação desses programas. A prática que vigorava
até então era a de que as respectivas campanhas de comunicação fossem lançadas
pelas diferentes CCDR, promovendo cada uma delas o seu concurso, assumindo os
custos da comparticipação nacional da campanha, e adjudicando o contrato
correspondente.
No
caso do Foral, Relvas entendeu lançar um único concurso e escolher uma única
empresa para o publicitar a nível nacional - coisa que, independentemente de
possíveis vantagens para a divulgação do programa, permitiria ao vencedor
ficar com a totalidade do bolo, em vez de se sujeitar a cinco concursos com
júris diferentes e ficar com menores probabilidades de facturar a totalidade
do negócio. Para isso, Relvas recorreu a uma figura prevista na lei, mas nunca usada
até então, a do agrupamento de CCDR, cuja constituição liderou e formalizou
através da celebração de um protocolo entre as cinco comissões e a Secretaria
de Estado da Administração Local.
Nos
termos desse protocolo, assinado no Verão de 2002, a CCDR de Lisboa e
Vale do Tejo assumiu a direcção do agrupamento e a Secretaria de Estado responsabilizou-se,
com recurso às verbas afectas ao gabinete de Relvas, pela contrapartida
nacional do custo da campanha, no valor de 37,5% do total - cerca de 128 mil
euros. O recurso ao orçamento da Secretaria de Estado foi a solução, também ela
excepcional encontrada para que o concurso pudesse avançar de imediato, apesar
das limitações orçamentais das CCDR.
O
protocolo refere que «a montagem e operacionalização de uma campanha de
comunicação que promova a imagem do programa Floral adquiriam interesse estratégico»,
face à reduzida adesão que o programa motivara até então. O texto especifica
que a aquisição dos serviços da campanha «será precedida de um único concurso e
será objecto de um único contrato».
Na
opinião de Fonseca Ferreira, à época presidente da CCDR-LVT - que não
acompanhou os trabalhos do júri do concurso ganho pela NTM, nem a elaboração do
caderno de encargos e do programa de concurso -, a ideia do agrupamento não
era má. «Do ponto de vista administrativo era um bom caminho porque evitava a
realização de cinco concursos diferentes e facilitava a monitorização do
contrato, mas era realmente uma solução excepcional», refere aquele militante do
PS. «Pelo que me lembro até houve um bom trabalho da empresa contratada»,
acrescentou.
Já este
mês, a presidência da CCDR-LVT comunicou ao PÚBLICO, por escrito, que aquela
comissão nunca participou em qualquer agrupamento do género, com excepção do
que foi constituído para o Foral.
O
papel de Miguel Relvas
Outros
ex-responsáveis de algumas CCDR ouvidos pelo PÚBLICO garantem todavia que
neste caso não foi só o recurso ao mecanismo do agrupamento que foi
excepcional. Apesar de o concurso ser formalmente da responsabilidade das CCDR,
quem assumiu o controlo de todo o processo, salientam, foi Miguel Relvas,
através do seu chefe de gabinete Paulo Nunes Coelho e da sua adjunta Susana
Viseu.
Já
com o actual Governo, Paulo Nunes Coelho - que presidiu uma associação
(Construir uma Alternativa) criada em 2008 para organizar a primeira
candidatura de Passos Coelho à liderança do PSD - foi chefe de gabinete do
secretário de Estado do Ordenamento do território Pedro Afonso de Paulo, entre
2011 e Fevereiro deste ano, e em Julho foi nomeado adjunto de Marco António
Costa, dias antes deste deixar o Governo para se tomar coordenador nacional do
PSD e ser substituído por Branquinho.
Susana
Viseu é desde 2007 administradora do grupo Fomentinvest, liderado por Ângelo
Correia, do qual Passos Coelho também foi administrador, desde o tempo em que
trabalhava na Tecnoforma até ir para o Governo. Segundo várias fontes, tanto o
caderno de encargos como o programa do concurso foram elaborados no gabinete
de Relvas, sendo que aí não havia qualquer técnico com experiência na área da
publicidade e da comunicação.
Fonseca
Ferreira confirma que este tipo de documentos exige algum know how no
ramo, acrescentando que ele poderá ter sido fornecido através de alguma
assessoria técnica. «Mas se isso aconteceu foi no gabinete do secretário de
Estado ou no Núcleo de Coordenação Estratégica do Foral», uma estrutura que
dependia de Relvas e era dirigida pelo gestor Rui Azevedo. Este especialista
na área da formação assegura, todavia, que o núcleo de coordenação «não teve
qualquer intervenção» na preparação do concurso. «O processo foi conduzido ao
nível do gabinete do secretário de Estado», afirma.
Algumas
fontes que pedem para não ser identificadas não hesitam, todavia, em afirmar
que a NTM acompanhou a preparação do concurso e dispôs de informação que lhe
permitiu, nomeadamente, antecipar a preparação da sua candidatura.
Questionado
expressamente sobre a qualidade em que colaborou com o gabinete de Relvas na
preparação do caderno de encargos e do programa de concurso, que entre outras
coisas estabeleceram os critérios de adjudicação do contrato, Agostinho Branquinho
nada respondeu.
Certo
é que o nível de elaboração e detalhe, bem como a qualidade dos materiais
usados na sua proposta, a primeira a ser entregue, ultrapassava claramente
todas as outras oito, embora a capacidade técnica da NTM ficasse muito aquém da
maior parte destas - como o júri reconheceu.
Entre
os nove concorrentes, a NTM ficou na sétima posição quanto à capacidade
técnica, tendo atrás dela apenas dois concorrentes que foram excluídos por não
satisfazerem as exigências mínimas nesse domínio.
Para
avaliação deste requisito, entre coisas, os concorrentes tiveram de fornecer
informações sobre os principais serviços por eles fornecidos nos últimos três
anos e sobre a constituição das equipas destacadas para executar a campanha do
Floral. No que concerne às NTM constata-se que naqueles três anos as vendas aos
seus principais clientes somaram cerca de 5,2 milhões de euros.
Tecnoforma recebeu fundos da floral para formação de pessoas para funções em aeródromos
PERFIL AGOSTINHO BRANQUNHO
O homem que, quando era
deputado, não sabia o que era a Ongoing
Agostinho
Branquinho, 57 anos, veio para as primeiras páginas dos jornais em 2010, quando
era vice- presidente da bancada do PSD na Assembleia da República e deixou o
Parlamento para dirigir uma empresa do grupo Ongoing no Brasil. Meses antes, o
então deputado havia participado numa comissão de inquérito sobre a liberdade
expressão em Portugal em que estava em causa a actividade da mesma Ongoing e
onde faz uma muito comentada pergunta: «O que é a Ongoing?» Mais tarde, o seu
nome apareceu envolvido numa acesa controvérsia relacionada com a influência da
maçonaria na política portuguesa e com as actividades dos serviços secretos.
Branquinho. que já tinha sido deputado entre 1983 e 1985: sendo depois adjunto
de Couto dos Santas no Governo, foi apontado pela imprensa como membro da loja
Mazart 49, da Grande Loja Legal de Portugal. Nesse mesmo grupo restrito de
maçons teria também assento o actual presidente do grupo parlamentar do PSD Luís
Montenegro, vários dirigentes da Ongoing e Jorge Silva Carvalho, ex-director do
Serviço de Informações Estratégicas de Defesa. No decurso do seu segundo
mandato parlamentar, entre 2005 e 2006, Branquinho interveio, sem nunca o ter
declarado á Assembleia da Republica e ao Tribunal Constitucional, como
consultor no complexo processo de licenciamento do Hospital de São Martinho,
uma unidade de saúde privada de Valongo (Porto), cujo administrador único era
Joaquim Teixeira - o homem que no final de 2007 passou a presidir à NTM. Os
pormenores deste processo serão proximamente revelados nas páginas do PÚBLICO.
Depois de cessar as suas funções de deputado em 2010, Branquinho seguiu para o
Brasil com a sua antiga colaboradora Bianca Barboza - que ainda era administradora
da NTM juntamente com Joaquim Teixeira e com a qual então se casou e da qual
teve um filha. Já em 2012 voltou a Portugal, depois de se divorciar, e
tornou-se administrador da Misericórdia do Porto. Em Julho substituiu Marco
António Costa como secretário de Estado da Segurança Social.
Couto dos Santos, o cliente
Deste
total, 63% (3,3 milhões de euros) correspondem a serviços prestados à
Associação Empresarial de Portugal (antiga Associação Industrial Portuense) e
às suas subsidiárias Exponor e Europarque. Nessa época a AEP era administrada
por Couto dos Santos, o actual deputado do PSD e presidente do Conselho de
Administração da Assembleia da República de quem Agostinho Branquinho foi
adjunto entre 1986 e 1988, depois de deixar o Parlamento, quando Couto dos
Santos era secretário de Estado e ministro da juventude de Cavaco Silva.
Entre
os principais clientes da NTM no triénio anterior ao concurso do Foral
destacavam-se ainda as câmaras de Vila Nova de Gaia e de Valongo. A primeira
era presidida por Luís Filipe Menezes e a segunda tinha como vice-presidente
Marco António Costa, o homem que Branquinho substituiu em Julho como secretário
de Estado da Segurança Social.
Quanto
à equipa da NTM, a coordenação era assegurada pelo próprio Branquinho e, logo
abaixo, por Ana Santana Lopes, irmã de Pedro Santana Lopes, então
vice-presidente da Comissão Política Nacional do PSD e presidente da Câmara de
Lisboa.
Mas
foi a qualidade técnia da própria proposta que, segundo as actas do júri,
acabou por dar a vitória à NTM, com uma classificação final, incluindo o factor
preço, de 4,56, contra os 4,20 da WOP, uma empresa que tinha à frente
Washington Olivetto, um dos principais publicitários brasileiros, e os 3,37 da
Spirituc.
Violação das regras
De
acordo com os elementos recolhidos pelo PÚBLICO, a avaliação técnica das três
propostas não contou com a intervenção de qualquer perito externo, sendo certo
que nenhum dos sete membros do júri tinha experiência no campo da publicidade
da comunicação. Embora algumas das CCDR tivessem técnicos dessa área nos seus
quadros, nenhum deles integrou o júri ou foi chamado a emitir qualquer opinião.
Pouco
depois de obtido o visto do Tribunal de Contas, o contrato entre as CCDR e a
NTM foi assinado no final de Março de 2002. E a 22 de Maio a campanha de
comunicação do Foral, desenhada para se desenvolver ao longo de nove meses, foi
oficialmente apresentada numa sessão pública realizada em Faro.
Intervenientes: Agostinho Branquinho, como director-geral da NTM, e Miguel
Relvas, como secretário de Estado da Administração Local.
Passado
menos de um mês, Agostinho Branquinho, que era o coordenador da campanha,
anunciou a venda a venda da NTM a investidores não identificados. A operação
foi feita através do escritório do advogado José Pedro Aguiar-Branco - o actual
ministro da Defesa que presidia à assembleia geral da empresa - e logo a
seguir, a 26 de Junho, Branquinho renunciou à presidência do conselho de
administração.
Das
parcas explicações dadas ao PÚBLICO pelo então empresário, destaca-se a
afirmação de que deixou de ter qualquer actividade na NTM nessa altura, logo
após o início da campanha do Foral - situação que, a ser exacta, corresponde a
uma violação do caderno de encargos do concurso. Com efeito, este exigia a
manutenção de Branquinho como coordenador da equipa até ao fim do contrato de
nove meses.
«O
concorrente obriga-se a manter durante toda a execução do trabalho a equipa
técnica apresentada ao concurso, incluindo o coordenador”» lê-se no documento.
«A minha
participação em relação à proposta do Programa Foral limitou-se, apenas e
tão-só, a coordenar a equipa multidisciplinar da NTM que definiu a estratégia e
as acções de comunicação a desenvolver, a assinar, na qualidade de então
presidente do conselho de administração da empresa, os respectivos contratos
públicos, e a intervir numa sessão pública de apresentação do referido programa
uma vez que abandonei toda e qualquer actividade naquela empresa no início do
segundo trimestre de 2003»,afirma Branquinho no texto enviado ao PÚBLICO.
Várias
fontes referem, porém, que o empresário continuou a ter uma forte ligação à
sociedade, a qual era dirigida por um amigo e pela então mulher quando cessou
as suas actividades, já afundada em dívidas, há cerca de três anos - altura em
que Agostinho Branquinho e a mulher foram viver para o Brasil.
Susana
Viseu, a amiga adjunta de Miguel Relvas que era uma das responsáveis pelo
Foral na Secretaria de Estado e que fez parte do júri do concurso, confirma
também que Branquinho participou em várias reuniões na Secretaria de Estado
após o início da campanha. «Nem sabia que ele tinha vendido a empresa», afirma.
O
agora secretário de Estado não diz a quem é que vendeu as acções da NTM após ganhar
o concurso do Foral, nem explica a nomeação do seu amigo Joaquim Teixeira para
a presidência da empresa, cinco anos depois. Aguiar-Branco também não.
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