Subir Lall
recusa a ideia de estar a pressionar o Tribunal Constitucional que está, diz, «a
fazer o seu trabalho». A sua preocupação é que, perante decisões adversas
como a de quinta-feira, o Governo consiga responder adequadamente. Em relação
ao chumbo das pensões, refere apenas que não há margem para rever a meta de
défice e que não foi discutido um plano B.
P Quais
são os principais riscos para o crescimento que se está a verificar?
R Um dos mais importantes é quão forte será
a recuperação da zona euro e também nos EUA e na Ásia. Outro é o impacto da
consolidação orçamental. Há também um outro risco, doméstico, relacionado com
a desalavancagem no sector privado.
P Não
referiu o risco constitucional …
R Houve algumas decisões contrárias e as
autoridades apresentaram medidas para compensar os seus efeitos. O nosso foco
é nos objetivos de défice e divida. As medidas que acordamos são as que, na
nossa perspectiva, atingem esses objetivos de forma sustentada e com o menor
impacto no crescimento e emprego. Se algumas forem declaradas
inconstitucionais, o facto de o Governo estar comprometido com as metas
significa que deve preparar alternativas.
P Discutiram
alternativas?
R Não. O nosso foco é na meta de défice. Se
for necessário esperamos que nos submetam uma proposta que nós analisaremos.
P O chumbo esta semana é uma ameaça para o défice de 2014?
R Acordámos com o Governo que serão tomadas
medidas alternativas de alta qualidade para atingir a meta orçamental. Caso
contrário, não podemos completar a décima avaliação.
P O que
é melhor cortes na despesa ou aumento de Impostos?
R Cabe ao Governo decidir. Como princípio
geral, acreditamos que reduções duradouras na despesa com base em reformas
estruturais são melhores que subidas de impostos.
P Esta
e outras decisões desfavoráveis do TC podem comprometer o regresso aos
mercados?
R Há risco para o regresso aos mercados se o
Governo for visto como incapaz de cumprir a meta de défice cm 2014.
P O
Governo está preparado para tomar as medidas?
R Comprometeu-se connosco e com a meta de défice.
R Comprometeu-se connosco e com a meta de défice.
P A
flexibilização da meta de défice não é uma hipótese?
R Não
P A pressão sobre o TC chocou muita gente. Não é dizer aos juízes para
não fazerem o seu trabalho?
R Não. É injusto. Não queremos dizer a
nenhum juiz ao tribunal como fazer o seu trabalho. O que queremos assegurar é
que os objectivos económicos do programa são atingidos. Tendo em conta que há
medidas que podem ser declaradas inconstitucionais, a questão é saber como
responder. É totalmente diferente de dizer que o tribunal deve ou não fazer
alguma coisa. Isso nunca fazemos. Neste assunto, seguimos o que o Governo nos
diz que é provável ser aceite. Mas no final a decisão cabe sempre ao tribunal.
E eles estão a fazer o seu trabalho, compreendemos e respeitamos isso. Não é
uma especificidade deste país. O primado da lei nunca deve ser subestimado.
P Conhece
outros países onde o FMI actuou. A Constituição portuguesa é mais rígida do
que outras?
R Não sei. Uma coisa é a lei e outra é a
interpretação da lei.
P Quando
diz que Portugal ainda necessita de reformas está a pensar em reduzir salários
no privado?
R A questão em que estamos interessados é
na flexibilidade do mercado de trabalho. Não significa necessariamente
flexibilizar o salário mínimo.
P Considera
adequado o atual salário mínimo nacional (SMN)?
R Não viemos cá para discutir reduções do
SMN. Que fique claro. O que nos interessa é que há já flexibilidade no mercado
e que as pessoas sejam pagas de acordo com a produtividade.
P Tendo
em conta o desemprego não parece haver grandes dificuldades em despedir...
R Não. Mas devemos perguntar-nos qual seria
o desemprego se houvesse mais flexibilidade. O desemprego é mau. A questão não
é tanto despedir para as empresas se ajustarem, mas alterar os salários para
refletir a produtividade.
P Mais
flexibilidade pode passar por novos cortes nas indemnizações por despedimento?
R Estamos a olhar para todas as questões em grande
detalhe. Muito já foi feito mas muito pode ainda ser feito.
P Na
mesma linha de políticas?
R Sim. Foi um bom começo,
P O
Governo insiste que já foi feito o suficiente. Concorda?
R Não.
P O
FMI insiste na reforma do mercado de trabalho como uma forma de estimular as
exportações. Mas as exportações até surpreenderam. Talvez já tenha sido feito
o suficiente.
R Talvez... [enfatiza a palavra}. Mas
deixe-me dizer porque não concordo. O que estamos a ver é uma melhoria nas
exportações e Portugal tem ganho quota de mercado. Mas se olharmos para as
importações, estão a subir. Para as exportações serem um motor do crescimento é
necessário que as exportações líquidas (descontadas das importações) continuem
elevadas, e estão a diminuir. Até pode ter havido ganhos de competitividade,
mas há que manter o ritmo de crescimento das exportações superior ao das
importações, e isso não se verifica agora.
P Não
está certo que o ritmo de exportações seja sustentável?
R Exato.
P Foi
a procura interna um dos principais motores do crescimento no 2º e 3º
trimestres.
R As exportações cresceram, e não queria
minimizar isso, mas o facto é que a procura interna está também a recuperar. Se
olharmos o mercado de trabalho, muita da recuperação está em sectores
orientados para a procura interna.
P Isso
são boas ou más notícias?
R Crescimento é bom. Mas na perspetiva da
sustentabilidade, preferiria que o crescimento viesse dos sectores
transacionáveis e virados para o exterior,
P Mas
crescimento com base na procura interna é má notícia?
R Não. São boas notícias em termos de
desempenho económico de curto prazo. É importante para sinalizar a viragem,
mas não é suficiente a prazo.
P Não
será uma má notícia porque contraria os pianos do FMI?
R Não. Nós não temos planos (risos).
Estamos contentes com este crescimento, mas precisamos ter certeza que a
transformação da economia acontece.
P Emigraram
104 mil pessoas em 2012, muitas jovens e qualificadas. Como é que um país pode
prosperar se perde parte das gerações novas e qualificadas?
R Excelente questão. Temos que fazer tudo
para assegurar que este é um país de optimísmo para as gerações mais novas e
gerações seguintes. Temos que garantir que os emigrantes voltam, criar incentivos
para isso. Por isso não podemos voltar para onde estávamos antes.
P Salários
baixos não são incentivo.
R Não. Mas não se criam salários por
decreto. Criam-se salários altos aumentando o potencial de crescimento da
economia. No mercado de trabalho é importante separar oferta e procura. Estamos
interessados em reformas do lado da oferta.
P É
possível um crescimento sustentado sem reformas profundas na Europa?
R Precisamos de ambas: reformas aqui e na
Europa.
Mercados querem acordo
Subir Lall defende que será vantajoso para
Portugal que, no plano político, «exista um entendimento comum sobre onde é
preciso chegar». «Os mercados ficariam muito confortáveis se houvesse um
acordo, pelo menos, sobre os objetivos de um programa de transformação da
economia», diz, admitindo que, por enquanto, esse acordo «é difícil de
descortinar no debate público». O entendimento de base entre os grandes
partidos deve visar, segundo o responsável do FMI, dois grandes desígnios — «estabilizar
a economia» e «lançar os alicerces para a transformação da economia» — e terá
de partir do reconhecimento de que, mesmo depois da saída da troika, «não será
possível voltar às coisas como das eram antes de 2011.». E pela frente há três
desafios: «Mais crescimento, sustentabilidade externa e ter uma dívida pública
sustentável». Das conversas com o Governo e PS, Lall nota que «ambos concordam
com os objetivos de médio prazo e isso é um bom começo.»
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